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Cuidado paliativo é busca pela dignidade até o final da vida

Anualmente, 56,8 milhões de pessoas ao redor do mundo precisam de cuidados paliativos

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Claudia Burlá

Geriatra, é membro do Board of Director da International Association of Hospice and Palliative Care, da Comissão Permanente de Cuidados Paliativos da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e do Conselho do Centro Internacional da Longevidade – Brasil.

Acaba de ser lançada a segunda edição do "Atlas Global de Cuidados Paliativos", uma iniciativa da Aliança Mundial de Hospice e Cuidados Paliativos. As informações nele contidas apontam para a importância crescente dessa especialidade médica cuja atuação está centrada nos bens mais valiosos de todas as pessoas, a dignidade e a própria vida.

retrato em preto e branco de mãe e filha abraçadas
Bemvinda Apparecida Próspera com a filha Elizabeth Aparecida Quintino Vieira - Gustavo Lacerda/Folhapress

O "Atlas" aponta dados alarmantes, estimando que 56,8 milhões de pessoas precisam de cuidados paliativos a cada ano, 25,7 milhões delas para cuidados de fim de vida (últimas horas, dias ou semanas de vida). Desse total, 67,1% têm mais de 50 anos.

É importante esclarecer que cuidados paliativos não se confundem com cuidados de fim de vida pois este está inserido naquele. Idealmente, os cuidados paliativos começam ao momento do diagnóstico de uma doença grave e incurável, mesmo que seu curso evolutivo possa ser de anos.

A necessidade de cuidados paliativos irá crescer com o envelhecimento populacional. Haverá um aumento exponencial dos casos de câncer e de doenças neurodegenerativas, cardiovasculares, respiratórias e outras doenças crônicas não transmissíveis. Por exemplo, a doença de Alzheimer que é incurável, degenerativa, mas com um ritmo evolutivo imprevisível. Há casos de pessoas que sobrevivem mais 15 anos com essa doença devastadora.

O diagnóstico de uma doença degenerativa incurável dá a oportunidade do planejamento de cuidados avançados, que são medidas terapêuticas, intervencionistas ou não, a serem implementadas à medida que sintomas decorrentes da evolução da doença surgem, conforme a biografia e os valores da pessoa doente. Neste particular é de importância crucial respeitar tais valores, o protagonismo é seu. Daí a importância de deixá-los explícitos sempre. Ninguém sabe o dia do amanhã.

A Covid-19 veio realçar ainda mais a importância dos cuidados paliativos para o sistema de saúde. O Brasil chega esta semana a 155 mil mortes do total mundial de cerca de 1,1 milhão. E há milhões de pessoas que precisam ter seu sofrimento físico mitigado. Os profissionais enfrentam dificuldades na tomada de decisões e na comunicação de más notícias e os familiares com frequência apresentam luto complicado– exatamente os tipos de problemas próprios para uma abordagem paliativa.

Observe-se ainda que a Assembleia Mundial da Saúde, em 2014, reconheceu os cuidados paliativos como uma responsabilidade ética dos sistemas de saúde e um componente essencial da cobertura universal de cuidados. Portanto, a inclusão dos cuidados paliativos no SUS é um imperativo ético para o atendimento adequado das pessoas com doenças incuráveis preservando-lhes seu mais importante bem, protegido constitucionalmente: sua dignidade.

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