De redator a editor-executivo, Matinas Suzuki acompanhou modernização do jornal

Jornalista bateu recorde de vendas e levou cultura pop e ousadias gráficas para as páginas da Ilustrada

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São Paulo

Nos anos 1970, quando estudava na Escola de Comunicações e Artes da USP, o barretense Matinas Suzuki Jr. fazia parte da organização estudantil Liberdade e Luta, conhecida como Libelu, por onde gravitavam colegas que seriam profissionais da Folha na década seguinte.

retrato em preto e branco de Matinas Suzuki. Ele veste gravata borboleta e colete, usa óculos de aros pretos redondos e está sentado olhando para frente
O jornalista Matinas Suzuki Jr. na Redação da Folha, em São Paulo (SP) - Wilson Melo - 20.ago.1986/Folhapress

"Eu, o Caio Túlio Costa, o Rodrigo Naves, o Mario Sergio Conti, nós éramos de mesma geração da ECA. Mas eu não era muito militante; era mais liberdade do que luta", diverte-se Matinas hoje.

"Fizemos muitos jornais na imprensa alternativa e fui trabalhar com o Caio na Leia Livros, publicação sobre lançamentos literários. Quando ele foi convidado para editar a Ilustrada, no final de 1981, me levou junto como redator. Um ano depois, eu assumi o caderno cultural quando ele foi para a secretaria de Redação. O Caio foi um desbravador, indo da Ilustrada para a chefia, depois ajudou a fundar a Revista da Folha e, mais tarde, o UOL", conta Matinas.

A passagem de Matinas pela Ilustrada também foi desbravadora e é lembrada até hoje pelos colegas. "Os cadernos de cultura não tinham prestígio nenhum na imprensa nacional", diz ele. E o novo editor ajudou a trazer a Ilustrada para os holofotes, com reportagens do mundo pop, análises da indústria cultural, ousadias gráficas e a cobertura da efervescência de São Paulo, que, na opinião de Matinas, deixava de ser provinciana justamente naquela década de 1980.

Mas a empresa, que passava por uma modernização profunda com as novas diretrizes editoriais do Projeto Folha e a informatização da Redação, tinha planos mais abrangentes para o jornalista. Suas duas passagens pela Ilustrada, em 1983 e 1984 e em 1985 e 1986, foram entremeadas por um ano como diretor da sucursal da Folha no Rio de Janeiro. Depois, foi editor de Economia, colunista de esporte e secretário de Redação.

No fim daquela década, atuou como correspondente no Japão e voltou para levantar um projeto que uniria a Folha com a editora Abril na produção de revistas para serem encartadas em jornais do Brasil inteiro. O Plano Collor, que sequestrou o dinheiro no país em 1990, arruinou a tentativa.

Em 1991, o diretor de Redação, Otavio Frias Filho (1957-2018), chamou Matinas para assumir o segundo cargo do jornal, o de editor-executivo. Uma das grandes realizações dessa época veio de Luiz Frias, atual publisher do jornal, que comandava a venda de publicidade e a circulação. Dessa parceria multisetorial nasceu o Folhão, um jornal de domingo maior e com mais substância em todas as editorias.

Mas o pulo do gato foi o novo tratamento jornalístico dado aos classificados. "O mais importante foi o roteiro de emprego, que tinha seus anúncios checados e eram publicados gratuitamente, ao contrário do que sempre se havia feito na imprensa. Nós nos baseamos na ideia de que uma vaga de trabalho é uma informação relevante para o leitor. Os anúncios de imóveis e carros seguiram a mesma linha.", diz.

O sucesso do Folhão atingiu ainda recordes de venda quando fascículos de mapas ou dicionários foram distribuídos semanalmente. No dia 12 de março de 1995, o jornal publicou 1,6 milhão de exemplares com 264 páginas.

Na opinião de Matinas, "a ideia de Octavio Frias de Oliveira (1912-2007) de que havia espaço para um jornal independente foi brilhantemente executada por Otavio e Luiz. Muita coragem, ousadia, enfrentamento e sensibilidade para captar o momento político como ninguém, depois da ditadura."

"Ao mesmo tempo, São Paulo se tornava um centro dinâmico e a Folha era expressão disso também. Por isso, fazer jornalismo era mais fácil. Tudo estava a favor e as pessoas adoravam a imprensa."

De 1995 a 1997, Matinas acumulou a edição-executiva da Folha com a apresentação do programa de entrevistas Roda Viva, na TV Cultura. E saiu da Folha para buscar novos desafios. Por dois anos, foi diretor editorial da editora Abril. Saiu de lá para ajudar a fundar o portal de internet iG.

Em seguida, trabalhou na montagem de uma rede de jornais para o interior do estado, chamada Bom Dia, e passou pelo Instituto Moreira Salles, onde participou da criação da revista Serrote. Desde 2010, é diretor de operações da Companhia das Letras.

MATINAS SUZUKI JR, 67

Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da USP, nasceu em Barretos, São Paulo, em 1954. Na Folha, foi redator e editor da Ilustrada, diretor da sucursal do Rio, editor de Economia, colunista de Esporte, secretário de Redação, correspondente no Japão e editor-executivo.

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