Descrição de chapéu Libertadores

Em final sob sombra de violência, Fluminense almeja lavar a alma, e Boca sonha com recorde

Campeão da Libertadores levará R$ 88 milhões; pancadaria entre torcidas preocupa times e confederações

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São Paulo

Sob a sombra das tensões entre torcedores que transbordaram em pancadaria em Copacabana na quinta (2), o Fluminense de Fernando Diniz busca, neste sábado (4), às 17h, o seu primeiro título da Libertadores diante do Boca Juniors, no Maracanã, no Rio de Janeiro.

A equipe argentina, por sua vez, contabiliza seis taças do torneio continental, uma a menos que o maior campeão da competição, o Independiente (ARG).

Na última vez em que o Fluminense esteve tão próximo do troféu, há 15 anos, sucumbiu diante da LDU, do Equador, nos pênaltis.

Agora, com Diniz, a formação tricolor chega à decisão com a confiança no seu estilo de jogo e a esperança na artilharia de Cano. Contra o Boca, o Fluminense colocará à prova o seu estilo de jogo mais cadenciado e a posse de bola.

Melo, um homem negro e careca, está agachado no gramado. Uma mão dele toca a grama e a outra segura sua cabeça.
Felipe Melo, do Fluminense, durante o reconhecimento do gramado do Maracanã, nesta sexta (3), véspera da final da Libertadores - Silvio Avila/AFP

O Boca chegou à decisão do título aos trancos e barrancos, empatando todas as partidas eliminatórias, isto é, das oitavas até a semifinal contra o Palmeiras.

Muito desta campanha tem sido creditada ao goleiro Romero, que defendeu seis pênaltis ao longo do mata-mata. "Aos 36 anos, eu me divirto quando chegam os pênaltis", disse o goleiro do Boca.

A fama dele tem feito Cavani, uma estrela do futebol mundial, passar pelo Boca com pouco protagonismo. O craque marcou três vezes no mata-mata da Libertadores.

"Vai ser um jogo muito emblemático, legal de assistir e estamos nos preparando para fazer um grande jogo", disse Diniz.

Contratado em abril de 2022, Diniz acumula 104 jogos, com 58 vitórias, 26 derrotas e 20 empates pelo Fluminense. Neste ano, ele já levantou a taça do Campeonato Carioca. Além de comandar o Fluminense, Diniz assumiu em setembro deste ano a seleção brasileira.

Como de praxe, o treinador mineiro tem pedido respeito e elogiado os argentinos, e diz estar preparado para o que der e vier: "Não estou a mercê da bola que vai entrar e daquela que não vai entrar. Vou fazer o meu melhor. Se não fosse assim, estaria mais propenso a ter um resultado que não gostaria, porque estaria mais ansioso do que estou".

"Demorei muito para aprender, e luto até hoje para que minha vida não seja determinada por uma bola que entra ou que não entra", afirmou nesta sexta (3).

O campeão deste sábado, além da taça, ficará com uma premiação de US$ 18 milhões (R$ 88 milhões).

Ao longo da competição com vitórias na fase de grupos e mata-mata, Fluminense e Boca Juniors já arrecadaram US$ 9 milhões cada um, algo em torno de R$ 45 milhões.

Marcelo conduz a bola em treino, sob ordens de Diniz - Sergio Moraes/ Reuters

Pelo retrospecto atual, o Fluminense chega com status de favorito. O desempenho do Boca tem sido bem questionável. Em 12 jogos, o time marcou 12 vezes, não venceu nenhuma partida durante o tempo normal no mata-mata e só avançou nos pênaltis.

Essa escrita, no entanto, incomoda os torcedores da equipe carioca. Em 2008, a LDU também havia registrado um aproveitamento ruim, mas desbancou o Fluminense em pleno Maracanã.

A torcida argentina pouco se importa com a campanha de sua equipe e, desde o final de quarta-feira (1º), começou a invadir o Rio de Janeiro.

