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Brasil bate recorde histórico de dengue com mais de 1,8 milhão de casos em 78 dias

Maior número de registros era de 2015, quando o país enfrentou epidemia da doença

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São Paulo

O Brasil chegou a 1.889.206 casos prováveis de dengue nesta segunda-feira (18), batendo o recorde histórico de registros em 78 dias. No mesmo período de 2023, o país havia registrado 400.197 casos. Na comparação entre os dois anos, o aumento foi de 372%.

Em 2024, o intervalo com o maior registro de novas infecções foi de 18 de fevereiro a 2 de março —referente às semanas epidemiológicas 8 e 9—, com 585.240.

No ano passado, o maior número de confirmações da doença ocorreu de 5 a 18 de março —nas semanas 10 e 11—, com 138.763.

Agente de saúde aplica larvicida em focos de dengue em São Paulo - Amanda Perobelli/Reuters

Os números são do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde, plataforma que organiza dados da doença no Brasil.

"Essa semana que nós estamos vivendo agora, principalmente a semana que passou e as próximas duas provavelmente serão um pico no número de casos", afirma o infectologista Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, no interior paulista.

O registro é o maior desde o ano 2000, início da série histórica. É 13,8% mais alto do que o registrado em todo o ano de 2023 (1.658.816) e 11,8% maior se comparado a 2015 (1.688.688), quando o país enfrentou uma epidemia e teve o maior número de casos.

O Brasil nunca viveu uma epidemia tão grave. Agora, vai ser três vezes pior do que a epidemia anterior, seja em número de casos notificados, seja em número de óbitos", comenta Barbosa. Segundo o especialista é uma opinião baseada nos cenários de 2015, 2022 e 2023.

"A dengue é um assunto que, historicamente, não tem a percepção de risco necessária pela população brasileira, haja visto que 80%, dos criadouros do mosquito [Aedes aegypti] estão justamente no domicílio. Há quantos anos que a gente ouve falar de prevenção de dengue? Há 40 anos", diz Barbosa.

"A gente tem a informação, porém as pessoas não transformam a informação numa mudança de hábito. Então, por que acontece isso? Baixa percepção de risco —as pessoas têm uma falsa noção de que a dengue é uma doença leve e não vai trazer tantas consequências. Na verdade, a dengue mata e os números falam isso. Esse ano será, com toda certeza, o ano com maior óbitos por dengue no Brasil. Segundo, falta de educação em saúde —uso de álcool e direção, alimentação inadequada, falta de atividade física— essa não transformação de bons hábitos de rotina traz problema

Em fevereiro deste ano, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, revelou que há uma projeção de 4,2 milhões de casos de dengue no país em 2024.

O Brasil totaliza 561 mortos pela doença, equivalente a 51,2% do total de óbitos registrados em 2023 (1.094). O Ministério da Saúde investiga outras 1.020 mortes.

"Se você for ver, os anos de 2022 e 2023 foram os que tiveram, agora, em termos absolutos, os maiores números de óbitos. 2022, bateu o recorde histórico e 2023 bateu 2022. Estamos com uma perspectiva de óbitos horrível, de 3.000 a 3.500", explica o infectologista.

O coeficiente de incidência do país está em 930,4 casos por 100 mil habitantes. Quando o índice ultrapassa mais de 300 casos por 100 mil habitantes é considerado epidemia, segundo padrões da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Até agora, 14 unidades da federação estão em situação epidêmica. São elas Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Acre, Bahia, Amapá, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Pelo menos nove outros estados já decretaram emergência em saúde em decorrência da dengue, como São Paulo, Acre, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Amapá, além do Distrito Federal.

A declaração permite o emprego urgente de medidas de prevenção e contenção de riscos para epidemias, surtos, doenças emergentes e desastres, conforme definição do Ministério da Saúde. Também facilita nova alocação de recursos para o combate à doença.

"O governo federal tem feito ações assertivas, mas a comunicação está muito ruim, e isso chama uma grande discussão sobre o por quê o Ministério da Saúde não declara a situação atual como uma emergência de saúde pública de interesse nacional. Vários municípios poderiam receber recursos adicionais. Parece que é uma questão política a de não admitir que estamos tendo uma situação de emergência de saúde pública, porque o resto já está sendo feito", finaliza o especialista.

Nesta segunda-feira (12), a Prefeitura de São Paulo também decretou estado de emergência por epidemia de dengue na capital paulista. A cidade registrou, até quarta-feira (13), 49.721 casos confirmados, número que ultrapassa 414,1 casos por 100 mil habitantes, segundo dados divulgados no boletim da administração municipal no mesmo dia.

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