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Pitta
voltou. Vejo as fotos. Ele comemora ao lado de seus companheiros de
descrédito: Brasil Vita, Wadih Mutran, Miguel Colasuonno. Deve estar
contente. Mas não vejo muita razão para esse contentamento. Decida
o STJ o que quiser, Pitta está destruído. Nos meses que lhe restam
de governo, não modifica mais seu destino político.
A pirueta judicial que agora o beneficia não tem significado concreto.
São Paulo estava sem governo, continua sem governo. Pitta já não existia
há muito tempo. Régis de Oliveira foi uma alucinação visual, uma holografia.
Pitta volta à insustentável leveza do não-ser.
Quando o vejo saudado por vereadores e camelôs, é como se Pitta não
reassumisse a prefeitura, mas estivesse recebendo uma medalha, um
título de comendador providenciado por uma associação de fundo de
quintal. Um diploma do gênero ''presidente emérito dos mascadores
de chiclete de Santo Amaro'', ''amigo perpétuo dos jogadores de dadinho
do Cambuci'' ou coisa que o valha.
Pitta se torna, afinal, o prefeito de um minúsculo agrupamento de
correligionários. O tempo e a amplitude de seu poder estão reduzidíssimos;
trata-se apenas de raspar o tacho.
Se o quadro é patético, o período de Régis de Oliveira foi ridículo.
Aquele secretariado parecia uma reunião de condomínio que acaba por
falta de quórum. Ou uma festa do tipo ''venha como estiver'' _juntam-se
alguns conhecidos, o vizinho, o parente do Espírito Santo que estava
passando as férias na cidade, o primo farmacêutico...
Não chegava sequer a constituir-se numa curriola; era um acampamento
de ex-escoteiros que, subitamente, e com falsa surpresa, descobrem
que nunca tinham sido escoteiros e que ninguém sabia montar uma barraca.
Nos dois casos, entretanto, o de Pitta e o de Régis, o que é espantoso
é o aspecto ''privado'', não propriamente íntimo, mas centrípeto,
clandestino, condominial da equipe no poder.
Passamos do convescote alucinado a um chocho carnaval no bunker; mas
o aspecto privê de toda a tragicomédia supera as diferenças de ambientação
e o perfil dos personagens que se alternam.
No fundo, acho que isso reflete bem o que acontece na cidade de São
Paulo. A degradação urbana, moral e política de nosso cotidiano se
exprime, sobretudo, pela total ausência de vida pública. Refiro-me
a coisas simples, como andar pela rua, sentar num banco de praça,
ler um jornal.
O interesse privado, na sua forma mais pura, domina a mente dos habitantes
de São Paulo; não merecem sequer ser chamados de cidadãos. Por diversas
razões, algumas compreensíveis, outras não, tudo por aqui se resume
a sobreviver fisicamente, enchendo a barriga sempre que possível.
A conversa do paulistano de classe média se resume a restaurantes
e assaltos; a sequestros-relâmpago e liquidações. Até futebol é um
assunto desinteressado e altruísta demais _não se ganha nada discutindo
o tema_ para que ocupe o primeiro plano da conversa; de resto, não
há tempo.
Se o interesse privado predomina dessa forma, é natural que a administração
pública se torne muito pouco pública. A cidade está numa situação
de total abandono. Culpa de Pitta e de Maluf, certamente, mas seus
próprios moradores já a abandonaram também.
Leia colunas anteriores
09/06/2000 - Parados na Paulista
02/06/2000 - A raiva de Covas
26/05/2000 - Não tem conversa
19/05/2000 - Missão cumprida
12/05/2000 - Isto não é
um cassetete
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