O
papo pode parecer meio cabeça, mas não é
nada que um seriado teen da Sony depois não dê
uma aliviada.
José
Saramago, renomado escritor português, concedeu entrevista
ao jornalista Cassiano Elek Machado, da Folha, texto
que ilustrou a "Ilustrada"
do último sábado.
Do
bate-bola do velho Nobel de Literatura com o jovem Cassiano,
talentoso (e raro) nome a se acompanhar no atual jornalismo
cultural, deu para perceber que o autor de "O Evangelho
Segundo Jesus Cristo" (o único livro dele que
eu li) anda preocupado e pessimista.
Saramago
vai lançar "A Caverna" amanhã e
está encanado com o ser humano. Esse ser humano esquisito
da geração "shopping center", esse
espaço fechado, essa enorme caverna que virou a atual
fonte de informação, dita o novo modo de pensar
e faz pessoas viver à sombra da realidade.
Já
dormiu?
Continuando,
Saramago me fez pensar no nosso mundinho pop, nossa música
sarada, a TV, essas rádios bacanas e modernas, seus
ouvintes preguiçosos, as gravadoras e a imprensa
cultural em geral, desta que o Cassiano aí de cima
compõe um seleto times de exceções.
Saramago,
meu velho, você não sabe o que é caverna!
*
Fui recentemente a St. Louis, cidade rastaquera do meio-leste
americano com 700 mil habitantes. No chamado "downtown",
percorri três lojas de discos muito ruins (comparadas
com as de grandes centros) e sai de mãos vazias de
novidades. Liguei o rádio e procurei uma rádio
rock. Achei a The Point FM. As cinco primeiras bandas que
ouvi: At the Drive In, Radiohead, Moby, Eminem e Bauhaus
(!). Modernidade, velharia, rap e eletrônico. Aqui
no Brasil, se você ligar o rádio agora, neste
momento, os cinco primeiros grupos a ser ouvidos são
Chili Peppers, a "nova" do Green Day, Capital
Inicial, Chili Peppers e Chili Peppers.
*
Mais de St. Louis. Fui enviado para conferir a turnê
Anger Management, estrelada por grupos malditos como Limp
Bizkit, Eminem, Papa Roach e Xzibt. Os caras estão
varrendo a América. Onde passam, não deixam
dólar sobre dólar. Não sou fã
de Limp Bizkit, embora admire a energia da banda e o carisma
do líder, Fred Durst. Gosto de Eminem e me impressionei
com o pique ao vivo do rapper branquelo. Não conhecia
Papa Roach, que vem ao Rock in Rio, e fiquei com uma boa
impressão do pique e do peso desta banda de moleques
da Califórnia.
St.
Louis é uma cidade vazia. Pouca gente circula pelas
ruas no Centro. Na noite do show, uma segunda-feira chuvosa,
10 mil moleques entupiram o ginásio da cidade e pela
cara na saída se divertiram muito. Do lado de fora,
a The Point FM agitava a porta do estádio distribuindo
CDs gratuitos, adesivos da turnê e outras promoções.
Aqui no Brasil, uma banda pop desencanada, como a Bloodhound
Gang, no auge e com uma turnê deliciosa, faz o mesmo
show que lota Inglaterra, França, EUA, Japão
e Chile para cerca de 1/5 a capacidade do Credicard Hall.
No Rio nem se atreveram a marcar show. Em BH, o show que
tinha foi cancelado por falta de público pagante.
*
A grande banda Pearl Jam, último bastião da
última revolução, teve uma atitude
ousada e lançou 25 CDs duplos ao vivo, resultado
de uma turnê de dois meses pela Europa. A idéia
é combater a pirataria, que certamente venderia esses
registros da banda ao vivo por uns US$ 40, US$ 50 no mercado
negro. Na empreitada, a banda fixou em US$ 14 cada um dos
discos, que vêm em capa com tratamento artístico
e, não esqueça, é duplo. Para constar,
o preço médio de um CD normal nos EUA é
US$ 18. Pois bem, a Sony do Brasil está lançando
a coleção no país por... R$ 50. Sem
levar em conta a intenção da banda, o CD tem
no Brasil o tratamento dado de um disco qualquer, a um preço
qualquer. E bem caro.
*
O mundo acabando e um grande jornal brasileiro dá
a seguinte manchete na capa de seu caderno de cultura, na
semana passada: "Ivan Lins mostra as canções
de "Pôr-do-Sol". Nas páginas internas,
uma inteirinha para o pianista que é muito elogiado
pelo Ed Motta.
