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  1º de agosto
  A última do Pitta
  Nós, jornalistas, somos seres humanos. Também cometemos, que diabo, os nossos erros de avaliação. Eu mesmo, devo confessar, jamais imaginei que Pitta ainda pudesse dar tamanha prova de força. Sobretudo depois da extenuante guerra contra Nicéa.
Para mim, a despeito de os vereadores terem se negado a providenciar o enterro, o prefeito estava morto. De modo que foi com certa estupefação que recebi a notícia de que Pitta decidiu enfrentar a classe social que mais cresce hoje no país: a dos mendigos. Eis um gesto de coragem.
Os miseráveis são os verdadeiros emergentes. Não bastasse o fato de continuarem existindo, uma afronta à nova ordem, passaram a existir em número cada vez maior.
A coisa estava mesmo passando dos limites. O que era um cisco no olho das classes abastadas, acabou virando uma mancha na paisagem urbana. Passava da hora de alguém dar um basta à petulância dessa gente.
Pitta investe contra os indigentes na principal trincheira deles: os viadutos. É onde gostam de exibir a sua existência vegetativa, só para aparecer mais. É ali, diante das janelas dos carros, que ganham aquela hedionda aparência de vítimas.
A prefeitura agiu com pulso firme: confiscou os bens da bugrada. Sim, a choldra tem bens. Encontraram-se carroças de catar papel, roupas, cobertores, alimentos, remédios e, veja você, até o material escolar de um menino de 13 anos.
O rigor é, neste caso, essencial. Não basta eliminar a ameaça estética. É preciso desarmar a bomba demográfica. Pitta, de resto, apenas se adapta ao seu tempo. A exclusão é uma sentença que já vem embutida no modelo. Inútil preservar a fachada humanista diante de um sistema que dispensa o humano.
Assim, Pitta antecipa a fatalidade anunciada. Ganha tempo. Não podendo esterilizar a sobra social, cuida para que existência dela seja encurtada ao máximo.
A fatia bem-nascida da sociedade paulistana aprovou a ação de Pitta. O aplauso veio na forma de um silêncio gritante. Um silêncio sorridente. Animado com o apoio recebido, o prefeito prepara uma nova demonstração de força.
A Prefeitura planeja agora declarar guerra aos cachorros que emporcalham as ruas dos bairros chiques da cidade. Pitta mexe com fogo. Cachorro não é mendigo. Higienópolis pegará em armas para defender o coco de seus poodles. Barricadas serão erguidas nos Jardins.


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