Simbi chega a R$ 500 mi de verbas destinadas a projetos sociais e fortalece ESG das empresas

Social tech cria Mapa de Demanda Social, que cruza mais de 200 indicadores nacionais com ODS da ONU

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São Paulo

Poucos são capazes de apontar onde ficam as cidades de Lagoa do Itaenga (PE), Jeceaba (MG), Lapão (BA), Cambará do Sul (R$) e Rio Branco (AC). Menos ainda que essas cinco cidades têm projetos sociais que possam receber investimentos sociais.

Quem consegue isso é a Simbi, negócio social que democratiza o acesso a verbas incentivadas das empresas, impulsiona de pequenas a grandes iniciativas sociais e fortalece a cultura do ESG no mercado empresarial brasileiro.

Liderada pelos empreendedores sociais Mathieu Anduze, Raphael Mayer e Tadeu Silva, a Simbi (antiga Simbiose Social) cresceu 80% no último ano e atingiu a gestão do montante de R$ 500 milhões em recursos destinados a ações sociais, vindos de investimento social, filantropia e verbas incentivadas. Um diferencial é que todo esse recurso conta com auditoria, controle e mapeamento feitos pela social tech.

Os empreendedores sociais Tadeu Silva, Raphael Mayer e Mathieu Anduze, cofundadores da Simbi
Os empreendedores sociais Tadeu Silva, Raphael Mayer e Mathieu Anduze, cofundadores da Simbi - Vanessa Bulhões/Divulgação

Isso só é possível graças a duas inovações implantadas pelos empreendedores após a pandemia: o Mapa de Demanda Social e o assessor de investimento social.

O primeiro, construído com base no Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2022 da Universidade de Cambridge, é um hub de dados que exibe de um lado todos os 215 mil projetos que já inscreveram em plataformas dos governos federal, estaduais e municipais.

E, de outro lado, pelo setor e local de atuação desses projetos, a ferramenta da Simbi ranqueia as ações levando em conta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Ideb (índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), entre outros parâmetros, que compõem mais de 200 indicadores correlacionados com todos as 169 metas específicas dos 17 ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da ONU.

"A Simbi se pauta no cruzamento de dados públicos, o que garante a isonomia de informações e nos possibilita apresentar uma base muito mais ampla e estruturada. E, além de possuir a maior base de oferta social, agregamos os dados de demanda", diz Raphael Mayer.

Ele explica que, com base no Mapa de Demanda Social, é possível identificar se um projeto de qualquer um dos 5.568 municípios brasileiros atende às reais necessidades do local da ação social. E, ainda, apontar, por exemplo, que, se uma região sofre com evasão escolar, em vez de computadores, a cidade carece de mais professores para aulas de reforço.

A Simbi também criou o assessor de investimento social, profissional que domina o Mapa e é capaz de cruzá-lo com o desejo das empresas que farão os investimentos.

Isso porque, além de ajudar na escolha dos projetos, o assessor leva em conta as necessidades de quem aporta os recursos sociais quanto à prestação de contas interna e/ou para o governo e quanto aos objetivos de ESG e de impulsionar uma área (educação, cultura, esporte) ou região em que atua.

"Todos acham que a gente fortalece o S, do Social, por ajudar a direcionar verbas a projetos sociais em todos os estados do Brasil. Mas a Simbi impulsiona o E, de ambiental, e o G, de governança nas empresas", diz Mayer.

"Todos acham que a gente fortalece o S, do Social, por ajudar a direcionar verbas a projetos sociais em todos os estados do Brasil. Mas a Simbi impulsiona o E, de ambiental, e o G, de governança nas empresas

Raphael Mayer

cofundador da Simbi

Segundo Tadeu Silva, com base na análise combinada de dados (IDHM, IVS e ODS), as empresas têm visão mais completa da situação social atual de diferentes territórios do país. "As evidências mostram as necessidades de diferentes regiões. Assim os investidores podem se voltar para áreas que exigem maior atenção, potencializando o impacto social de seus aportes."

Um exemplo de quem faz isso é a Fundação Grupo Volkswagen. O diretor-superintendente e de relações institucionais da FGVW, Vitor Hugo Silva Neia, explica que a parceria com a Simbi, inaugurada em 2019, fez com que a Fundação fortalecesse sua atuação e, especialmente, o controle pós-investimento.

"A Fundação Grupo Volkswagen sempre pauta os investimentos em: 1) Relacionamento com a comunidade do entorno, nas cidades em que tem planta; 2) Relacionamento histórico com parceiro de algumas das marcas da Volkswagen; e 3) Territórios mais vulneráveis. Neste último caso, usamos o Mapa da Simbi, o que nos permitiu descentralizar o envio de verbas, antes muito voltado ao eixo Sul-Sudeste", diz ele, que hoje leva um terço dos investimentos às localidades mais vulneráveis.