*
Aí, quando um lançamento que interessa recebe
o mínimo tratamento, a coisa decola. Como foi o caso
dos quatros discos do escocês Belle & Sebastian,
que ganharam loja há umas duas semanas. Na "mainstream"
FNAC, em São Paulo, a primeira remessa de 60 cópías
de cada um dos CDs do grupo, que frequenta o mais completo
underground, desapareceu nas vendas em poucos dias. Uma
nova remessa já está sendo consumida rapidamente,
também. Na ótima loja "independente"
Velvet, que fica escondida nas Grandes Galerias, também
em SP, o dono dela, André, disse que não houve
um dia sequer desde o lançamento que não tenha
sido vendido pelo menos quatro cópias de cada B&S
nacional. O total deve empatar com a mega FNAC. E o preço
do disco nas duas não ultrapassa os razoáveis
R$ 17.
Se
o Saramago morasse no Brasil, "A Caverna" teria
mais sentido do que já certamente tem.
O
EMINEM FALA OI PARA VOCÊ
Ouça
o recadinho do Eminem para os leitores desta coluna. Clique
aqui.
U2
NOVO
Não
teve jeito. Ouvi de novo e de novo o mais recente CD da
distinta banda irlandesa do Bono Vox. Não rola. É
chato. Prefiro o novo do ultrapop Robbie Williams. Não
é uma volta às origens. Ou melhor: é.
Mas às origens dos outros, tamanha a chupação
pop do bardo inglês.
Mas
o que eu acho não interessa para 64% dos leitores
da coluna que ouviram o disco e expressaram sua opinião
pelo Mural U2 da semana passada. O que eu acho tem a ver
apenas com 27% dos ouvintes do disco novo da banda, que
o acharam ruim. Outros 27% pensam que o "All That You
Cant Leave Behind" é médio e que
o U2 já fez bem melhor.
Abrindo
um parênteses para um leitor furioso, um canal da
seção "Fala Aí: Especial Lúcio
Imbecil".
"Fiquei
estarrecido com o seu comentário sobre o novo CD
do U2. O que me parece é que você ouviu o CD
apenas uma vez e com má vontade, pois emitiu uma
opinião superficial e vazia só para criar
polêmicas. Dizer que até gosta da banda, mas
o CD é muito chato é pura demagogia
cara! Gosto não se discuti, é bem verdade.
Mas você se diz um crítico musical e tá
longe disso. O U2 volta às origens sim. Com Brian
Eno, apresenta um trabalho com conteúdo e criatividade,
mostrando velhas influências. Ou você não
enxerga na bela canção In a Little While
bons versos encaixados em simples e belos acordes do bom
rock ingês? Falta-lhe cultura musical, ou não
percebe o rock cult americano de Bob Dylan e America na
faixa Wild Honey. Você conhece Lou Reed?
Então ouça a música Peace on
Earth deste CD. Se liga cara! A boa melodia e os versos
de conteúdo ainda não morreram no rock'n roll,
graças ao bom e velho U2."
ADILSON
FERNANDES
MAIS
U2
Você
está ligado que o U2 chega ao Brasil dia 21 para
fazer um show fechado para a Rede Globo, não é?
LOU
REED
O
velho e bom Reed passou ontem (terça) por São
Paulo e terminou sua turnê sul-americana. Para quem
não viu, o site El Foco (www.elfoco.com)
mostra um vídeo da música "Ecstasy",
tirada do show do ex-líder do Velvet Underground
em Buenos Aires, na semana passada. Vê lá.
O vídeo vem acompanhado de texto dos bons.
ROBERTO
CARLOS, MORÔ?!
-
"Pra que tanto telefonema, se o homem inventou o avião
pra você chegar mais rápido ao meu coração".
-
"A medida de amar é amar sem medida".
-
"Amor igual ao seu eu nunca mais terei".
É
por causa de frases românticas como essas, que assolam
as rádios rock brasileiras, que esta coluna saúda
a volta do meu amigo Roberto Carlos. Na hora de escrever
baladas, não tem pra ninguém.
SONY
Não
vi a mínima graça neste seriado novo "Young
Americans". Caras bonitas e papo furadíssimo.
Mas não vi o resto das novidades (vendo todos os
velhos não sobram muito tempo). Algum que valha a
pena?
RESULTADO
DA PROMOÇÃO: BLUR OU OASIS?
Blur.
E com uma certa folga. Cerca de 138 e-leitores votaram.
Curta o resultado final da melhor banda do rock britânico.
Quer dizer: não era bem essa a pergunta...
Blur
- 67 votos
Oasis
- 49 votos
Pintaram
alguns votos de "nenhuma das duas" e alguns direcionados
para outros grupos. Vê só:
Nenhum
- 8 votos
Radiohead
- 5 votos
Manic
Street Preachers - 4 votos
Pulp
- 4 votos
Belle
& Sebastian - 3 votos
Outros
lembrados: Primal Scream, Electrafixion, Delgados, Verve,
Suede, Travis, Placebo.
