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Bacalhau
tem fígado? Numa época de muitas perguntas e raras
respostas, não colaboro para a paz geral trazendo mais um
enigma à consciência de cada um. Jamais me preocupei
com o bacalhau e muito menos com o seu fígado, se acaso ele
- o bacalhau - possui um.
Era comum esse tipo de remédio para anemias, fraquezas, subnutrição,
o diabo. O tempo passou e eu deixei para trás a lembrança
dos três substantivos enfileirados, fazendo um sentido surrealista:
óleo de fígado de bacalhau.
Fígado tem óleo? Tendo ou não tendo, curava
todos os males, desde anemias a tuberculoses, unhas encravadas,
depressão psíquica e esgotamento físico. Depois
de meditar sobre os três substantivos que nunca deveriam estar
juntos (seria o mesmo que fabricar uma "essência de carburador
de castiçal"), - tentei inverter a sequência,
obtendo o bacalhau de fígado de óleo.
Pior é a extravagante operação: pega-se o bacalhau
de boa procedência (Mar do Norte ou Báltico), e dele
se extrai as vísceras. Separa-se o fígado (se é
que realmente ele existe). Parece receita de magia negra, mas é
apenas a primeira etapa do remédio. Separado o fígado,
espreme-se o próprio, até obter o óleo.
Só mesmo um animal como o homem, sem escrúpulos, esgoísta
e predatório como o homem poderia chegar a esse ponto: pescar
o bacalhau, matá-lo, estripá-lo, separar o fígado
e... espremê-lo! Evidente que, depois de espremido, o bacalhau
reduzido a fígado e em forma de óleo deveria servir
para alguma coisa. Experimenta aqui, experimenta ali, e depois de
testado em lubrificação de motores, iluminação
pública e pavimentação de estradas, alguém
decidiu beber a preciosidade.
Se não matasse, deveria ajudar a viver. Ou seja: ajudar o
homem a cometer aberrações iguais, não apenas
com as palavras mas contra os animais - se é que o bacalhau,
além de possuir fígado, mereça ser incluído
entre os animais.
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26/09/2000 - A
selva do asfalto
19/09/2000
- O
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12/09/2000 - O
Homem e o animal
05/09/2000 - Salto
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29/08/2000 - Mundo
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