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'Baratas podem viver até um mês sem cabeça', ensina biólogo

Especialista fala sobre curiosidades como o 'cheiro de barata' e habilidades fantásticas como ficar sem respirar

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São Paulo

Férias de verão são mesmo uma coisa maravilhosa: sol, calor, banho de mangueira, fruta gelada cortadinha, barata voadora entrando pela janela… Não, eca, baratas não são maravilhosas —ou será que a gente só está olhando para elas com maus olhos?

É claro que ninguém fica feliz quando um bichão cascudo invade a casa se batendo nas coisas e nas pessoas, e isso acontece especialmente nessa época do ano porque é nela que as baratas se reproduzem mais rápido, gerando populações mais numerosas.

Baratas se reúnem em volta de um ralo; nas cidades, duas espécies são as mais comuns, sendo uma delas voadora - Adobe Stock

Mas, se a gente deixar o nojo de lado e tiver só um dedinho (ou uma asinha) de boa vontade, pode perceber que as baratas são animais extraordinários, repletos de curiosidades.

"Elas são anteriores aos dinossauros. A humanidade está sempre com elas", diz Paulo Ribolla, biólogo docente da Unesp (Universidade Estadual Paulista). "Algumas se urbanizaram, ou seja, se adaptaram às cidades."

"E isso aparece nos hábitos alimentares delas, nos ninhos que elas fazem. Elas conseguem, dentro de uma cidade, achar um local escuro e úmido para fazer ninho e se alimentar do que a gente está liberando."

Paulo conta que existem mais de 4.000 espécies de baratas no mundo, mas que urbanas são principalmente duas: a barata-americana (Periplaneta americana), com em média 50 milímetros de comprimento, e a barata-germânica (Blattella germanica), com 10 a 15 milímetros.

A voadora do início do texto seria a americana, já que a germânica não tem essa habilidade. E, nesta situação hipotética, de um desses insetos desorientado pelos ares, tem muita gente que pensa que é do feitio deles "atacar" os humanos, já que com muita frequência a rota de voo inclui a colisão com uma pessoa.

"A barata não é atraída por você, com certeza. Ela se assusta tanto com a gente quanto a gente se assusta com ela", garante Paulo. "Elas não gostam de luz, são bem noturnas. Então, vão estar sempre se escondendo da luz e procurando uma sombra, e nisso podem se chocar com a gente."

Quando se ligam que tem uma ameaça por perto —e humanos, gigantes e calçando chinelos assassinos, são considerados ameaças—, as baratas podem exalar um odor característico. E é aqui que mora a resposta para um debate comum nas redes sociais: existe mesmo "cheiro de barata"?

"Sim, esse cheiro é uma das principais maneiras de comunicação das baratas. Elas usam isso para atrair fêmeas, para espantar outros animais, para chamar amigos para comer, para marcar território", ensina o biólogo.

"Elas não são fedidas porque vivem no esgoto, mas porque produzem substâncias para se comunicar. E, não faço ideia de como funciona, mas há pessoas mais sensíveis a esse cheiro, que conseguem senti-lo, e outras menos sensíveis, que não o percebem."

O corpinho de uma barata, além das glândulas que produzem esse tal cheiro, tem ainda outras curiosidades. Seu exoesqueleto, que é uma estrutura externa, sem ossos, feita de um material chamado quitina, dá sustentação a ela. Quando ela cresce um pouco, troca seu exoesqueleto, e essa "capa" sai.

"Ela tem olhos e boca, mas não tem nariz. E tem vários pelos sensíveis espalhados pelo corpo, e por meio deles capta o movimento do ar. Então, quando chegamos por trás dela, temos a sensação de que ela nos vê, mas é só porque percebeu nossa chegada com os pelos", diz Paulo.

Sem nariz fica impossível respirar, certo? "Ela respira que nem outros insetos: tem por volta de 20 furinhos no corpo que são traqueias. O ar entra por ali, oxigena a hemolinfa [espécie de 'sangue' dos insetos]. E ela consegue ficar sem respirar por uma hora, então não dá para afogá-la."

Entre as habilidades fantásticas das baratas também está a de conseguir viver sem cabeça por até um mês —sim, é isso mesmo que você leu, ela perde a cabeça, mas continua andando por aí.

"Ela tem uma parte do seu cérebro no tórax, então consegue sobreviver. Claro que não vai ser uma vida normal, porque ela não vai se alimentar etc. Mas por até um mês ela vai ter essa sobrevida", conta o biólogo.

A "gosminha" branca que sai dela quando esmagada é, segundo Paulo, seu "corpo gorduroso", um órgão com uma função parecida com a do fígado dos humanos, responsável pelo metabolismo.

Falando em esmagar, fazer isso com uma barata pode não ser tão fácil quanto parece. Seu formato é desenvolvido de forma que seja extremamente resistente à pressão, o que também a ajuda a entrar em frestas bem pequenininhas.

"As baratas põem seus ovos dentro de uma ooteca, uma bolsinha que é uma espécie de proteção. Ela carrega aquilo e depois gruda nos lugares que acha seguros. Por ano, uma barata coloca por volta de 700 a 800 ovos", acrescenta Paulo.

No cardápio das baratas estão todo tipo de restos, mas seu alimento favorito é a carne em decomposição. E, sim, é verdade que elas podem subir nas pessoas enquanto elas dormem para pegar aquela comidinha que ficou na boca de quem não escovou os dentes, mas o biólogo diz que é algo raro de acontecer —assim como levar uma "mordida" de barata, algo possível, porém pouco comum.

Aliás, nunca é demais lembrar: conhecer mais sobre esses insetos e aprender a olhá-los de forma diferente é muito legal, mas vale ter sempre em mente o fato de que eles são importantes transmissores de doenças, então é legal mantê-las longe, sem contato.

Por fim, será que é verdade que as baratas sobreviveriam a um ataque nuclear, como todo mundo diz? "Isso é meio mito, tem outros animais que seriam mais resistentes, como a mosca da fruta, por exemplo", fala o biólogo.

"A barata é forte, mas tem seus predadores. Especialmente as aves, os escorpiões, as lagartixas, os seres humanos, e os chinelos", brinca.

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