O
Brasil discute a constitucionalidade de uma lei que permite salários
mínimos diferenciados por região e de projetos à
beira da sanção presidencial que dão poderes
à Receita para ampliar as investigações sobre
sonegação fiscal.
Essas
medidas não me parecem corretas. Elas são, do ponto
de vista político, econômico, social etc., mais do
que corretas.
Que
mal há em permitir que uma região economicamente mais
forte fixe um salário mínimo superior aos atuais R$
151 e aos prometidos R$ 180?
E combater
a sonegação fiscal, então? Nada mais justo.
O senador Antonio Carlos Magalhães, sempre disposto a faturar
politicamente em cima de um fato que reescreva sua biografia, já
disse que, entre a moralidade e a constitucionalidade, optará
pela primeira. No caso, acha correto levar adiante os projetos que
fortalecem o Leão, mesmo que contrariem a Constituição.
Tudo
estaria maravilhoso não fosse um problema que merece reflexão:
a constitucionalidade dessas medidas.
Os
Estados Unidos, apesar de toda a patriotada tupiniquim ter se vangloriado
de ver o Tio Sam com problemas para contar votos na Flórida,
encerraram com elegância uma rusga política após
uma decisão da Suprema Corte. Ou seja, bastou a voz da lei
(no caso, de quem zela pelo cumprimento dela).
Na
Metrópole, estava em jogo a Presidência. Demos risada
da confusão em que os gringos se meteram, mas será
que o Brasil evitaria uma crise política numa situação
semelhante? Tenho dúvida. Quando discutimos constitucionalidade,
devido a nossos problemas sociais, sempre arrumamos um jeito de
dizer que, em nome da legitimidade etc e tal., podemos dar um jeitinho
e deixar a lei de lado.
Não
quero defender sonegadores, os maiores interessados em derrubar
os projetos de lei já aprovados para reforçar a Receita.
Mas deveríamos levar mais a sério essa discussão
sobre constitucionalidade.
Ainda
que fosse para proteger quem não merece, o respeito à
Constituição deveria, pelo menos, suscitar um debate
mais rico do que o que se trava: defensores de sonegadores contra
os perseguidores de empresários e bancos em dificuldades
fiscais.
Afinal,
depois de mais de 20 anos de uma ditadura militar, o país
elegeu constituintes que, bem ou mal, fizeram um documento que na
democracia pode até incomodar, mas que faz uma falta danada
nos períodos de obscurantismo. Seria melhor dar mais crédito
a ele.
PS
- Pelos argumentos que li em reportagens e artigos, acho legais
os projetos que permitem à Receita investigar com mais eficiência
os sonegadores. A respeito do mínimo diferenciado, estaria
chutando se opinasse.
Leia colunas anteriores
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1º/12/2000 - A armadilha contra
ACM
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é bom até com caixa-dois
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