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Dificuldade de passar da masturbação para o sexo a dois pode atrapalhar jovens

Psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo dá dicas para adolescentes que estão de olho em 'se compor' com outra pessoa

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São Paulo

Por trabalhar há anos como estudiosa da sexualidade, a professora Carmita Abdo costuma ouvir muitas questões sobre o comportamento das pessoas na intimidade. Uma das coisas que mais perguntam a ela é se os jovens de hoje em dia não transam. Como se o uso frequente do celular e do computador transformasse adolescentes em pessoas assexuadas.

"Isso não é verdade", responde Carmita ao Folhateen. Psiquiatra, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) e professora da FMUSP, Carmita afirma que uma geração digital tem a tendência de fazer muitas coisas de maneira digital —o sexo, inclusive.

Vibrador - Isadora Brant/Folhapress

"Consequentemente, a masturbação acaba ganhando muito espaço. Os jovens, sejam meninas ou meninos, ficam diante de uma tela, diante de um vídeo pornô, ou diante de qualquer outro estímulo que escolham. Como o acesso é fácil, barato, privativo, isso se tornou uma realidade para qualquer classe social. E qualquer iniciação de que se tenha notícia raramente vai se dar em espaços não digitais."

Para Carmita, a linha do tempo da evolução da iniciação no sexo passou "da garota de programa, para o sexo entre jovens com a liberação sexual feminina, e hoje para a iniciação digital". "Com isso, necessariamente é uma iniciação masturbatória", diz ela, que é autora de livros como "Sexo no Cotidiano: Atração, Sedução, Encontro, Intimidade" (editora Contexto).

Até aí, tudo conhecido e tudo ótimo —afinal, quem não se diverte com um sexo solitário de vez em quando? O problema aparece na hora de "virar adulto" e evoluir para um modelo mais tradicional do sexo. "Neste momento, os jovens sentem dificuldade de 'se compor'", define Carmita.

"Eu sei como a minha mão age fazendo o que eu gosto, como meu vibrador tem a velocidade que eu gosto etc. Aí, quando eu tenho que me compor com alguém, muitas vezes não consigo me libertar, seja do vibrador, seja do estímulo do filme pornô para ter uma ereção, seja da textura da vagina de borracha."

É como se alguém fizesse a um adolescente a proposta de largar tudo aquilo que ele já conhece e que sabe que lhe dá prazer, para sair e enfrentar o mundo real. Por que largar a atriz do filme pornô para transar com alguém que não é exuberante como aquela mulher? Por que receber sexo oral de alguém que tem uma língua que não vai tão rápido quanto o sugador de clitóris?

"É óbvio que a resposta vai ser 'Não quero, já estou bem, por que vou substituir o excelente pelo medíocre?'", comenta Carmita. E é aqui que a especialista acha importante dar algumas dicas para quem está passando por essa fase de sair do sexo solitário e digital para o sexo da vida real.

"Podemos incluir o brinquedo erótico no repertório do casal, por exemplo. Ele entra ali no meio. Quando a intimidade vai crescendo e você vai sentindo outras vantagens que não tem com o brinquedo, que são o contato, o calor do abraço, quando estas outras vantagens se apresentam e são valorizadas, esse brinquedo pouco a pouco vai ficando em segundo plano."

"Vou descobrindo as vantagens e exclusividades do sexo corpo a corpo: o aperto que vem junto com a penetração, a saliva, o cheiro das coisas. E então vou valorando, vendo que é excitante, interessante, e vou descobrindo uma nova possibilidade", afirma Carmita.

A professora diz também que, nesse processo de passar da masturbação para o sexo a dois, não há problema algum em fechar os olhos e fantasiar. O problema surge, no entanto, quando essa alternativa temporária vira definitiva, e toda vez que for rolar sexo é preciso imaginar que se está em um lugar diferente, com outra pessoa, vivendo outra coisa.

"Temos que pensar o quanto os jovens dessa geração vão viver relacionamentos mais estáveis e ter alguma necessidade que outras gerações tiveram, como se compor de fato com alguém, ou se vai ser mais importante a diversidade, a experimentação, até que eu chegue em alguém que, por sorte ou por experiência que fui adquirindo, eu consiga ter o prazer que se assemelha ao prazer masturbatório", avalia Carmita.

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