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Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  10 de outubro
  Câncer virtual
   
   

Sempre ouvi dizer que quando os médicos não sabem o que o doente tem, dizem com a firmeza das certezas inapeláveis: "É um vírus". Pronto. O sujeito pode estar simplesmente resfriado, ou a um passo do enfarte fatal, tudo bem, não é nada, ele está com um vírus.

Durante séculos a humanidade morreu de diversas formas, de peste, de fome, de guerra, de doenças específicas como a lepra, a tuberculose. Ninguém morria de vírus. Daí que nunca me importei com eles, até o bendito dia em que comprei o primeiro computador, um 496 hoje aposentado.

O cara que veio me ensinar os macetes me alertou sobre os vírus eletrônicos. Na realidade, só tentou me ensinar como evitá-los, expurgá-los e odiá-los. Por mais que ele insistisse, não consegui me entusiasmar no ódio contra o vírus, pois achava que, tal como na medicina comum, o vírus não era de nada.

Não dou bola nem mesmo quando o João Ubaldo, que também tem horror aos vírus e alerta seus correspondentes contra a malignidade deles, manda avisos terríficos contra os inimigos de sua cidadela virtual.

Até que meu dia chegou. Minha amiga Isa Pessoa, editora da Objetiva, mandou-me carinhoso e-mail cobrando-me uma tarefa. Acompanhando sua mensagem, entrou uma outra, pedindo desculpas em inglês: "I am sorry".

Muita gente já sabia desse vírus, menos eu, que sou desligado dessas coisas. Abri o e-mail e, por Júpiter!, foi uma devastação. Como tenho mais dois notebooks em rede, todos ficaram contaminados. Tive de apelar para entendidos, zeraram tudo, deletaram todos os meus programas, instalaram outros, perdi tempo e dinheiro com isso.

Descobri que todos têm razão no ódio contra o vírus. Só que o nome deve estar errado. Pelo modo como se espalha e é letal, merecia ser chamado de câncer - ainda que um câncer virtual.


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