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Em novo retorno, agora na pandemia, Serena Williams ainda busca recorde

Norte-americana volta às quadras e mira a conquista de seu 24º Grand Slam

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Christopher Clarey
The New York Times

Depois de sua mais longa e inesperada pausa no esporte que um dia dominou, Serena Williams retornará às competições na semana que vem em um novo torneio, o Top Seed Open de Lexington, Kentucky.

O que essa parada teve de diferente é que o retorno de Williams ao tênis de primeiro nível acontecerá junto com o de todos os demais tenistas.

Serena Williams em ação no Australian Open deste ano, em janeiro
Serena Williams em ação no Australian Open deste ano, em janeiro - William West - 24.jan.2020/AFP

Os jogadores profissionais estavam em hiato porque a pandemia do coronavírus interrompeu os circuitos masculino e feminino no começo de março. A questão é como isso afetará as chances de Williams de vencer o Aberto dos Estados Unidos, torneio de Grand Slam que começa em 31 de agosto.

“Acredito que as chances dela são as mesmas que sempre foram desde o nascimento de sua filha”, disse Patrick Mouratoglou, o treinador da tenista, em entrevista por telefone da França, esta semana, antes de viajar a Kentucky. “Ela com certeza tem o nível necessário. Vencer ainda mais um Grand Slam continua a depender dela. Em minha opinião, a Covid-19 nada mudou, nesse departamento”.

Mouratoglou, que treina Williams desde 2012 e a ajudou vencer 10 de seus 23 títulos de Grand Slam na categoria simples, passou boa parte da parada causada pela pandemia em sua academia perto de Nice, França, dando início a uma liga de exibição, Ultimate Tennis Showdown, cujo objetivo principal é atrair fãs mais jovens, ainda não familiarizados com o tênis.

Mas ele ainda acredita na velha guarda, quando o assunto é o tênis feminino, e insiste, desde que Williams se tornou mãe, em 2017, em que ela continua dotada de tudo que é necessário, mesmo nesse estágio tardio de sua carreira, para conquistar seu 24º título Grand Slam e igualar o recorde de Margaret Court.

E a tenista chegou dolorosamente perto disso. Desde que retornou ao circuito, em 2018, depois de um parto complicado, ela chegou a quatro finais de Grand Slam –duas em Wimbledon e duas no Aberto dos Estados Unidos–, e perdeu todas elas sem vencer um set.

Depois da conquista de seu primeiro título pós-maternidade, em janeiro, em Auckland, Nova Zelândia, ela chegou ao Aberto da Austrália deste ano com ímpeto renovado, mas jogou uma das piores partidas de sua carreira em derrota na terceira rodada para Wang Qiang, a jogadora chinesa mais bem colocada no ranking, a quem Williams havia esmagado por 6-1 e 6-0 no Aberto dos Estados Unidos de 2019.

Surgiram dúvidas sobre a forma física de Williams e sua capacidade de encarar grandes jogos, antes da pandemia, e elas permanecem agora que ela está retornando, aos 38 anos, e com o Aberto dos Estados Unidos novamente na mira.

“Ela vem treinando bem”, disse Mouratoglou, que não vê Williams em pessoa desde março mas vem recebendo atualizações constantes sobre seus treinos. “Ela continua motivada, e acredito que estará pronta. A única coisa que falta são jogos, são adversárias do outro lado da rede, e nada serve para substituir a sensação de competição; é exatamente por isso que vamos jogar em Lexington em vez de ficarmos esperando. Ela precisa de jogos. Veremos quantos terá”.

Williams, que tem um histórico de coágulos sanguíneos e sofreu embolias pulmonares potencialmente fatais que afetaram sua respiração, pode encarar riscos mais graves do que outros atletas de elite caso contraia a Covid-19, a doença causada pelo coronavírus.

“O melhor para ela com certeza seria não contrair a doença”, disse Mouratoglou, enfatizando que não é médico e não está qualificado para comentar sobre os potenciais ricos.

Williams, que recusou um pedido de entrevista para este artigo, por meio de seus representantes, disputou uma partida oficial pela última vez em 8 de fevereiro, e foi derrotada por Anastasija Sevastova, da Letônia, em um jogo da Fed Cup.

Depois disso, ela ficou a maior parte do tempo em casa, em Palm Beach Gardens, Flórida, com o marido, Alexis Ohanian, e Olympia, 2, a filha do casal.

Ela e Ohanian, um executivo de capital para empreendimentos, investiram em uma franquia da National Women’s Soccer League, um novo clube que está sendo criado em Los Angeles (Olympia também está entre os investidores).

Williams, que se manteve ativa na mídia social durante a paralisação do esporte, em geral adota um tom brincalhão: apareceu cantando a trilha sonora de “Frozen 2”, com Olympia, e se exercitando em companhia da irmã mais velha, Venus Williams; as duas imitaram o sotaque de Arnold Schwarzenegger e falaram sobre “músculos e ferro”.

