NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Clóvis Rossi
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Nelson de Sá
Vaguinaldo Marinheiro

Gilberto Dimenstein
gdimen@uol.com.br
  5 de dezembro
  O teste do sequestro
 

Num batismo da delinquência, adolescentes são aceitos nas quadrilhas depois de praticarem um sequestro-relâmpago, demonstrando coragem, habilidade e disposição de obedecer às ordens dos superiores hierárquicos.

O teste vem sendo aplicado por gangues de regiões na Zona Leste, em São Paulo, deixando horrorizados líderes comunitários, acuados pela lei do silêncio.

Sequestrar alguém e sacar seu dinheiro de um caixa eletrônico é um dos crimes que mais crescem em São Paulo _ cresce a tal ponto que policiais sugerem aos clientes só entrar nos caixas em lugares movimentados, como aeroportos ou shoppings.

Fazer parte de uma gangue é uma questão de status, de respeitabilidade pública; sequestros transformados em provas de coragem e obediência convertem-se em rituais de iniciação.

A lógica desse ritual é a própria lógica do crime. Não há uma ligação direta entre criminalidade e pobreza _mas entre criminalidade e marginalidade, que fomenta a percepção de exclusão.

A gangue representa, de um lado, a raiva e, de outro, a vontade de ser aceito, de se fazer integrante de um grupo. Torna-se, então, uma traço cultural.

Reportagem da Folha, publicada domingo passado, de Alessandro Silva e Gabriela Athias, revelou que um em cada cinco internos da Febem vem de apenas cinco bairros de regiões marcados pela baixa escolaridade, alto desemprego juvenil e crime organizado, movido pelas drogas.

Essas regiões são vítimas das mais variadas ausências de poder público: faltam juizes, professores, policiais. Faltam áreas de lazer, escolas, água e esgoto encanado.

O crime passa a ser das poucas coisas organizadas, substituindo o poder público e fornecendo emprego para quem dificilmente vai conseguir emprego, num momento em que se exige diploma de segundo grau, como ocorre em muitas empresas, até para faxineiro.



Leia colunas anteriores

28/11/2000 - Receita ataca contas bancárias
21/11/2000 - Procuram-se trabalhadores
14/11/2000 -
Latrocínio despenca em São Paulo
07/11/2000 - Recado da eleição americana aos brasileiros
31/10/2000 - Urbanista vai virar novo guru


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.