Descrição de chapéu The New York Times

Provocador, Iguodala tornou-se herói e líder no Golden State

Ala foi responsável pela cesta da vitória no jogo 2 das finais da NBA

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Marc Stein
Oakland (Califórnia) | The New York Times

Foi mais um momento clássico de Andre Iguodala em sua reencarnação como guru do Golden State Warriors nos playoffs - antes, durante e depois do arremesso matador de três pontos que ele converteu nos segundos finais do jogo do domingo.

A hesitação de Iguodala ao receber a bola era evidente, mesmo que estivesse sozinho na ala esquerda. Mas ele conseguiu que o arremesso caísse, ainda que a bola tenha girado pelo aro e que seu desempenho recente indicasse que ela sairia. De maneira igualmente inconfundível, ele tentou dizer, mais tarde, que não tinha realizado coisa alguma de importante.

"Fiquei feliz por Shaun", disse Iguodala, se referindo ao colega de equipe Shaun Livinsgton, que lhe passou a bola sem nem olhar na direção dele. "Ele fez a jogada certa. Foi só isso".

Andre Iguodala, do Golden State Warriors, comemora durante jogo dois das finais da NBA contra o Toronto Raptors, no Canadá.
Andre Iguodala, do Golden State Warriors, durante jogo dois das finais da NBA contra o Toronto Raptors, no Canadá. - Kyle Terada-3.jun.19/USA TODAY Sports

Mas é claro que não foi só isso. O arremesso que selou o resultado do jogo dois nas finais da NBA aconteceu depois de Iguodala ter errado 13 de suas últimas 14 tentativas de três pontos, e pode se tornar conhecido como seu lance mais decisivo no palco mais importante do basquete, desde que o Golden State vença a série contra o Toronto Raptors. Ou que Iguodala não o supere na próxima semana.

Em suas oito temporadas jogando pelo Philadelphia 76ers., ele só foi selecionado para o All-Star Game uma vez, e o melhor resultado do time foi uma temporada de 43 vitórias, quando Iguodala ainda era calouro e o time era liderado por Allen Iverson. No Warriors, os colegas já sabem que Iguodala costuma criticar suas jogadas como se fosse um treinador, nos treinos e nas sessões de vídeo, e que faz jogadas decisivas sempre que a ocasião as torna necessárias, nos jogos reais do time - sempre insistindo, mais tarde, que isso não é motivo para elogios.

Mas, em seu sexto ano jogando na região de San Francisco, enfim existe alguma coisa no currículo de Iguodala que o enche de orgulho (imaginem!). Quer vença, quer perca esta série, o primeiro livro dele, "The Sixth Man", escrito com Carvell Wallace, chega às livrarias em 25 de junho.

O que significa que em breve será possível descrever o tricampeão da NBA e especialista em defesa da seguinte maneira: Andre Iguodala, escritor.

"Soa bem", disse Iguodala, com um sorriso. "Soa bem".

As pessoas que acompanharam a história do Warriors em seus cinco anos de disputa de títulos talvez vejam Iguodala como candidato improvável a autor do primeiro livro, entre os 38 jogadores a passar pelo time no período. Afinal, o jogador é conhecido por seus choques com os jornalistas curiosos demais, e falou muitas vezes sobre seu desdém pelo que chama de "a máquina" - as múltiplas temporadas em que seu clube atraiu o maior escrutínio da mídia, na NBA.

"Isso pesa sobre você, depois de cinco temporadas", disse Iguodala, acrescentando que "não somos encarados como seres humanos. Essa é nossa benção e nossa maldição".

"O lado da benção é que vemos mais e mais gente falando sobre o jogo, o que gera mais renda", ele prossegue.

Iguodala é cuidadoso ao insistir em que "The Sixth Man" e suas 256 páginas não seja caracterizado como um livro de revelações. Ele vê o livro como jornada para decifrar "a fundação estabelecida para que meu cérebro funcione do jeito que funciona".

"É mais ou menos como uma terapia", disse Iguodala. "Você descobre muita coisa sobre você mesmo".

Talvez Iguodala necessitasse dos dois anos de trabalho que dedicou ao livro para reconstruir o percurso de sua juventude e de sua carreira, depois de funcionar por muito tempo, nas palavras do treinador Steve Kerr, como "único adulto do time". Iguodala, 35, é o cara que costuma dar conselhos e orientação aos colegas mais jovens. Mas vem pensando há muito tempo sobre parar, e deixou claro que pretende abandonar o esporte dentro de pouco tempo, mesmo que, como os Warriors esperam,  decida jogar a próxima temporada, completando um contrato de três anos e US$ 48 milhões.

"Tenho uma boa ideia de por quanto tempo mais pretendo continuar jogando", disse Iguodala. "Não vou falar a respeito, mas pretendo parar em breve. Eu poderia jogar mais quatro ou cinco anos. Mas não é o que vou fazer".

Esse é Andre. Declarações como essa são o motivo para que ele costume ser descrito como um cara do contra, um provocador, e até mesmo um cínico. Mas de dentro de seu time, só se ouve palavras de reverência.