Mas ela também se aventurou nas questões do momento, e se pronunciou sobre a justiça social e o movimento Black Lives Matter.

No Instagram, ela entrevistou Ohanian em casa sobre sua decisão, em junho, de deixar o conselho do Reddit, a rede social que ele cofundou, e de apelar que um representante negro fosse escolhido em seu lugar. A conversa se concentrou na conscientização crescente de Ohanian sobre seu “privilégio branco” e seu desejo de “incorporar a dor” de saber que ele é “racista por causa de um sistema herdado”.

Williams mais tarde entrevistou Bryan Stevenson, fundador e diretor executivo da Equal Justice Initiative, que defende os direitos de prisioneiros sentenciados à morte e quer reduzir o número de pessoas encarceradas nos Estados Unidos.

Ela o definiu como “super-herói” e falou sobre a resistência que ela e a irmã enfrentaram quando chegaram ao circuito, que viriam a dominar, no começo da década de 2000.

“Quando Venus e eu estávamos vencendo a cada semana, finais de Grand Slam toda hora, isso não foi comemorado”, ela disse, refletindo sobre momentos em que ficava esperando no vestiário e podia ouvir as reações da torcida aos jogos de Venus.

Se Serena ouvia aplausos fortes, ela disse que “eu imediatamente ficava triste”, porque isso sempre queria dizer que Venus havia perdido uma disputa.

“Mas se havia silêncio completo, aí eu sabia que ela estava ganhando”, disse Serena.

A reação negativa, naquele estágio inicial da carreira de ambas, certamente não se devia inteiramente à raça. Os primeiros duelos e finais entre as irmãs Williams no Grand Slam eram muitas vezes situações complicadas e cheias de constrangimento, porque elas eram muito próximas fora das quadras (como continuam) e não conseguiam competir com sua ferocidade habitual.

Mas Serena enfatizou os desafios que surgiram com seu sucesso em um esporte predominantemente branco.

“Eu jogava não só contra minha adversária”, ela disse. “Jogava contra a torcida, jogava contra os espectadores e jogava contra as pessoas, mas à medida que as coisas avançaram, conquistei muito mais torcedores e foi uma experiência maravilhosa; no entanto tive de trabalhar com afinco para ter essa experiência”.

Williams se queixou de receber “pagamento insuficiente”, em determinado momento, provavelmente uma referência a faturar menos fora das quadras que a rival Maria Sharapova, no começo da carreira, apesar de seu desempenho superior. Williams também expressou frustração sobre a maneira pela qual seu estilo de jogo é caracterizado, às vezes.

“O tênis é um jogo mental e as pessoas negras são atléticas”, ela disse, se referindo ao estereótipo duradouro de que o sucesso dos atletas negros se deve à sua força e capacidade atlética, enquanto o dos brancos depende da inteligência. “E assim, sempre que eu vencia, era porque eu era muito atlética. Mas a verdade é que uso muito mais o cérebro do que as pessoas percebem. Uso muito meu cérebro em quadra. Sim, sou forte, mas os jogadores que são só fortes não vencem 23 títulos de Grand Slam”.

Conquistar o 24º título com uma nova geração de jogadoras em ascensão seria, talvez, sua realização mais impressionante. A situação em que o tênis se vê só torna a busca de Williams ainda mais interessante.

“Se ela vencer o Aberto dos Estados Unidos como seu 24º título, terá sido o Grand Slam mais difícil de sua carreira, ou da carreira de qualquer pessoa, na verdade”, disse Chris Evert, comentarista da ESPN e ex-tenista que conquistou 18 títulos de Grand Slam.

Evert disse que os jogadores sempre se queixam de que o Aberto dos Estados Unidos é jogado perto do final da temporada, quando estão cansados, e se queixam do tráfego e da atmosfera frenética de Nova York.

“Mas nada disso é problema, comparado à situação atual”, ela disse sobre a edição 2020 do torneio.

O quadro não estará completo, no torneio. Ashleigh Barty, da Austrália, a líder do ranking feminino de simples, já desistiu, e o mesmo vale para Elina Svitolina, a quinta colocada, e Kiki Bertens, a sétima. Simona Halep, a segunda no ranking, está inclinada a não participar, igualmente. Mas ameaças sérias permanecem.

A experiência e a familiaridade de Williams com os grandes retornos vão lhe conferir vantagem adicional contra as adversárias mais jovens? Ou a pista de decolagem será curta demais para que ela chegue ao seu melhor desempenho?

Para Mouratoglou, a chave para Williams interromper sua sequência de derrotas em Nova York é o condicionamento físico ideal, partidas de qualidade na preparação, e a abordagem mental correta, o que provavelmente vai requerer uma nova preparação psicológica.

Bloquear a ansiedade sobre o 24º título não é solução.

“Quando há um elefante na sala, dá para dizer que você não o vê, mas é difícil acreditar”, ele afirmou.

Tradução de Paulo Migliacci

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