De janeiro a 27 de março, a cidade de São Paulo registrou 33 mortes por dengue . Só na última semana, o salto foi de 19 para 33 — aumento de 73,6%. Outros 80 óbitos no município estão em investigação.
As informações são do boletim epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde, divulgado na manhã desta segunda-feira (1º).
Até o dia 20, a capital paulista contabilizava 19 mortes. No ano inteiro de 2023, dez pessoas morreram em decorrência da doença.
O número de casos aumentou 2.183%, se comparado o mesmo intervalo de 2023 —foi de 3.905 para 89.153 neste ano. É o maior número desde 2015 (43.055), quando o país viveu uma epidemia com muitos casos e mortes.
A epidemia de dengue cresce na cidade de São Paulo, que já tem incidência de 742,6 casos por 100 mil habitantes. A prefeitura decretou estado de emergência pela doença no dia 18 de março.
A piora da situação também pode ser percebida em cada um dos 96 distritos administrativos da cidade de São Paulo, —76 deles (79,1%) têm o coeficiente de incidência acima de 300. O coeficiente de incidência é um critério da OMS (Organização Mundial de Saúde) e do Ministério da Saúde para classificar uma região como epidêmica quando há mais de 300 casos para 100 mil habitantes.
O Jaguara, bairro na zona oeste de São Paulo, tem a incidência mais alta do município: 6.852,1. Em 2023, fechou o ano com 656,6. Nem em 2015, quando o país enfrentou uma epidemia de dengue e a capital paulista contabilizou 103.186 casos, chegou a um patamar tão alto. Na época, alcançou 1.032,8.
Em segundo lugar vem São Miguel, na zona leste, com 2.672,5. São Domingos, na zona norte, é o terceiro distrito onde a doença mais se espalha. Lá já são 2.606,6 casos por 100 mil habitantes. Itaquera (2.131,8) e Jaçanã (2.073,4), nas regiões leste e norte, respectivamente, também estão com incidências expressivas.
Também estão no ranking de distritos onde a doença é mais transmitida Vila Curuçá (1.648,6), na zona leste, Anhanguera (1.549,4), na zona norte, Guaianases (1.476,3), na região leste, Vila Leopoldina (1.471,1), na oeste, e Lajeado (1.407,0), na leste.
A Secretaria Municipal da Saúde intensificou as ações de combate à dengue, de domingo a domingo, e com o aumento em seis vezes do número de agentes nas ruas —passou de 2 mil para 12 mil. Somente neste ano, foram realizadas mais de 4 milhões de ações de combate ao Aedes aegypti na capital, como visitas casa a casa, vistorias a imóveis, ações de bloqueios de criadouros e nebulizações.
A pasta também abriu tendas para atendimento a casos suspeitos de dengue e ampliou o horário das AMAs (Assistência Médica Ambulatorial) em três horas. O funcionamento é até 22h.
As chuvas de abril poderão ser acima da média em algumas regiões do país, o que inclui o Sudeste.
Segundo Julio Croda, infectologista, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, o pico da dengue será entre o final de abril e início de maio. Até lá é esperado que tenhamos duas condições climáticas importantes para a multiplicação do vetor: chuvas frequentes —o que favorece o acúmulo de água parada— e calor.
"Quando olhamos as semanas epidemiológicas, só teve um ano que o pico foi na semana 8 e 9 [fim de fevereiro, início de março], que foi em 2016. Nos outros anos, esse pico se concentrou da semana 14 e chegando até a semana 20. Essa é a variação", explica Croda.
"Temos momentos diferentes em diferentes estados. Se pegar o gráfico do Rio, por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro parece que tem uma queda. Belo Horizonte também, enquanto São Paulo está em plena ascensão. Mas no contexto geral, a gente ainda não tem claramente, no Brasil como um todo, uma mudança de sazonalidade. Então, aguardamos que esses casos, no contexto geral, continuem aumentando até final de abril, o que é o esperado. E São Paulo está dentro do esperado", completa o infectologista.
Segundo o infectologista, a preocupação com a dengue a partir do final de maio, junho, julho e agosto dependerá do clima. "Sem a presença do El Niño, a temperatura tende a voltar o que era antes. Menos chuva e menor temperatura vão impactar na replicação do vetor".
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