Segundo ele, a segurança na prestação de contas e os reportes de acompanhamento dos projetos, feitos a partir da ferramenta da Simbi, além do forte impacto causado pelo envio de verbas a localidades como Lagoa do Itaenga (PE), ajudaram a FGVW a criar uma cultura dentro do Grupo Volkswagen —tanto que já juntou cinco marcas da empresa (Porsche, VW do Brasil, Finam, MAN e Volks Caminhões) em aportes voltados a áreas vulneráveis.

Tamanho êxito faz com que a FGVW acompanhe neste ano 31 projetos, após investimento recorde de R$ 25 milhões —somando-se as verbas da fundação e as de cinco marcas do grupo.

O sucesso é sentido pelas iniciativas beneficiadas e pela empresa. No primeiro caso, o articulador de captação de recursos, Gilmar Dias, 40, diz que o recurso recebido (cerca de R$ 430 mil), por exemplo, pelo projeto Passaporte Digital, da Associação Conexão Social, permitirá a formação de 300 jovens em tecnologia, com impacto em mais de 1.200 famílias em Lagoa de Itaenga.

"O município tem 19 mil habitantes e é pautado pela monocultura da cana-de-açúcar. Então a maioria dos jovens só encontra trabalho no campo, e a cidade tem desigualdades gritantes. Com o Passaporte Digital, realizado com alunos de escolas públicas, eles recebem bolsa de estudos, formação em tecnologia e fazem até intercâmbios. E ficam no radar das empresas regionais, o que garante empregabilidade com renda muito superior à conquistada no campo, que não passa de um salário mínimo. O impacto é fenomenal", diz ele, que é filho de um cortador de cana e de uma funcionária pública e foi beneficiado por projeto social em 2000. "Transformou a minha vida, por isso sei da importância para esses jovens em termos de geração de renda e futuro."

Alunos de escolas públicas participam de formação em tecnologia do projeto Passaporte Digital, em Lagoa do Itaenga (PE)
Alunos de escolas públicas participam de formação em tecnologia do projeto Passaporte Digital, em Lagoa do Itaenga (PE) - Divulgação

Já dentro da fundação o impacto é sentido de duas formas. Além de padronizar as informações de compliance e governança de cada marca do grupo, a FGVW virou referência de atuação, sendo consultada por empresas como a ArcelorMittal.

"A solução da Simbi transforma dados públicos em informação qualificada e é inovadora, pois os usuários (doadores) acompanham o investimento social, seja ele incentivado ou não", diz Marcel Fukayama, cofundador da Din4mo e do Sistema B. "O Mapa de Demanda Social ajuda o setor a ter melhor entendimento de alocação e aporta tecnologia e governança no processo, o que qualifica os investimentos e reduz custo de transação. E pode direcionar política públicas."

Mesmo com tanta inovação, o caminho a ser percorrido pela Simbi é grande, tanto do lado de empresas que podem fazer investimentos sociais quanto de projetos que se encontram à espera desses recursos.

E Gilmar Dias aponta outro ponto a ser melhorado nesta rota. "As cidades precisam organizar os Conselhos que aprovam o uso de verbas incentivadas, por exemplo. Pernambuco tem 187 municípios e só 101 conselhos, que é estância importante para exercer recursos. Se o poder público faz sua parte, os projetos se estruturam melhor e as empresas ganham confiança para aportar. Cria-se uma cultura, que no Nordeste é pequena", cita ele, que viu de 200 empresas aportarem verbas em projetos em PE e só uma ser originária do estado.

A Simbi, cujos empreendedores venceram o Prêmio Empreendedor Social de Futuro em 2018, atua hoje com 68 empresas, entre elas FGVW, Meta, Unilever e ArcelorMittal. "Há, por parte das empresas, nova percepção de que o investimento social privado, via leis de incentivo ou recursos próprios, tem potencial real de mexer no ponteiro da desigualdade. E, nesse processo, a tecnologia é grande aliada por trazer evidências e dados sobre como o capital investido pode ser mais bem empregado", diz Mathieu Anduze.

"Há, por parte das empresas, nova percepção de que o investimento social privado, via leis de incentivo ou recursos próprios, tem potencial real de mexer no ponteiro da desigualdade. E, nesse processo, a tecnologia é grande aliada por trazer evidências e dados sobre como o capital investido pode ser mais bem empregado"

Mathieu Anduze

cofundador da Simbi

Se em 2018 a social tech mapeava 18 leis de incentivo no país, hoje são 35. E, ao mesmo tempo em trabalha para fazer a gestão de R$ 1 bilhão de investimentos sociais no próximo ano, acompanha os projetos Centro de Excelência do Esporte VI, em Jeceaba (MG), Taekwondo entre Amigos, em Cambará do Sul (R$), Desenvolvimento Virtudes e Talentos, em Lapão (BA), e o Encontro de Oportunidades, em Rio Branco (AC), entre tantos outros Brasil afora.

"Não vejo ninguém mais no país que faça o que a Simbi faz hoje", resume Fukayama.

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