Medidas sustentáveis de Paris-2024 são insuficientes, apontam organizações

Comitê apostou em estruturas existentes e fontes renováveis, mas especialistas criticam pouco detalhamento da estratégia

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Lisboa

A organização dos Jogos Olímpicos de Paris, que acontecem de 26 de julho a 11 de agosto, afirma que esta será a edição mais sustentável já realizada da competição. Embora reconheçam os avanços em diversas frentes, especialistas têm sido céticos quanto à eficácia e, principalmente, à capacidade de averiguação de alguns dos projetos apresentados.

O objetivo oficial –que não é obrigatório– é limitar as emissões a 1,75 milhão de toneladas de CO2 equivalente: menos da metade das 4,5 milhões de toneladas das Olimpíadas do Rio em 2016. Na reta final antes da abertura, o comitê organizador apresentou estimativas de que as emissões do evento se encaminhavam para ficar em cerca de 1,58 milhão de toneladas de CO2 equivalente.

Para chegar a esse resultado, os responsáveis pelos jogos adotaram diferentes estratégias. Como a construção de estruturas é uma fonte intensiva de emissões, os franceses decidiram limitar ao máximo as novas obras. Cerca de 95% do que vai ser utilizado é pré-existente ou foi erguido de forma temporária, com menor impacto ambiental.

A imagem mostra um veículo elétrico compacto e moderno, com design aberto e janelas amplas. O carro é predominantemente branco com detalhes em verde e azul. Dentro do veículo, há uma pessoa usando óculos escuros. O fundo apresenta um ambiente urbano com edifícios e árvores.
Mulher dirige veículo 100% elétrico sem portas dentro da Vila Olímpica de Paris - Geoffroy van der Hasselt - 18.jul.24/AFP

Uma das poucas exceções é a Vila Olímpica para hospedar os atletas, que será convertida em habitação popular após os jogos. Os prédios, no entanto, foram construídos recorrendo a materiais e técnicas que, segundo a organização, reduziram as emissões em 30% em comparação com as obras tradicionais.

Uma das principais medidas de sustentabilidade adotadas no empreendimento, no entanto, acabou gerando polêmica: a decisão de não equipar o apartamentos com aparelhos de ar-condicionado, mesmo com as Olimpíadas sendo realizadas em pleno verão do hemisfério Norte.

O empreendimento foi erguido utilizando um método alternativo, chamado de resfriamento geotérmico, que usa um sistema de distribuição de água resfriada para diminuir a temperatura dos aposentos. A estimativa dos responsáveis é de que o método garanta que o interior dos apartamentos esteja entre 6°C e 10°C mais fresco do que o exterior.

Com a perspectiva de que as Olimpíadas de Paris sejam realizadas em meio a ondas de calor, cada vez mais frequentes na Europa por conta do aquecimento global, os comitês olímpicos de vários países pressionaram pela instalação de aparelhos de ar-condicionado para os atletas.

Ainda que no início do ano a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, tenha chegado a negar a possibilidade de instalação de unidades portáteis, elas acabaram sendo liberadas para uso.

A organização cedeu à pressão e acabou por permitir que as delegações utilizassem, pagando do próprio bolso, refrigeradores de ar portáteis. Foram então encomendadas 2.500 unidades para utilização temporária na Vila Olímpica, que tem ao todo 7.000 quartos e deve receber cerca de 14 mil esportistas durante a competição.

"O objetivo é fornecer uma solução muito específica para os atletas que estão enfrentando a partida ou competição de suas vidas (…) e que podem ter necessidades de conforto e recuperação mais altas do que em um verão normal", justificou o vice-diretor da vila, Augustin Tran Van Chau.

Os franceses também trabalharam para reduzir a pegada de carbono relacionada à alimentação durante os jogos, quando devem ser servidos 13 milhões de refeições e lanches. Mais de 80% dos produtos serão de produtores de regiões próximas, diminuindo a poluição relacionada aos transportes, com cerca de 60% dos alimentos servidos ao público sendo de origem vegetal.

Outra medida adotada é a utilização de fontes de energias renováveis, essencialmente solar e eólica, para alimentar os locais onde são realizadas as competições.

A organização também afirma que mais de 90% dos 6 milhões de equipamentos usados nas Olimpíadas ganharão uma nova vida após o evento, sendo reaproveitados por parceiros e prestadores de serviços.

A lista de iniciativas de sustentabilidade apresentada pelos responsáveis, no entanto, foi considerada insuficiente por organizações ligadas à defesa do ambiente.

"Embora louvável, a estratégia climática de Paris 2024, que visa minimizar a pegada de carbono do evento, é incompleta e não alcança a transparência desejada. Apesar de estabelecer metas e implementar políticas lógicas em diversos setores –como construção, fornecimento de alimentos, compras não alimentares, transporte e consumo de energia–, a estratégia carece de metodologias detalhadas e monitoramento abrangente, além de não ser claramente comunicada", diz um relatório da organização Carbon Market Watch.

Analistas têm pedido também mais transparência em relação aos cálculos de emissões feitos pela organização das Olimpíadas.

"A metodologia usada para chegar a essa meta de 1,5 milhão de toneladas [estimativa atual de emissões da organização] de CO2 não foi tornada pública, então não sabemos em quais suposições ela se baseia", disse Alexandre Joly, especialista em energia e clima do Éclaircies, coletivo de estudiosos em transição verde, em entrevista à France24.

Especialistas alertam ainda que a principal fonte de emissões de gases-estufa, a viagem dos espectadores até o evento, sobretudo os que fazem longos trajetos de avião, não teve limitações.

Megaeventos esportivos também costumam ser surperlativos no âmbito das emissões de gases-estufa, principalmente por conta do intenso fluxo de viajantes. Por isso, há cada vez mais ambientalistas defendendo alterações nos modelos atuais das competições.

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