Descrição de chapéu Copa Libertadores 2020

Nova política e maturidade tática tornam jovens protagonistas no Palmeiras

Gabriel Menino e Patrick de Paula se destacaram na campanha do time na Libertadores

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São Paulo

Quando o capitão Cesar Sampaio levantou a taça de campeão da América naquele 16 de junho de 1999, dia inesquecível para o torcedor palmeirense, Patrick de Paula, Gabriel Menino e Danilo não eram nem nascidos.

Duas décadas depois, esses garotos são símbolos de um Palmeiras que busca sua segunda conquista na Copa Libertadores. Jovens protagonistas que sonham com a consagração no próximo dia 30, contra o Santos, no Maracanã.

Esse cenário de otimismo com suas crias, porém, seria impensável há alguns anos. Principalmente a partir de 2015, com a entrada em cena da patrocinadora Crefisa, responsável pelo aporte financeiro que permitia ao Palmeiras investimentos caros para a formação do elenco.

Levantamento feito pela Folha em 2019 mostrou que, entre 2014 e 2018, período no qual conquistou duas vezes o Campeonato Brasileiro e foi campeão da Copa do Brasil, o clube só ficou atrás do Corinthians como clube que menos utilizou pratas da casa.

Após os insucessos de 2019, que terminou sem títulos, a diretoria alviverde decidiu reformular a concepção de montagem do grupo. A base do Palmeiras, vitoriosa em suas diversas categorias, passaria a ganhar mais espaço em detrimento de um pacote robusto de contratações.

De 25 reforços no primeiro ano de parceria com a Crefisa, a diretoria alviverde trouxe apenas 5 jogadores para o início desta temporada. Quando o técnico Vanderlei Luxemburgo iniciou seu trabalho à frente da equipe, em janeiro de 2020, eram nove os atletas formados em casa. Mudou a proposta.

Além de um plano para o melhor aproveitamento de seus talentos, o Palmeiras também passou a utilizar mais a base por conta de um fator em comum com seus adversários: a pandemia.

O calendário apertado, principalmente para os alviverdes, que além do Brasileiro são finalistas da Libertadores e da Copa do Brasil, forçou maior rotação dos elencos.

A diferença do Palmeiras para seus adversários é que alguns jovens recém-promovidos ao time já pediam passagem independentemente da necessidade física imposta pelas mudanças na temporada.

Foi de Patrick de Paula, 21, o pênalti decisivo na final do Campeonato Paulista, em agosto, contra o Corinthians, que devolveu ao Palmeiras um troféu que não conquistava desde 2008. O meio-campista cobrou forte a sua penalidade, no ângulo, para superar Cássio e garantir o título no Allianz Parque. Parecia um jogador de 30 anos com vasta experiência nesse tipo de situação.

Patrick talvez seja o jogador formado no clube com a história mais intrigante. Carioca, ele iniciou a carreira disputando torneios amadores no Rio de Janeiro. Foi em uma Taça das Favelas, no Rio de Janeiro, que o Palmeiras o observou e se interessou por sua contratação, realizada em 2017.

O jogador tinha 16 anos quando chegou ao Palestra Itália. Na visão de muitos, idade tardia para formar um atleta, tanto no aspecto técnico como na questão tática. Mas Patrick mostrou facilidade para entender o jogo.

Essa maturidade tática e a capacidade de adaptação pôde ser vista ao longo desta temporada, com o palmeirense atuando à frente da defesa, como meia-esquerda ou como meio-campista mais avançado, atrás dos atacantes. Atrapalhado por lesões, tem alternado entre o banco e o time titular.

A mesma característica polivalente vale para Gabriel Menino, 20, joia da base alviverde. Tecnicamente, Menino é possivelmente o palmeirense mais talentoso de sua geração –o atacante Gabriel Veron, 18, também é tratado como futura estrela. Sua qualidade técnica e a capacidade de exercer diferentes papéis fez com que Tite o convocasse para a seleção brasileira nas Eliminatórias.

Pense em uma função a ser realizada pelo lado direito e ele deve tê-la cumprido em algum momento na atual temporada. Meia de origem, já atuou à frente da defesa, como Patrick, mas também como meia pela direita e até na ponta, mais avançado.

Contra o River Plate (ARG), na semifinal da Copa Libertadores, Menino exibiu o seu repertório tático ao cumprir, a pedido do português Abel Ferreira, substituto de Luxemburgo, a função de articulador pelo quando o Palmeiras tinha a bola e de lateral quando o River atacava, formando uma linha de cinco homens atrás.

Gabriel Menino já atuou em todas as posições do lado direito da equipe na temporada
Gabriel Menino já atuou em todas as posições do lado direito da equipe na temporada - Sebastião Moreira - 15.dez.2020/Reuters

A goleada sobre os argentinos em Avellaneda é um marco da campanha palmeirense e também do protagonismo desses jovens. Contra o River de Marcelo Gallardo, Danilo, 19, também foi titular nos dois jogos, substituindo o lesionado Felipe Melo como primeiro volante.

Ao mesmo tempo em que o jogo da ida representou uma demonstração de força do Palmeiras e o brilho de seus meninos, o susto na partida de volta, com a derrota por 2 a 0, também pode ter sido um sintoma da falta de experiência desses mesmos jogadores. O time, como um todo, teve problemas para ler a proposta da equipe de Gallardo e por pouco não foi eliminado em casa.

A série contra o River Plate, se é possível estabelecer uma metáfora educativa, foi uma espécie de curso intensivo de Copa Libertadores. Uma classificação contra um rival qualificado e que acaba por acelerar a assimilação de processos dentro do futebol profissional.

Quando chegou ao clube, em novembro, Abel Ferreira sabia que seu trabalho seria cobrado pela maturação dos jovens, mas também por resultados. Uma exigência que às vezes é incompatível, justamente porque a necessidade de vencer tira o tempo para que os atletas se desenvolvam, especialmente se os técnicos preferem o jogador pronto, já formado.

Ainda há aspectos do jogo que esses garotos palmeirenses precisam desenvolver. No próximo dia 30, essa curva de aprendizado passará pela final da Libertadores, no Maracanã, para provarem definitivamente o acerto do Palmeiras de olhar para dentro do clube e apostar no talento feito em casa.

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