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  17 de julho
  Ciência em Dia
 

O Genoma verde e amarelinho
Tomo emprestada idéia de título utilizada em editorial da Folha de sexta-feira porque ele sugere, de modo feliz, o ufanismo que tomou conta da divulgação do sequenciamento da Xylella fastidiosa por uma rede de pesquisadores brasileiros (leia reportagem de Ricardo Bonalume Neto sobre o anúncio). Essa bactéria é responsável pela doença do amarelinho nos laranjais, causadora de prejuízos superiores a US$ 100 milhões anuais para a safra nacional da fruta.
Ufanismo deveria ser injustificável, por definição, mas neste caso cabe, sim, certo orgulho nacional. Não é todo dia que uma pesquisa realizada no Brasil ganha a capa da renomada "Nature". Em verdade, foi a primeira vez e houve até editorial elogiando. Nessa revista britânica foram publicados trabalhos seminais da biologia no último século e meio, como o artigo de James Watson e Francis Crick sobre a estrutura de dupla hélice do DNA, em 1953. Boa companhia, portanto.
O esforço de sequenciamento (leitura) do DNA da Xylella reuniu uma rede de 116 pesquisadores espalhados por 35 laboratórios, sob coordenação da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). A idéia inicial de fazer um Projeto Genoma no Brasil partiu do bioquímico Fernando Reinach, da USP, que viria a ser um de seus coordenadores. Foi rapidamente apoiada pelo físico José Fernando Perez, diretor científico da Fapesp. Outra peça-chave foi Andrew Simpson, do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer de São Paulo, que coordenou o trabalho de sequenciamento propriamente dito.
Antes do artigo na "Nature", a centena de cientistas já havia sido recebida com pompa pelo governador de São Paulo, Mário Covas, e pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Medalhas, honrarias, consagração. Ainda na semana passada, terça-feira, Simpson foi à reunião da SBPC em Brasília e colheu mais louros.
Todos merecidos, claro. Mas um velho provérbio recomenda que não se deve dormir sobre os louros. Na entrevista coletiva de anúncio do histórico artigo na "Nature" e depois em artigo para a Folha, o diretor científico da Fapesp alertou para a provável carência de um tipo particular de pesquisador, o especialista em bioinformática (computadores e programas elaborados são imprescindíveis para pôr na ordem certa os milhões de letrinhas A, T, C e G que resultam do sequenciamento).
Do ponto de vista científico, o estudo biomolecular da Xylella apenas começou. Agora é que vem a parte mais difícil, detalhar o funcionamento dos genes e proteínas que a bactéria usa para atacar a planta, na esperança de conseguir desarmar esses mecanismos e combater a doença agrícola com mais eficácia.
Do lado da política científica, igualmente, os US$ 13 milhões investidos no projeto são apenas o começo. Outros vários milhões já estão sendo aplicados em novos projetos genoma (cancro cítrico, cana-de-açúcar, câncer), com participação ainda modesta da iniciativa privada, mas é fundamental garantir a justa remuneração dos cientistas que o genoma da Xylella forjou e a formação continuada de novos pesquisadores, em particular na área de bioinformática.
Sem isso, os frutos do genoma vão definhar como as laranjas atacadas pelo amarelinho.



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