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Tiros,
bombas de gás, porretes, sangue no rosto, cadáver. Nos últimos dias,
as cenas de violência em manifestações públicas voltaram a chocar
o país. Começou na "festa dos 500 anos", quando a truculência comandada
do Planalto resolveu reprimir um protesto antes que ele ocorresse.
Nesta semana, no Paraná, a polícia local resolveu seguir o exemplo
e brecar o movimento na estrada. Um integrante do MST, pai de cinco
filhos, morreu.
O presidente Fernando Henrique Cardoso mandou dizer que a morte "deve
servir de alerta para aqueles que optaram pela provocação e pelo desrespeito
à democracia e à cidadania". Então agora é assim? É na base da bala?
E a polícia pode parar ônibus nas estradas e impedir a possibilidade
de protesto? Com tiros? Em que democracia estamos?
O governo alega que os sem-terra passaram dos limites invadindo prédios
públicos. Que isso fere a democracia e que "o país quer um basta à
desordem". Fico arrepiada só de imaginar o que esse "basta" possa
significar. Mais balas?
Todos os anos essa guerra social provoca cadáveres. Foram nove sem-terra
e dois PMs em Corumbiara (RO) em agosto de 95. Em abril de 96, em
Eldorado dos Carajás (PA), 19 sem-terra foram assassinados. Em 97,
mais sete mortos em vários confrontos. Em 98, oito. Em 99, mais um.
Há poucos dias, no Pontal do Paranapanema (SP), o presidente da UDR
(entidade dos proprietários rurais) classificou o clima local como
o de uma "guerra civil". "Correrá sangue", vaticinou.
Isso para falar dos conflitos rurais. Em plena cidade de São Paulo,
a ação da PM durante a desocupação de prédios na zona leste (em lugar
conhecido como Fazenda da Juta) matou três em 97. No Distrito Federal,
um jardineiro morreu durante repressão policial a um protesto no ano
passado.
São histórias pingadas que lembram a Velha República. Naquele tempo,
a questão social era caso de polícia. Qualquer protesto era reprimido
com violência. Será que não dá para evoluirmos? Para uma democracia
com espaço para o protesto? Sem cadáveres?
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27/04/2000 - Dois
jovens surpreendem nos 500 anos
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