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O IBGE nos informa que 6 mlhões de brasileiros (os 10% mais
pobres da população ocupada)
ganham R$ 55,00, em média, por
mês. Ou seja, recebem um terço
do salário mínimo. Por outro la
do, os 10% mais ricos teriam um
rendimento médio mensal de R$
2.402,00. Não sou especialista no
assunto, mas, para mim, nenhu
ma das duas cifras faz sentido.
Vou dar um argumento banal.
Tenho, sobre minha mesa, os
classificados de um jornal do Rio.
A capa do caderno traz ofertas de
imóveis populares da periferia da
cidade. Me detenho sobre a foto
de uma casinha de dois quartos
na Estrada da Posse, em Campo
Grande, a 60Km do centro do
Rio.
A casa com 100% de financiamento do Caixa Econômica
Federal custa R$ 38 mil e a
renda familiar mínima exigida é
de R$ 1.400,00 por mês.
De acordo com o IBGE, metade
da população com mais de dez
anos de idade e com rendimento
ganha até dois salários mínimos
por mês e 80% chegariam no máximo a 4,3 salários mínimos, o
que dá R$ 650,00 por mês.
Voltemos ao anúncio do imóvel. A casinha da Estrada da Pos
se só está acessível às famílias
com renda familiar mínima de
9,27 salários mínimos.
Pelos estatísticas do governo,
90% dos trabalhadores não
preenchem essa pré-condição e
não poderiam, só com sua renda
individual, comprar aquela casa
popular na Baixada Fluminense.
Tendo a acreditar repito, sem
embasamento científico que os
números oficiais não espelham a
realidade pois deixariam de cap
tar a imensa economia informal
do país. Talvez até maior do que
a economia real.
Tomo por base novamente a
PNAD (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) divulga
da quinta-feira (20 de julho) pelo
IBGE. Ela mostra que 125,9 milhões de brasileiros (79% da população) vivem em cidades e,
consequentemente, precisam
comprar o que consomem.
Recentemente, estive em uma
favela nos fundos da Baía da
Guanabara, onde a maior parte
dos barracos ainda é de tábua. Os
barracos estão sobre palafitas e
próximos a um lixão. A associa
ção de moradores local fez uma
pesquisa entre os moradores e
constatou que a renda média familiar, mesmo naquele local mi
serável, é de 3,5 salários mínimos.
Não consigo imaginar onde estariam morando os 6 milhões de
brasileiros que recebem um terço
do salário mínimo. Em meus
quase trinta anos de repórter, só
testemunhei situação semelhante
à descrita pelo IBGE entre as populações ribeirinhas dos rios da
floresta amazônica. Não tenho
como contestar os números oficiais, mas, pessoalmente, acho
que a realidade é menos ruim do
que eles sugerem.
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