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Fatores de risco associados à perda auditiva na velhice diferem entre homens e mulheres, diz estudo

Homens são mais afetados por tabagismo e baixo peso, enquanto mulheres devem levar em conta obesidade e menarca tardia

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Curitiba

Aproximadamente 157 milhões de pessoas, correspondendo a 20,3% da população mundial, sofreram de perda auditiva em 2019. E espera-se que essa prevalência aumente à medida em que a população envelhece.

Até 2050, projeções indicam que cerca de 60% dos idosos irão apresentar algum tipo de problema auditivo
Até 2050, projeções indicam que cerca de 60% dos idosos irão apresentar algum tipo de problema auditivo - Agência Einstein

O primeiro Relatório Mundial sobre Audição, lançado em 2021 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), estima que cerca de 2,5 bilhões de pessoas terão algum grau de perda auditiva em 2050.

A perda de audição causa dificuldades na comunicação verbal, o que afeta negativamente vários aspectos da vida de um indivíduo. Diminuição da função cognitiva, solidão, depressão e altas taxas de desemprego são observadas nos pacientes.

O fator de risco mais comum da perda auditiva é o envelhecimento. Conhecida como presbiacusia, ela é caracterizada por uma perda progressiva, lenta, persistente, bilateral e simétrica de alta frequência. A deterioração auditiva pode começar em indivíduos em seus 20 e 30 anos, embora geralmente ocorra em pessoas com mais de 50.

Apesar de a idade ser um precedente primordial, uma nova pesquisa, publicada no começo de março pela revista científica PLoS One, revela que homens e mulheres têm fatores diferentes para a presbiacusia.

No estudo, foram coletadas informações clínicas, incluindo idade, sexo, consumo de álcool e tabagismo. Para participantes do sexo feminino, também foi investigado histórico médico, como idade na menarca, história de parto, idade na menopausa e uso de terapia de reposição hormonal.

Dos 2.349 participantes, 1.104 eram do sexo masculino (47%) e 1.245 do sexo feminino (53%), com idade média de 60 a 94 anos. Como resultado, confirmou-se que a prevalência da presbiacusia é menor em mulheres do que em homens, e que a idade de início da perda é mais tardia no sexo feminino.

Para o otorrinolaringologista e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Mauricio Kurc, aqui entram muito mais fatores ambientais do que genéticos.

Isso porque, historicamente, homens tendem a ocupar cargos de maior ruído —músicos, motoristas, pilotos e trabalhadores da construção civil são algumas das profissões afetadas com os elevados decibéis— além de homens cuidarem menos de questões de saúde do que as mulheres.

Por fim, a pesquisa resultou em uma descoberta de fatores associados específicos para a perda auditiva relacionada à idade em homens, que incluem baixo peso e tabagismo. Já para as mulheres, obesidade, baixo peso e menarca tardia podem ter um papel importante.

Segundo Jamal Azzam, especialista em Otorrinolaringologia pelo HC (Hospital das Clínicas) da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), como o próprio estudo cita, não é seguro fazer relação direta de causa e efeito dos fatores em relação às perdas auditivas.

"Mas, chama muito a atenção as questões que devem ser acompanhadas, os fatores metabólicos estão envolvidos diretamente, tanto em homens quanto mulheres", explica.

Causas da perda de audição na velhice

As perdas auditivas relacionadas à idade são da própria natureza do ser humano. Isso ocorre por uma degeneração natural das células da cóclea, que é o local onde se transformam ondas sonoras mecânicas em ondas elétricas que vão estimular a área cerebral auditiva.

Entretanto, diversos fatores podem piorar e acelerar o processo, cita Azzam, sendo um dos principais o excesso de ruídos recreacionais, como uso de fones de ouvidos e baladas e festas com música alta.

Na coleta de dados do estudo, os fatores associados à perda auditiva como histórico de exposição a drogas ototóxicas (aquelas cujo uso contínuo é capaz de lesar as estruturas do ouvido, causando prejuízos em funções auditivas e também no equilíbrio), histórico familiar de perda auditiva e histórico de traumatismo craniano e doenças infecciosas não foram avaliados. Porém, os especialistas afirmam que esses fatores, sobretudo a genética, são fundamentais para associações de presbiacusia.

Tratamento e prevenção

Não existe um tratamento que cure a perda de audição nos idosos. Porém, já existem várias opções para se atenuar e compensar a perda auditiva, como o uso de aparelhos auditivos e implantes cocleares.

Diante da perda auditiva, de certa forma esperada com o passar da idade, a prevenção é o melhor remédio: o médico do HC sugere uma visita a um otorrinolaringologista uma vez a cada dois anos, a partir dos 50 anos de idade, e uma vez por ano a partir dos 60.

"As perdas auditivas podem diminuir estímulos cerebrais, sendo inclusive causa de demência precoce. É importante que a população esteja atenta a todos os fatores, pois a longevidade é cada vez maior e, se a pessoa chegar na idade avançada já com fatores de piora, provavelmente a qualidade de vida auditiva será inferior", esclarece Azzam.


Fatores que ajudam a preservar a audição

  • Evitar ruídos excessivos e por tempo prolongado (tanto ocupacionais quanto recreacionais);
  • Alimentação balanceada e rica em vitaminas;
  • Análise detalhada de eventuais medicações ototóxicas;
  • Check-up anual de audição a partir dos 60 anos;
  • Tratamento imediato a partir de quaisquer sintomas.
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