Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

Eliana Alves Cruz, autora de 'Solitária', lança livro para crianças

'O Desenho do Mundo' reflete sobre coragem e resistência ao contar história de pontinho solitário

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São Paulo

Em maio deste ano, a escritora Eliana Alves Cruz lançou um livro chamado "Solitária" (Companhia das Letras). A história tem duas protagonistas, ou seja, duas personagens principais: Eunice e Mabel. Uma é filha da outra e, juntas, elas moram no quarto dos fundos de uma cobertura de luxo onde a mãe trabalha.

É um espaço apertado, e a sensação no livro é quase de uma prisão, já que é impossível se sentir livre em condições como esta.

Eliana Alves Cruz, escritora carioca autora de 'Solitária' e que agora lança 'O Desenho do Mundo' - Eduardo Anizelli/Folhapress

Muitos adultos vêm lendo "Solitária", principalmente agora que tanto se tem falado a respeito de trabalhos que mais parecem escravidão —você talvez já tenha ouvido falar, por exemplo, do podcast da Folha "A Mulher da Casa Abandonada", sobre uma senhora brasileira que mantinha uma funcionária como escrava nos Estados Unidos.

Agora, Eliana lança um novo livro, este voltado às crianças (mas, se os adultos fãs dela quiserem ler também, tudo bem).

Ele se chama "O Desenho do Mundo" e, à sua maneira, também fala de solidão, como o título do livro mais famoso da autora, e, também como na outra obra, reflete sobre coragem e resistência ao falar de um pequeno pontinho que tem a vida transformada quando conhece uma nova amiga.

Eliana conversou com a Folhinha sobre o tema do novo livro.

Você conhece algum pontinho na vida real?

Conheço vários pontinhos! Eu fui um pontinho em uma época da minha infância. Escrevi esta história quando era jovem pensando nisso, pensando na solidão em que muitas crianças e jovens estão, em como isso incomoda, mas não sabem dar nome até que alguém chega e mostra.

Por que você acha que, às vezes, somos pontinhos e acabamos isolados do resto do mundo?

Por diversos motivos. Às vezes nos mudamos para um lugar totalmente novo e ficamos isolados como uma forma de proteção, para não correr nenhum risco. Às vezes estamos cercados de pessoas muito diferentes de nós e isso nos afasta ou ficamos com medo de enfrentar situações novas.

Tem aquela situação em que o mundo nos isola, nos exclui e a gente fica ali naquele lugar. Não é uma situação boa, mas a gente se acostuma e não quer sair com medo de enfrentar o que pode ser ainda mais difícil.

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Capa do livro 'O Desenho do Mundo', de Eliana Alves Cruz - Divulgação

Você já teve algum momento de pontinho na sua vida?

Vários! Quando eu tinha 11 anos estudava em uma escola em que era a única menina negra retinta. A única! Foi muito difícil. Vivi muitos momentos duros e solidão. Só consegui sair dela quando mudei de escola, fiz algumas amigas e a convivência com elas me mostrou como antes eu era um pontinho.

Durante a pandemia, todo mundo foi um pouco pontinho, né? Como foi a pandemia pra você?

A pandemia teve fases para mim. Primeiro ainda não tinha noção que duraria tanto e ficamos eu, meu filho e minha filha em casa preocupados, mas tentando ficar unidos para superar logo aquela fase. Depois veio uma angústia por ver tantas mortes, tanto sofrimento e aí chegou um medo horrível também de ficar doente, de perder pessoas.

Ficamos doentes, mas felizmente com sintomas não muito graves.

Em certa altura chegou o cansaço e uma irritação gigantes por estar longe dos meus amigos, parentes, sem ir aos lugares que gostamos. Por fim, com as vacinas, a esperança retornou, mas está sendo um processo deixar de ser um "pontinho" e voltar de verdade para a vida.

Você é uma escritora de quem os adultos gostam bastante. Como é escrever para crianças?

Escrever para crianças é muito diferente e é fascinante. Escrevi "O Desenho do Mundo" quando tinha 18 anos, então, posso dizer que comecei escrevendo para crianças. É um exercício de pensar na criança que eu fui e de olhar as crianças de hoje, como são o que querem, o que gostam.

É muito lindo ver na linha do tempo que algumas coisas não mudam, não mudaram, enquanto outras são completamente diferentes! Também é um exercício imaginar a história em imagens. Neste livro, por exemplo, as ilustrações do Estevão Ribeiro são incríveis e formam com as palavras uma história linda, poderosa, cheia de vida. Amei!

Você quer escrever mais livros para crianças? Sobre o que gostaria de falar?

Sim, espero escrever muita coisa sim. Quero falar de ser criança em outras épocas, em outros lugares... quero imaginar outros mundos. Quero voltar a ser criança...escrevendo.

O Desenho do Mundo

  • Preço R$ 59,90 (44 páginas)
  • Autoria Eliana Alves Cruz (ilustrações de Estevão Ribeiro e apresentação de Kiusam de Oliveira)
  • Editora Ediouro Educação, selo "Bom de Ler"

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é recomendado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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