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Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  3 de outubro
  Óleo de fígado de bacalhau
   
   

Bacalhau tem fígado? Numa época de muitas perguntas e raras respostas, não colaboro para a paz geral trazendo mais um enigma à consciência de cada um. Jamais me preocupei com o bacalhau e muito menos com o seu fígado, se acaso ele - o bacalhau - possui um.

Era comum esse tipo de remédio para anemias, fraquezas, subnutrição, o diabo. O tempo passou e eu deixei para trás a lembrança dos três substantivos enfileirados, fazendo um sentido surrealista: óleo de fígado de bacalhau.

Fígado tem óleo? Tendo ou não tendo, curava todos os males, desde anemias a tuberculoses, unhas encravadas, depressão psíquica e esgotamento físico. Depois de meditar sobre os três substantivos que nunca deveriam estar juntos (seria o mesmo que fabricar uma "essência de carburador de castiçal"), - tentei inverter a sequência, obtendo o bacalhau de fígado de óleo.

Pior é a extravagante operação: pega-se o bacalhau de boa procedência (Mar do Norte ou Báltico), e dele se extrai as vísceras. Separa-se o fígado (se é que realmente ele existe). Parece receita de magia negra, mas é apenas a primeira etapa do remédio. Separado o fígado, espreme-se o próprio, até obter o óleo.

Só mesmo um animal como o homem, sem escrúpulos, esgoísta e predatório como o homem poderia chegar a esse ponto: pescar o bacalhau, matá-lo, estripá-lo, separar o fígado e... espremê-lo! Evidente que, depois de espremido, o bacalhau reduzido a fígado e em forma de óleo deveria servir para alguma coisa. Experimenta aqui, experimenta ali, e depois de testado em lubrificação de motores, iluminação pública e pavimentação de estradas, alguém decidiu beber a preciosidade.

Se não matasse, deveria ajudar a viver. Ou seja: ajudar o homem a cometer aberrações iguais, não apenas com as palavras mas contra os animais - se é que o bacalhau, além de possuir fígado, mereça ser incluído entre os animais.


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