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Marcelo Coelho
  28 de abril
  Banda podre
 
   
Há cerca de vinte anos, todo discurso contra o poder militar tinha de ser cuidadoso. Ninguém dizia o que pensava: que vivíamos numa ditadura, que os governantes eram usurpadores do poder popular.
Hoje em dia, apesar de o general Alberto Cardoso aparentemente dar as cartas no que diz respeito a repressão e a autoritarismo _vide a violência que marcou a comemoração dos 500 anos na Bahia_, a rigidez militar não inspira mais temores na sociedade civil.
Vejo, entretanto, um mecanismo intimidatório parecido, a tolher a democracia brasileira.
Não há governante eleito que não tenha medo de sua própria polícia. Garotinho transigiu com a chamada ''banda podre''. Em São Paulo, o secretário da segurança, Marco Vinício Petreluzzi, pode bem ser um varão de Plutarco, mas não consegue dar conta da violência desenfreada que se verifica cotidianamente.
No fundo, a questão da segurança se confunde com a da governabilidade. Imagino a seguinte situação.
É eleito um governador puro, limpo, a favor dos direitos humanos, empenhado em limpar a polícia de sua banda podre.

Muito bem. O que acontece?
A banda podre da polícia pode exercer com facilidade seu poder de reação. Não são necessários mais de cinquenta homens bem-treinados para desencadear uma onda de sequestros sem precedentes. Vinte sujeitos podem explodir a sede do Banco do Brasil.
Uma vez, fui fazer uma reportagem no Senado Federal. Eu estava vestindo terno e gravata. Entrei no prédio, subi no elevador, sem que ninguém perguntasse quem eu era. Eu tinha de cobrir uma entrevista de Armínio Fraga. Na sala onde se dava a entrevista, tudo bem, me revistaram. Mas antes de topar com a sala da entrevista, circulei impune pelos gabinetes dos senadores, sem que ninguêm me pedisse um crachá.
Conseguir um crachá, aliás, foi facílimo. Indicaram-me o gabinete da Imprensa, e minha palavra valeu: declarei-me jornalista, deram-me o crachá sem que provasse a veracidade do fato, e lá estava eu a vinte metros de muitos senadores que poderia fuzilar.
Não deixa de ser democrático, de ser republicano. Mas era indiscutível a subserviência escrava dos funcionários que me atendiam gentilmente, que me davam crachás. Eu era branco e tinha terno.
Voltando ao assunto. É facílimo, portanto, desestabilizar um governo. Imagine-se o que se passa pela cabeça de alguns policiais qualificados, diante das iniciativas democráticas deste ou daquele governador. O poder não está com o governador, mas sim com os policiais.
Não resta ao governador _a qualquer governador_ senão conciliar-se com os verdadeiros donos do poder, isto é, os donos das armas, os donos da favela. Entre um traficante de prestígio e um capitão que tortura e mata, a escolha é das mais complicadas. Governar, hoje em dia, significa decidir com que tipo de criminosos há conciliação.
Caso contrário, a desestabilização de um governo é questão de dias, ou de horas. Depois pensamos que é bom não viver na Colômbia. Estamos bem perto, acho.


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21/04/2000 - Pacto Fisiológico

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