Descrição de chapéu The New York Times

Kroos melhor do mundo? Nova estatística de futebol mostra isso

Volantes alemães desenvolvem cálculo para medir construção de jogadas

Victor Mather
Nova York | The New York Times

Um atleta que se sinta desvalorizado pode jogar de cara fechada, reclamar com a mídia ou disparar resmungos no Twitter. Ou pode inventar uma nova estatística que prove o seu valor.

Foi o que dois volantes fizeram, e agora sua invenção é o assunto do momento no mundo das estatísticas de futebol.

Stefan Reinartz e Jens Hegeler jogavam como volantes no Campeonato Alemão em 2015 quando criaram o indicador conhecido como "packing". As estatísticas rudimentares do futebol, como gols e assistências, tendem a destacar especialmente os atacantes e os meias, ou seja, os jogadores que marcam a maior parte dos gols e dão os passes para eles. Os soldados rasos do esporte, meios-campistas defensivos como Reinartz e Hegeler, muitas vezes dão início às jogadas ofensivas, mas raramente são reconhecidos estatisticamente.

Os dois arrazoaram que o que eles faziam melhor era carregar a bola e fazê-la passar pela primeira linha de jogadores adversários. É isso que o "packing" mede.

"Futebol é um jogo de placares baixos, e não é possível avaliar uma dúzia de jogadores com base em apenas três gols", disse Lukas Keppler, diretor administrativo da Impect, a companhia que agora acompanha o indicador criado pela dupla.

"Stefan não faz dribles espetaculares, mas seu passe é excelente, e isso não era analisado da maneira que ele gostaria. Passes verticais simples não são apreciados. Talvez agora exista um número que mostre que a pessoa que faz o passe é mais valiosa do que o jogador que dá um chute espetacular mas sem resultado".

A metodologia por trás do cálculo do "packing" é bem fácil de entender. Os jogadores essencialmente ganham um ponto por qualquer movimento –cruzamento, drible, passe longo– que faça com que a bola ultrapasse um ou mais defensores adversários. Se a jogada começa com cinco defensores entre a bola e o gol e termina com apenas dois, isso representa três pontos. O jogador que recebe o passe também ganha pontos.

Quem brilha mais, em termos de "packing"? O melhor jogador da temporada, e já há algum tempo, é o meio-campista Toni Kroos, do Real Madrid, que tira 79 oponentes da jogada por partida e cujo total às vezes chega aos 100 pontos. Um time normalmente deixa para trás 306 defensores adversários por partida, em média.

Toni Kroos passa por Steven Nzonzi durante jogo da Champions League
Toni Kroos passa por Steven Nzonzi durante jogo da Champions League - Oscar del Pozo - 19.set.18/AFP

Entre os recebedores de passes, o líder é Eden Hazard, do Chelsea, com 102 pontos por jogo.

Talvez mais incisivo do que simplesmente levar em conta o número total de "packing" seja concentrar o foco nos zagueiros deixados para trás, já que eles afinal são os últimos jogadores de linha com chance de deter um gol. Lionel Messi lidera quanto a isso, deixando 18 zagueiros para trás por jogo.

O método também ajuda a estabelecer comparações entre times que jogam em estilos muito diferentes. "O Bayern, o Paris Saint-Germain, o Barcelona têm muita posse de bola", disse Keppler. "Outros times contra-atacam e pressionam no campo adversário. O 'packing' mediria o valor do método geral de uma equipe".

Em quatro jogos desta temporada no Campeonato Inglês, o Liverpool deixou em média 57 jogadores para trás por partida, o melhor número da liga. Já os seus jogadores foram deixados para trás em média apenas 26 vezes, o que deixa uma margem líquida de 30 pontos em seu favor, de longe a melhor da liga. Abaixo dele no torneio em média líquida de defensores deixados para trás vêm o Manchester City (18) e o Bournemouth (15). Na posição mais baixa da tabela fica o West Ham, com menos 25.

E os times com bons números de "packing" tendem a ser bons times. "Se você tem a qualidade para construir um bom volume de jogo, vai perceber em base estatística que esses times são os mais bem-sucedidos", disse Keppler.

Na Copa do Mundo, nenhuma seleção deixou mais defensores para trás do que a da Bélgica, a surpresa das semifinais.

Ao longo dos últimos 12 meses, referências ao "packing" começaram a aparecer mais e mais em blogs e fóruns de mensagens de torcedores interessados em estatísticas. Nesse sentido, o indicador parece estar se tornando tão importante quanto o xC, ou expectativa de gols, a estatística avançada mais comentada nos últimos anos. Essa estatística tem por base o número de arremates, e por isso, uma vez mais, meio-campistas como Hegeler e Reinartz usualmente não são incluídos em suas medições.

Um motivo para criticar a nova estatística é que ela desconsidera os gols. Uma série de passes que leve a bola na direção do gol adversário, deixando diversos defensores para trás, seria um resultado ótimo em termos de "packing", mas pouco beneficiaria o time se o atacante em seguida perdesse a bola ou errasse o chute.

Hegeler hoje joga pelo Bristol City, na Inglaterra, e Reinartz deixou os gramados. Mas a empresa deles, a Impect, está prosperando, coletando e vendendo dados sobre "packing". Os clientes incluem a rede de TV alemã ARD e cerca de 15 clubes, a maioria dos quais alemães. A empresa recentemente fechou contrato com o Huddersfield Town, seu primeiro cliente na Inglaterra.

A empresa tem 65 operadores para recolher dados e agora acompanha os números de "packing" na Inglaterra, Espanha, Alemanha, França, Bélgica e Holanda. Planeja começar a acompanhar a Major League Soccer dos Estados Unidos na próxima temporada.

Isso deixa uma questão importante. Por que o nome da estatística é "packing" (empacotamento)? Keppler diz que o termo "defensores deixados para trás" soa tedioso. "Seria possível dizer que os defensores que ficaram para trás foram 'empacotados' e de alguma forma estão fora do jogo", explica.

Portanto, "packing" é o termo. Acostume-se a ouvi-lo.

Tradução de Paulo Migliacci

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