Falsas teorias sobre a varíola dos macacos circulam na internet

Especialistas desmentem boatos como o de que Espanha sabia do surto

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Paris | AFP

Identificado em humanos pela primeira vez em 1970, na República Democrática do Congo, o vírus da varíola dos macacos era considerado de contágio difícil entre humanos. No entanto, desde o início do ano um surto, principalmente na Europa, tem deixado a OMS (Organização Mundial da Saúde) em alerta. Até a tarde desta segunda-feira (6), a entidade já havia confirmado 1.009 casos, com outros 70 suspeitos —sete deles estão sendo investigados no Brasil.

Os cientistas ainda estão estudando as características da doença, mas, como na pandemia de Covid-19, rumores rondam a internet. As falsas teorias dizem, por exemplo, que a varíola dos macacos seria uma doença "causada por vacinas" e que as autoridades espanholas estariam cientes do problema antes que ela surgisse.

Confira as respostas de especialistas a esta e outras falsas teorias.

Imagem de vírus da varíola dos macacos feita com micróscópio em 2004 por agência do governo alemão - Freya Kaulbars/RKI Robert Koch Institute/AFP

A varíola do macaco e a vacina AstraZeneca

Publicações compartilhadas nas redes sociais desde maio sugerem que a varíola dos macacos estaria relacionada à vacina antiCovid produzida pela Oxford/AstraZeneca, já que entre seus componentes há um adenovírus de chimpanzé. A afirmação é uma falácia, segundo especialistas.

Esse adenovírus foi modificado geneticamente para que não possa se reproduzir no corpo humano e, além disso, pertence a uma família diferente da do vírus causador da varíola dos macacos.

Especialistas entrevistados pela AFP insistem que não há relação entre os dois patógenos.

A doença recebeu este nome ("monkeypox") porque foi detectada pela primeira vez em macacos, em 1958.
"No entanto, os macacos não são os hospedeiros. O mais provável é que na África, continente de origem do vírus, suas fontes sejam os roedores", disse à AFP o professor Flávio Guimarães da Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

O adenovírus é utilizado na vacina como vetor para transportar instruções genéticas até as células do vacinado, que passa a produzir sua própria resposta imunitária contra a Covid.

Como as demais vacinas de "vetor viral", o adenovírus é incapaz de contaminar o organismo do vacinado.

A varíola na Espanha

Umq mensagem no Telegram questionava por que o governo espanhol "comprou" duas milhões de doses da vacina contra a varíola em 2019. Segundo a publicação, essas vacinas comprovam que as autoridades sabiam que os casos viriam a aparecer.

Os especialistas explicam que a doença foi erradicada, mas seu vírus não. Dizem, também, ser normal que um país como a Espanha tenha reservas estratégicas do imunizante.

O médico Jaime Jesús Pérez, porta-voz da Associação Espanhola de Vacinologia (AEV), afirmou à AFP que "a varíola é uma doença erradicada, mas seu vírus ainda existe, tanto nos Estados Unidos como na Rússia, em laboratórios de segurança máxima".

A doença é considerada erradicada desde 1979 graças à vacinação. Desde 1984, não se imuniza a população geral.

O diagnóstico

Outras publicações em redes sociais ironizaram o supostamente "rápido" desenvolvimento de testes PCR para detectar o vírus da varíola dos macacos e advertiram para resultados "falsos positivos, como ocorreu com a Covid".

A Organização Mundial da Saúde (OMS) explica que a forma mais adequada para diagnosticar a doença, além da clínica, é um teste PCR. Este é o protocolo há anos, muito antes da pandemia de Covid-19.

O teste PCR "é baseado no desenvolvimento de moléculas que apenas reconhecem o sequenciamento genético desse micro-organismo", disse à AFP Factual Álvaro Fajardo, doutor em ciências biológicas e pesquisador do Laboratório de Virologia Molecular (LVM) do centro de pesquisas nucleares do Uruguai.

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