A Espanha conquistou a última Copa do Mundo feminina, no ano passado, com um excelente futebol. Liderada pela excepcional meio-campista Aitana Bonmatí –que ganhou uma porção de prêmios individuais por seu desempenho, incluindo o de melhor do planeta–, foi superior às concorrentes nos momentos decisivos e levantou orgulhosamente o troféu na Austrália.
A cena mais comentada da celebração, no entanto, não foi o momento em que a capitã Ivana Andrés ergueu a taça. Foi o instante em que o então presidente da RFEF (Real Federação Espanhola de Futebol), Luis Rubiales, no pódio de premiação, segurou o rosto da meio-campista Jenni Hermoso com as duas mãos e lhe beijou forçadamente os lábios.
O que era uma festa virou crise, com acusações de protagonismo roubado, reviravoltas, declarações fabricadas, ameaça de boicote e, enfim, a renúncia de Rubiales, denunciado pelo Ministério Público espanhol por "agressão sexual" e suspenso pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) por três anos. Hermoso deixou bem claro seu desconforto, e várias jogadoras se posicionaram de maneira firme contra a atitude do dirigente, sem reservas para tratar do tema.
Mas elas querem também falar sobre futebol e têm muito para exibir. Em fevereiro deste ano, conquistaram a edição inaugural da Liga das Nações Europeia feminina, em mais uma campanha sólida, por meio da qual obtiveram pela primeira vez uma vaga nos Jogos Olímpicos.
Na decisão, fizeram 2 a 0 na França, dirigida por Hervé Renard e dominada pela adversária, que triunfou com gols de Bonmatí e Mariona Candentey. "Eu enfrentei a Espanha quando dirigi Marrocos, em 2018", disse o treinador francês, referindo-se ao Mundial masculino. "Eles tinham um meio-campo com Iniesta e Busquets. A sensação agora foi a mesma."
Como o time masculino –que também tem mais uma excelente geração e está na final da Eurocopa–, as jogadoras querem ser apenas a seleção espanhola. Por isso, em um dos desdobramentos do escândalo do beijo, a RFEF anunciou que a equipe passou a ser a "Selección Espanõla de Fútbol", não mais a "Selección Española de Fútbol Femenino".
"Mais do que uma mudança simbólica, queremos que isto represente uma transformação conceitual, um reconhecimento de que o futebol é futebol, independentemente de quem o joga", disse o novo presidente da federação, Pedro Rocha.
Foi já com a remodelada nomenclatura que o time venceu a Liga das Nações, diante de cerca de 33 mil espectadores, no estádio La Cartuja, em Sevilha. "É um prazer ganhar um troféu na frente dos torcedores, sentir seu apoio, e eu acho que vai além disso. É sobre provar que o futebol das mulheres é o futuro", disse Hermoso.
As atletas, então, foram recebidas pelo premiê da Espanha, Pedro Sánchez, que ouviu pedidos de leis de proteção aos direitos das jogadoras e afirmou que as receberia de novo após a conquista de uma medalha em Paris. Para isso, a aposta é uma formação bem parecida com a que triunfou na Copa do Mundo de 2023.
O técnico já não é Jorge Vilda, que exerceu a função no Mundial, mas tinha uma relação conflituosa com boa parte do grupo. Foi contratada para seu lugar a ex-jogadora Montse Tomé, 42, que vai levar aos Jogos Olímpicos as 11 titulares da Copa, com nomes de destaque, como Olga Carmona e Salma Paralluelo. Também foi chamada Alexia Putellas, eleita melhor do mundo em 2021 e 2022.
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