Na quinta, nove torcedores foram detidos em dois diferentes focos de confusão entre torcedores em Copacabana. Segundo a Polícia Militar, foram levados à delegacia sete argentinos e dois brasileiros. A mídia argentina divulgou um áudio em que um dos líderes da organizada xeneize La 12 convoca os torcedores do tricolor para uma briga.

Na sexta, a tensão entre as torcidas levou a Conmebol a convocar uma reunião com a presença de lideranças da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), da AFA (Associação do Futebol Argentino), do Fluminense e do Boca Juniors.

Durante o encontro, foi discutida, inclusive, a possibilidade de o jogo ser realizado sem presença de torcida. "A partir de agora, os torcedores têm que se unir em torno da paz, porque é segurança acima de tudo", disse o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, após o encontro.

Em nota, a Conmebol explicou que a reunião abordou a segurança como tema central. "Tratando-se de dois clubes com um enorme apelo popular, se faz indispensável tomar as precauções máximas para minimizar todo o possível contato entre as torcidas", disse a Conmebol.

Nenhuma nova medida de segurança foi anunciada, no entanto.

De acordo com a Polícia Militar do Rio, o efetivo em Copacabana está reforçado com policiais do 19ºBPM, do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (Recom), do Batalhão de Polícia de Choque, Polícia Montada, CPAm e com aeronaves fazendo patrulhamento aéreo.

No dia da decisão, a PM irá mobilizar mais de 2.240 policiais para atuação na área do Maracanã, nos locais de concentração das duas torcidas, nos principais pontos de entrada da cidade e centros de treinamentos e hotéis onde estarão hospedadas as delegações.

Após a reunião, o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, e o do Boca Juniors, Jorge Amor Ameal, publicaram vídeo juntos em redes sociais, pedindo calma aos torcedores.

"É muito importante que a gente estabeleça, de hoje para amanhã, um clima de paz, que possa unir os dois povos, as duas torcidas, para que a gente possa estar amanhã no Maracanã fazendo uma linda festa do futebol", disse Bittencourt.

Um torcedor do Boca agita a camiseta do time, sentado sobre os ombros de outro torcedor, em meio a uma multidão
Torcedores do Boca Juniors fazem festa em Copacabana, nesta sexta (3) - Ricardo Moraes/Reuters

Já Ameal afirmou que "o que queremos é dizer que vamos jogar com público e que não vai haver nenhum problema. Pedimos às pessoas que respeitem, isto não é uma guerra, é uma partida de futebol".

Também em redes sociais, Nino, o capitão do Fluminense, mandou recado semelhante: "Dentro de campo vai ser um grande jogo e faremos de tudo para conquistar esse título. Que fora dele seja um momento de muita alegria e paz, e que a gente possa aproveitar todos os momentos juntos", afirmou o zagueiro.

"O importante é respeitar quem ganhar", destacou Diniz em entrevista coletiva no Maracanã.

Em um comunicado conjunto, as torcidas organizadas do Fluminense afirmaram que estiveram reunidas com a diretoria do clube e se comprometeram a cessar os conflitos com torcedores do Boca.

"Que se separe o joio do trigo, que a punição caiba a quem é devida. Todas as torcidas punirão os integrantes envolvidos em atos de violência com a expulsão dos quadros", afirmaram os grupos na nota divulgada em redes sociais.

À tarde, milhares de torcedores do Boca Juniors se reuniram na praia de Copacabana, perto do posto 5, e passaram a tarde entoando cânticos de arquibancada. O clima, no entanto, era tranquilo, com apenas alguns princípios de confusão por furtos.

O torcedor do Boca João Inácio chegou ao Rio na manhã de sexta e diz que as cenas de violência da noite anterior não assustaram o grupo que veio com ele de Buenos Aires. "Desejo que tudo corra em paz, que seja uma festa, e que ganhe o Boca."

Com Italo Nogueira e Nicola Pamplona, do Rio de Janeiro

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