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20 de abril |
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Cannes
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O anúncio
anteontem da lista oficial de selecionados para o 53º
Festival de Cannes marcou outro triunfo da Internet. Pela primeira
vez, a tradicional entrevista coletiva com o diretor do evento, Gilles
Jacob, foi substituída pela simples publicação on line dos escolhidos.
Nada que surpreenda. Em janeiro último, o Sundance foi tomado pelas
novas empresas que apostam num futuro próximo e radiante para o cinema
on line.
Berlim, um mês depois, transmitiu ao vivo pela web pela primeria vez
todas as entrevistas coletivas. Não tardará o primeiro grande festival
de cinema exclusivo para a Internet _para muito além das tímidas mostras
já existentes, como a apadrinhada por Leonardo DeCaprio. É esperar
para ver.
A seleção de quatro títulos nacionais (dois longas, dois curtas) anuncia
um bom ano para o cinema brasileiro dentro do principal evento cinematográfico
do planeta. É um oportuno sinal de vitalidade num momento internamente
difícil.
Os longas escolhidos trazem um feliz contraste entre a consagrada
geração do Cinema Novo e as revelações já da era pós-Embrafilme. Ruy
Guerra volta à mostra competitiva com sua adaptação da novela "Estorvo",
de Chico Buarque.
Concorre pela terceira vez à Palma de Ouro. Tomara que "Estorvo" esteja
mais para "Erêndira" (1983) que para "Kuarup"(1989).
Andrucha Waddington ganha sua primeira vitrine internacional com a
exibição na mostra paralela Um Certo Olhar de seu segundo longa, "Eu
Tu Eles". Está em excelente companhia. Um Certo Olhar lança neste
ano outros quatro títulos de tarimbados cineastas latino-americanos
(o chileno Miguel Littin, o cubano Juan Carlos Tabío, o mexicano Arturo
Ripstein, a venezuelana Fina Torres).
Celebre-se ainda a seleção de dois curtas, ainda que Cannes represente
para o formato muito menos que um festival específico como Clermont-Ferrand.
"Três Minutos" é outro tocante estudo feminino assinado pela gaúcha
Ana Luíza Azevedo. Vai fazer bonito na disputa pela Palma de Ouro
para curtas. Concorrendo ao prêmio da Cinefondation, a animação de
bonecos "De Janela Para o Cinema", de Quiá Rodrigues, deve encontrar
generoso abrigo junto ao coração cinéfilo dos franceses.
Uma palavra sobre a competição oficial. É emocionante ver Nagisa Oshima
de volta após longa enfermidade, um filme roteirizado por Bergman
sempre faz bem à alma, será curioso conferir o musical de Lars von
Trier e Olivier Assayas tem tudo para consagrar-se de vez como o novo
grande cineasta francês, mas nada supera a expectativa quanto ao novo
longa do sueco Roy Andersson. Seu curta minimalista "Mundo de Glória"
representou um dos momentos mais poderosos de cinema da década passada.
Se Andersson acertou a mão, será difícil roubar-lhe a Palma.
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