Pense bem: a maior parte dos livros infantis, dos contos de fadas, dos filmes para crianças e outras histórias para esse público tem o mesmo tipo de personagem principal —também uma criança ou qualquer outra criatura com essa idade, seja um porquinho ou um boneco de madeira, um fantasminha camarada ou um filhote de leão.
Mas não é o que acontece em "Esperando Timoun", da belga Geneviève Casterman, lançado agora no Brasil pela editora FTD. Na verdade é o contrário. Quem guia toda a história é uma mãe jacaré (aliás, uma curiosidade: não existe a palavra "jacaroa", o certo mesmo é jacaré fêmea).
Pois essa mãe passa o livro todo esperando, aguardando, esperando. E, nessa espera, ela se irrita, fica impaciente e até meio triste. Tudo porque ela quer que o tal Timoun, seu filho, chegue logo.
"O livro conta a minha história e o processo de adoção do meu filho. Queria mostrar para ele tudo o que havia acontecido durante essa longa espera", conta a autora.
Mas, se o livro fala de uma mãe jacaré que aguarda seu filhote, esse é um título para crianças ou uma história para mães? "Ele fala sobre pais adotando filhos", diz.
Para ela, a obra pode ser lida por adultos e crianças juntos, mas nada impede que sirva de leitura somente para os menores ou só para maiores.
Até porque o livro ganha outros significados, dependendo do leitor ou do país. Na Europa, por exemplo, a espera por Timoun pode lembrar a recepção aos refugiados. Em um país em guerra, a expectativa por ajuda. E assim por diante.
"Nunca posso prever como meus livros serão recebidos. Ficaria muito feliz se ele se referisse à crise de refugiados ou à questão do racismo —se eu pudesse fazer apenas uma correção na imagem, desenharia um Timoun azul em vez de verde", conta Casterman.
Se quiser saber se Timoun finalmente aparece no fim da história, eu não vou contar. Você vai precisar ler ou esperar, esperar, esperar...
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