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elobato@uol.com.br
  22 de julho
  Que país é esse?
  O IBGE nos informa que 6 mlhões de brasileiros (os 10% mais pobres da população ocupada) ganham R$ 55,00, em média, por mês. Ou seja, recebem um terço do salário mínimo. Por outro la­ do, os 10% mais ricos teriam um rendimento médio mensal de R$ 2.402,00. Não sou especialista no assunto, mas, para mim, nenhu­ ma das duas cifras faz sentido.
Vou dar um argumento banal. Tenho, sobre minha mesa, os classificados de um jornal do Rio. A capa do caderno traz ofertas de imóveis populares da periferia da cidade. Me detenho sobre a foto de uma casinha de dois quartos na Estrada da Posse, em Campo Grande, a 60Km do centro do Rio.
A casa com 100% de financiamento do Caixa Econômica Federal custa R$ 38 mil e a renda familiar mínima exigida é de R$ 1.400,00 por mês.
De acordo com o IBGE, metade da população com mais de dez anos de idade e com rendimento ganha até dois salários mínimos por mês e 80% chegariam no máximo a 4,3 salários mínimos, o que dá R$ 650,00 por mês.
Voltemos ao anúncio do imóvel. A casinha da Estrada da Pos se só está acessível às famílias com renda familiar mínima de 9,27 salários mínimos.
Pelos estatísticas do governo, 90% dos trabalhadores não preenchem essa pré-condição e não poderiam, só com sua renda individual, comprar aquela casa popular na Baixada Fluminense. Tendo a acreditar repito, sem embasamento científico que os números oficiais não espelham a realidade pois deixariam de cap­ tar a imensa economia informal do país. Talvez até maior do que a economia real.
Tomo por base novamente a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulga da quinta-feira (20 de julho) pelo IBGE. Ela mostra que 125,9 milhões de brasileiros (79% da população) vivem em cidades e, consequentemente, precisam comprar o que consomem.
Recentemente, estive em uma favela nos fundos da Baía da Guanabara, onde a maior parte dos barracos ainda é de tábua. Os barracos estão sobre palafitas e próximos a um lixão. A associa­ ção de moradores local fez uma pesquisa entre os moradores e constatou que a renda média familiar, mesmo naquele local mi­ serável, é de 3,5 salários mínimos.
Não consigo imaginar onde estariam morando os 6 milhões de brasileiros que recebem um terço do salário mínimo. Em meus quase trinta anos de repórter, só testemunhei situação semelhante à descrita pelo IBGE entre as populações ribeirinhas dos rios da floresta amazônica. Não tenho como contestar os números oficiais, mas, pessoalmente, acho que a realidade é menos ruim do que eles sugerem.


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