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ACM
pode ter estrilado bastante com as acusações de Nicéa Pitta, tendo
falado em ``prostíbulo’’ e coisas do gênero. Mas meu palpite é que
ele acaba se beneficiando com a implosão do malufismo.
Para que o PFL venha a bancar uma candidatura própria à Presidência
--ou, pensando de forma mais ampla, para que seja um partido hegemônico
nacionalmente-- é preciso fincar raízes em São Paulo. O PFL quase
não existe por aqui. O campo conservador estava ocupado por Maluf.
Se é de esperar uma migração dos votos malufistas para algum lugar,
a hora é boa para o PFL.
Não convence a possibilidade de um segundo turno entre Marta Suplicy
e Erundina. Se foi esta quem, aparentemente, colheu nas pesquisas
os benefícios do escândalo Nicéa, não creio que a situação perdure.
Foge ao razoável esperar que a direita não tenha seu candidato. Romeu
Tuma, pelo PFL, pode não ter o maior charme pessoal do mundo, mas
até hoje não descobri os encantos de Erundina tampouco.
Tuma pode aparecer como ``homem da lei’’ e ao mesmo tempo absorver
os órfãos do malufismo. Seria um bom produto para uma campanha milionária.
O eleitorado paulistano é de direita, e a direita está sem candidato.
Geraldo Alckmin, pelo PSDB, talvez não incomode ninguém, está delicadamente
à direita de Marta e Erundina, mas, apesar de simpático, parece uma
Marta desprovida de falo.
* * *
O interessante é saber por que o PFL nunca se implantou em São Paulo.
Repete-se um padrão histórico. No Estado mais rico da Federação, houve
a tendência para se criarem partidos à margem dos partidos nacionais.
O trabalhismo do PTB getulista não funcionou no Estado que tinha maior
contingente de operários. Havia o ademarismo. O PSD, partido governista
por excelência no período de 1945-1964, também foi fraco em São Paulo.
E o PMDB só sobrevive, atualmente, fora do Estado.
Arrisco uma hipótese. Partidos como o PSD ou, agora, o PFL, foram
menos agremiações de caráter nacional do que coligações de interesses
regionais. Formaram uma espécie de ``frente fisiológica’’ para contrarrestar
a influência paulista na economia federal. Os políticos paulistas,
com seus ``ismos’’ --ademarismo, quercismo, malufismo-- defendiam
a fisiologia paulista contra todas as outras fisiologias estaduais
reunidas.
Implantar-se em São Paulo não depende, portanto, apenas de o PFL ocupar
uma vaga junto ao eleitorado conservador. Depende de um novo pacto
fisiológico, onde a Bahia que lutou pela instalação da Ford se alie
aos setores decadentes do empresariado paulista, necessitados de uma
ajudazinha federal depois do vendaval da globalização. E --isto aliás
já acontece-- de uma aliança com os correspondentes setores do operariado
que também sofrem com o processo; ACM e Medeiros defendendo o aumento
do salário mínimo é um exemplo transparente do que acontece.
Para essa estratégia, o escândalo Pitta veio muito a calhar.
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