Médico e repórter, Julio Abramczyk faz 60 anos de jornalismo na Folha

Doutor Julio fundou a Associação Brasileira de Jornalismo Científico e ganhou inúmeros prêmios na área

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Eliane Comoli

Em janeiro de 1960 o então estudante do segundo ano de medicina Julio Abramczyk assinou contrato com a Folha para escrever sobre assuntos ligados a ciência e saúde no jornal. Aos 87 anos, doutor Julio, como ficou conhecido pela imprensa, completa seis décadas de trabalho ininterrupto no jornal.

A imersão no jornalismo começou no ano anterior, mas em caráter temporário. Doutor Julio tinha acabado de ingressar no curso de medicina, em 1959, quando ficou sabendo pelo amigo e editor Hugo Penteado Teixeira que a Folha da Manhã procurava um redator médico para a então seção de biologia e medicina. “A Folha não ficou muito empolgada porque eu era um estudante, mas me aceitou por um período de experiência de três meses”, disse em entrevista no seu apartamento, em São Paulo. No dia 1º de janeiro de 1960, foi, enfim, efetivado.

Anos antes, doutor Julio havia trabalhado como revisor na redação do extinto jornal O Tempo, considerado por ele um marco no jornalismo brasileiro. Seu interesse por ciência começou ainda na adolescência, quando lia jornais e livros publicados por Romulo Argentière, um físico brasileiro com formação na França.

O colunista de saúde da Folha Julio Abramczyk, em sua residência - Gabriel Cabral/Folhapress

Formado em medicina em 1966 pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), especializou-se em cardiologia e trabalhou como clínico no Hospital Santa Catarina em SP durante 47 anos, onde também foi diretor clínico. Também fundou a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo em 1976. 

Semanalmente, doutor Julio escreve do escritório de seu apartamento em Higienópolis para sua coluna publicada aos sábados na Folha. Neste ano, tratou de temas como anemia, hipertensão em crianças, dor crônica e violência doméstica.

Os assuntos dos textos ele encontra em buscas diárias que realiza sobretudo no SciELO, uma plataforma online que reúne cerca de 300 periódicos científicos nacionais de todas as áreas do conhecimento. “Como se dá o processo de escrita? Até hoje eu não sei. As palavras surgem e fluem, e o texto está pronto”, resume.

A medicina, diz, foi sua grande aliada no jornalismo, abrindo portas para entrevistas e congressos. Em 60 anos de Folha, cobriu congressos no mundo todo nas mais diversas áreas e publicou cerca de 3.000 textos.

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Registro profissional de Julio Abramczyk, feito em 1º de janeiro de 1960 Folhapress - Folhapress

Na década de 1970, relatou fatos de importância histórica da medicina e ciência como a aplicação da vacina Sabin e a erradicação da varíola e do sarampo no Brasil. Escreveu também sobre o emprego de tecnologias como o ultrassom e a ecocardiografia e fez uma cobertura esclarecedora sobre a doença e a morte de Tancredo Neves em 1985, quando as informações sobre o estado de saúde do presidente eleito na redemocratização eram desencontradas. 

Questionado sobre suas matérias de maior impacto no jornal, ele relembra textos sobre as arboviroses na Amazônia. A cobertura lhe rendeu o Prêmio Governo do Estado de jornalismo em 1961. Em 1987, recebeu o Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, o principal do país na área. 

Julio Abramczyk também venceu em 1970 o Prêmio Esso de Jornalismo, na categoria Informação Científica, por seu texto sobre a primeira cirurgia cardíaca de ponte de safena no Brasil.

Em 1975, publicou uma reportagem sobre uma “cirurgia que devolve a visão ao cego”. Era o transplante de córnea. “Era o início das fotos coloridas, mas optamos por publicar a imagem em preto e branco, sem o sangue, porque era menos agressiva”, diz.

Julio Abramczyk também teve um papel importante na organização do jornalismo científico como especialidade no Brasil, nas Américas e também Península Ibérica. Foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC) em 1977 e presidente da entidade por anos. Foi durante a sua gestão que a ABJC lançou o Caderno de Jornalismo Científico. 

Também organizou o 1º Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico em São Paulo juntamente do 4º Congresso Ibero-Americano em 1982, e foi eleito presidente da Associação Ibero-Americana de Jornalismo Científico, função que exerceu até 1990.

Sensibilizar os meios de comunicação para ciência sempre foi uma preocupação do médico jornalista. “Hoje, as pessoas que acreditam que a Terra é plana são as mesmas da campanha antivacinação. Deve-se provar que estão erradas através de pequenas notas explicativas.” 

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