E
os vencedores da promoção são:
Monika
Morais, PA (Oasis)
Marcelo Träsel, RS (Radiohead)
Edney Souza Carvalho, SP (Blur)
Eduardo Nassif, SP (Blur)
Daniela
Milan, SP (Blur)
GOIÂNIA
NOISE FESTIVAL
Quer
saber como foi o evento indie que tirou o sono da capital
de Goiás no último final de semana. E-mail
para fabricio_nobre@uol.com.br
que ele manda um balanço para você.
JOSÉ
SIMÃO
O
sempre divertido colunista José Simão, da
Folha, o braço armado da gandaia nacional, soltou
esta na "Ilustrada" do último dia 8:
"E
o Rock in Rio com o Gil, Milton, Sandy e Júnior,
Elba Ramalho, Moraes Moreira e a Orquestra Sinfônica
Brasileira. Isso é Rock in Rio ou Baile da Saudade?
Só tá faltando o Agnaldo Rayol. E pra entrar
nesses lugares a revista é tão rigorosa que
fazem até exame na próstata."
POR
UM MUNDO MELHOR
Fiquei
devendo da semana passada. A relação de bandas
que todos queriam ver fora do Rock in Rio (na verdade era
para abraçar a causa Rappa, mas fica besta brincar
com isso agora), em uma geral breve, é a seguinte:
*
É meio unânime: ninguém está
a fim de ver o gênio Tom Zé tirando som de
jornal.
*
Pergunta: o Sting vai levar o índio Raoni para tocar
com ele no festival?
*
Muitos (e bota muitos nisso) disseram que não vão
pagar o mico de ver o show de um cara cujo lema é
"Não vim para esclarecer, mas também
não vim para confundir pela confusão".
Fora, Zeca Baleiro.
*
Sobre os Titãs solo não vou nem comentar.
*
Mas, agora, o campeão:
Senhoras
e Senhores, eu dou ele a vocês:
CARLINHOS
BROWN
DISCOS
LANÇAMENTOS
*
Se você tiver gastar sua grana para comprar dois discos,
um nacional e outro internacional, que estes dois sejam:
*
"Parachutes", disco de estréia da ótima
banda britânica Coldplay, que sai no Brasil pela EMI.
Só a faixa "Yellow" vale o álbum.
Experimente no Napster.
*
"Brincando de Deus", da grande banda baiana de
mesmo nome, que canta em inglês. Produção
independente.
PARA
QUEM...
Viveu
o rock inglês no começo da década, uma
notícia legal. O Wonder Stuff voltou. Ainda não
tive tempo de ouvir, mas vou e depois eu digo.
PARA
QUEM...
Viveu
o rock americano no meio da década, uma notícia
legal. A banda Breeders, da Kim Deal (ex-Pixies), está
voltando. Novo álbum será gravado em janeiro.
PROMOÇÃO
DA SEMANA: O PAPO É FUTEBOL
O
futebol é pop. É por isso que vira e mexe
chegam e-mails de gente dizendo seu time ou perguntando
o meu, resolvi fazer o seguinte. Você sabe que futebol
é isso aí. Futebol é momento. Então
chegou o momento de perguntar o time do leitor desta coluna.
Este senso futebolístico, devido à quantidade
de e-mails que chega de todo o Brasil, deve ficar legal.
Vai, responde: que time é teu? (lucio@uol.com.br)
Respondendo
você corre o risco de ganhar uma cópia de "1",
coletânea dos Beatles de 27 hits que chegaram a número
1 nas paradas da Inglaterra e dos EUA.
Pimba
na gorduchinha.
BALADAS
BOAS
*
Uma das bandas precursoras do rock independente nacional,
a grande Pin Ups, está com formação
nova. Volta aos vocais da banda o melhor frontman do indie
paulistano, o Luiz Gustavo. Pedrinho, ex-Killing Chainsaw,
pega a bateria. O único que continua no grupo é
o líder e guitarrista Zé Antônio. Os
caras, parece, tocam no Sesc Belenzinho nesta sexta-feira,
programa dos mais obrigatórios. Vou confirmar legal
e botar informações um pouco mais decentes
neste espaço.
*
Neste próximo sábado, 18, rola mais uma festança
matadora do programa de rádio Garagem, da paulistana
Brasil2000FM, que vai ao ar de segunda a sexta, às
22h.
A
festa acontece no Galpão 16 (r. Fradique Coutinho,
1416, Vila Madalena, SP). Entrada, R$ 4. Consumação
R$ 6. Som: Paulão e Barcinski, os apresentadores
do programa.
Just
do it!
Até
Leia
colunas anteriores
08/11/2000 - Quero tocar no
Rock in Rio 3
1º/11/2000 - Gil e Milton
encontram Belle e Sebastian
25/10/2000 - Entrevistas com
Rob Fleming e Beck; e nenhuma entrevista com os Titãs
18/10/2000 - Caetano morreu
em 1968; Paul McCartney, em 1966
11/10/2000 - A polêmica
dos "crássicos" (ou quando o Deep Purple derrubou o Led
Zeppelin)