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Da sua saúde aos esportes que você pratica: o que seus ouvidos revelam sobre você

As partes externas e visíveis dos nossos ouvidos são mais do que decorativas; suas funções vão desde a transmissão de ondas sonoras até a excitação sexual

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Dan Baumgardt
The Conversation * | BBC News Brasil

Uma orelha é como um iceberg: grande parte dela está fora da nossa vista. A única parte visível é o átrio, uma estrutura em forma de concha feita de cartilagem flexível e coberta por pele.

Sua principal função é atuar como uma trombeta, filtrando e canalizando as ondas sonoras para o ouvido médio e depois para o ouvido interno, onde se tornam nosso sentido de audição.

Um exame médico de ouvido geralmente envolve uma inspeção do canal usando um instrumento chamado otoscópio. Isso geralmente é feito para investigar problemas auditivos mais comuns: uma infecção ou obstrução por excesso de cera.

Charlize Theron em foto de perfil durante um evento
A atriz Charlize Theron tem os lóbulos das orelhas livres - Getty Images

Mas o pavilhão auricular, também conhecido como ouvido externo, também pode contar histórias sobre sua saúde, características familiares e até mesmo se você pratica esportes de alto contato.

O formato de cada orelha é tão único quanto uma impressão digital e cada parte tem um nome.

A parte carnuda e pendente na parte inferior é o lóbulo da orelha. A parte superior dobrada, que se curva ao longo da borda da orelha, é a hélice (batizada por conta de seu formato) e as duas áreas proeminentes próximas ao canal são o tragus e o antitragus.

A palavra "tragus" é derivada do grego e significa cabra. Isso ocorre porque o tragus costuma ser coberto de pelos, o que confere a ele uma aparência semelhante ao queixo de uma cabra.

Comprove mesmo: você pode não ter percebido que havia pelos ali.

Médico usando um otoscópio para examinar ouvido de paciente
Os médicos podem olhar dentro do nosso ouvido com um otoscópio - Getty Images

A forma e a genética por trás dela

Os lóbulos das orelhas parecem diferentes do resto dela. Eles não têm cartilagem, por isso parecem macios e moles, em vez de firmes e flexíveis.

Mas a aparência do lóbulo da sua orelha pode variar dependendo dos seus genes: eles são livres (com um glóbulo pendurado) ou presos (grudados na cabeça).

Inicialmente, acreditava-se que o alelo (uma forma de gene) que codifica os lóbulos livres era dominante, o que significa que você só precisa ter uma cópia do gene, seja da sua mãe ou do seu pai. Os lóbulos grudados eram considerados provenientes de alelos recessivos, o que significa que tinham que ser herdados de ambos os pais. Isso tornava os lóbulos livres mais comuns.

Mas agora sabemos que não é tão simples. Existe um espectro entre lobos livres e colados, codificados por muitos genes diferentes.

Dê uma olhada em seus próprios lóbulos, nos das pessoas com quem você mora e nos de algumas pessoas famosas. Eles variam em tamanho e forma. E temos de tudo, desde os lóbulos soltos de Charlize Theron até os lóbulos grudados de Gwyneth Paltrow.

Além disso, usar brincos pesados pode alongar os lóbulos e também mudar sua aparência.

Os lóbulos das orelhas são ricos em fibras nervosas sensoriais, o que lhes confere a reputação de serem uma zona erógena, sensível ao toque, à respiração e às mordidas leves.

Doenças: gota e tofos

A gota está aumentando. Não é apenas uma doença da aristocracia georgiana, é uma condição sistêmica que pode afetar as articulações, o coração, os rins e até os ouvidos.

Ela é causada por níveis elevados de ácido úrico na corrente sanguínea, que se transformam em cristais. Se elas se acumularem nas articulações, podem inflamá-las e corroê-las, causando inchaço e dor.

O ácido úrico elevado também está associado a níveis mais altos de colesterol "ruim" e doenças cardiovasculares, como hipertensão e acidente vascular cerebral.

Ocasionalmente, podem formar-se cristais de ácido úrico sob a pele. Eles podem aparecer como pequenos caroços chamados tofos, que geralmente se formam no tecido ao redor das articulações e nos ouvidos.

Os tofos são firmes e parecem seixos, daí o seu nome (o singular tofo significa pedra em latim). Se os tofos romperem a pele ou forem removidos cirurgicamente, eles geralmente parecem farináceos.

Os tofos geralmente se formam durante longos períodos de tempo e estão associados apenas à gota.

O jogador profissional de rugby Sam Talakai sofreu sangramento nas orelhas de couve-flor em 2018
O jogador profissional de rugby Sam Talakai sofreu sangramento nas orelhas de couve-flor em 2018 - Getty Images

Esportes e orelha de couve-flor

Projetando-se nas laterais de nossas cabeças, em vários graus de protuberância, nossas orelhas são vulneráveis a danos. Os brincos podem rompê-la, se ficarem presos. As orelhas costumam ficar danificadas durante lutas e esportes.

O boxeador Mike Tyson chegou a arrancar um pedaço da orelha do adversário Evander Holyfield durante uma luta, por exemplo.

Uma das condições traumáticas mais inconfundíveis é a orelha de couve-flor, também conhecida como orelha de lutador ou orelha de boxeador. Seu nome médico é hematoma subpericondral, termo técnico para descrever o acúmulo de sangue ao redor da cartilagem da orelha como resultado de dano mecânico, como um golpe direto na orelha.

O problema é mais sério do que parece. Danos aos vasos e aumento da pressão arterial podem privar a cartilagem de oxigênio, causando sua degeneração. A resposta do corpo é produzir uma massa protuberante de tecido conjuntivo —formando uma orelha de "couve-flor".

As orelhas de couve-flor podem ser prevenidas evitando-se os esportes mais associados à doença, como rugby, luta livre e artes marciais.

Para quem gosta de esportes de contato, uma touca pode ajudar a proteger os ouvidos.

Se ocorrer um hematoma, é importante tratá-lo para proteger a cartilagem de danos.

As partes externas e visíveis dos nossos ouvidos, portanto, são mais do que decorativas. Suas funções vão desde a transmissão de ondas sonoras até a excitação sexual. E as mudanças na aparência podem refletir os esportes que gostamos de praticar e o estilo de joias que preferimos.

* Dan Baumgardt é professor sênior da Escola de Fisiologia, Farmacologia e Neurociência da Universidade de Bristol.

* Este artigo foi publicado originalmente no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.

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