"Andre é uma das figuras mais respeitadas da NBA", disse Bob Myers, presidente de operações de basquete do Golden State. "É respeitado como jogador, como colega de equipe, como intelectual, como uma espécie de pioneiro em termos do que ele vem fazendo fora das quadras. Ele é alguém que está sempre em busca, sempre aprendendo, e tem muita consciência social".

Myers foi escolhido por seus colegas como executivo do ano da NBA em 2017, depois de o Warriors conseguir contratar Kevin Durant, então jogador do Oklahoma City Thunder; ele já tinha ganho o mesmo prêmio em 2015, quando seu time venceu o primeiro dos três títulos que conquistou nas quatro últimas temporadas.

Sua primeira grande façanha como líder do Warriors no mercado aconteceu em 2013, quando organizou a contratação de Iguodala, que na época era agente livre. Para isso, ele precisou liberar dois veteranos (Jarrett Jack e Carl Landry) e persuadir o Utah Jazz a absorver os contratos de Richard Jefferson, Andris Biedrins e Brandon Rush, em uma troca que envolveu também ceder duas escolhas de primeira rodada e duas escolhas de segunda rodada no draft ao Utah Jazz.

 

Iguodala na época era representado por Rob Pelinka, hoje diretor de operações do Los Angeles Lakers. Myers alertou Iguodala e Pelinka em diversas ocasiões, durante a negociação, que tinha medo de o Golden State não ser capaz de abrir espaço em sua folha de pagamentos para absorver o novo contrato de Iguodala.

Myers, que foi agente antes de se tornar executivo, se sentiu compelido a aconselhá-los a aceitar outra das ofertas que o jogador tinha (de Dallas, Sacramento e Denver, o empregador mais recente de Iguodala), em lugar de perder dinheiro caso o Warriors não conseguisse liberar espaço para ele em sua folha.

"Ele nos escolheu mais do que nós o escolhemos", disse Myers sobre Iguodala. "Nós conversamos com ele, é claro, e o queríamos no time, mas a decisão de ficar conosco veio dele. Andre já tinha uma visão do que poderíamos ser talvez antes de nós acreditarmos nisso, e de como poderia se encaixar no time. Sempre atribuo crédito a Andre por acreditar em nós até antes que começássemos a acreditar em nós mesmos".

O casamento foi benéfico para as duas partes, é claro. Iguodala não tinha uma reputação de jogador decisivo, ao chegar a Oakland, mas seu trabalho como marcador implacável dos maiores atletas do basquete e suas contribuições inegáveis para a dinastia que começava a florescer parecem ter inspirado um debate robusto sobre sua inclusão no Hall da Fama do basquete, a cada série final que ele disputa, mesmo que apenas como coadjuvante.

Isso representa uma reversão dramática da situação que ele viveu em sua época no Philadelphia, quando Iguodala - como seu livro revela - era visto como "o atleta mais odiado da cidade", por não conseguido se tornar o líder do 76ers depois que Iverson deixou o time.

"É interessante, agora, porque, quando retorno a Philly, sou sempre bem recebido", disse Iguodala. "Quando estive lá, nunca me senti em casa. É assim que o esporte funciona. Quando você vence, quando tem sucesso, todo mundo quer tomar parte".

No Warriors, Iguodala encontrou uma alma gêmea em Ron Adams, um treinador assistente que já viu de tudo e não hesita em dizer a verdade. O Warriors pode ser conhecido pelo basquete alegre que costuma jogar sob o comando de Kerr, mas Iguodala e Adams, 71, costumam dizer a mesma coisa quando é hora de ser sério: "Esqueça a diversão".

A palavra que eles usam em lugar de "esqueça", é bom lembrar, é um palavrão começado pela letra F.

"Ele é um cara sério", diz Adams sobre Iguodala. "Fora da quadra, é divertido, mas em quadra é da velha guarda".

Iguodala acrescenta: "Sou perfeccionista, mas não como pessoa. Sou perfeccionista como parte do time. Jamais me satisfaço. Mesmo que tenhamos vencido oito jogos em seguida, quando assisto aos vídeos vou encontrar alguma coisa que me diz que não chegamos lá ainda".

De seu jeito característico, Iguodala insiste em que só olhou seu troféu como melhor jogador das finais de 2015 "quatro ou cinco vezes", e que não sabe bem onde ele foi parar, depois que se mudou de casa. E não nega que encara o mundo externo de um ponto de vista "pessimista, defensivo".

Mas ele pode estar se abrandando. Nos primeiros dias sob o comando de Kerr, que pediu que ele aceitasse o posto de sexto homem do time para o bem do grupo, Iguodala costumava rebater negativamente quando repórteres diziam que ele parecia ter se enquadrado naturalmente àquele papel. Agora, a expressão se tornou título de seu livro.

"É como o apelido Iggy, que sempre detestei", disse Iguodala. "Eu sempre pedia que não me chamassem daquilo. Mas agora nem o odeio tanto assim - não me incomoda que as pessoas me chamem de Iggy. Você aprende a aceitar".

Tradução de Paulo Migliacci

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