Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

'Não é todo dia que a gente sobe a rampa', brinca menino que participou da posse de Lula

Sonhos de Francisco agora incluem andar a cavalo e bater recorde de Cesar Cielo

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São Paulo

Desde domingo (1º), muita gente vem se perguntando quem é aquele menino que subiu a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, ao lado do presidente Lula. "Virei até nome no Google, tá lá na busca", comenta Francisco Carlos N. S., de 10 anos, que mora em Itaquera, na zona leste de São Paulo.

Pois muito bem, prazer: Francisco é filho único por parte de mãe, mas da parte do pai tem cinco irmãos mais velhos e até dois sobrinhos, um deles inclusive mais velho do que ele (pausa para o "bug" cerebral). Ele mora com os pais em um sobrado em uma rua sem saída, onde gosta de brincar com dois vizinhos. Juntos eles jogam futebol, vôlei, basquete e até futebol americano.

Francisco Carlos, nadador do Corinthians e morador de Itaquera, zona Leste de São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Quando não está brincando, Francisco está ralando —sim, a agenda dele é mais lotada do que a de muito adulto. De segunda a sexta ele vai para a escola de manhã e, à tarde, pega três conduções para chegar com a avó materna no clube Corinthians, no Tatuapé. Ali, há três anos, ele é atleta da natação.

Duas vezes por semana, depois de nadar ele ainda corre para as aulas de inglês e, quando volta para casa, é sempre hora de fazer as lições de casa e arrumar as coisas da escola. Ah, e até pode usar o celular, mas às vezes a mãe, Telma, pede uma pausa e é o momento de leitura.

Francisco, o menino do Google e da rampa, começou sua vida nas piscinas aos 6 anos, frequentando uma escolinha pequena no bairro. A professora, esperta, percebeu que ele tinha potencial para crescer no esporte, e recomendou que Telma inscrevesse o filho em um grande clube.

A cada prova de que participa, ele ganha uma medalha. No seu quarto, pintado de paredes azuis e com cama forrada de lençol do Homem-Aranha, ele tem um suporte especial só para pendurá-las todas juntas.

"Ele ficou me perguntando se vocês iam fazer aquela 'foto clássica' com todas elas no pescoço", revelou Telma sobre um pedido que Francisco fez antes da chegada da Folhinha à sua casa, na manhã desta quarta (4).

A 'foto clássica' com as medalhas feita a pedido de Francisco - Karime Xavier/Folhapress

Na parede oposta às medalhas está uma mesinha cheia de troféus —estes só ganha quem pontua nas provas, e a presença deles ali indica que Francisco é um atleta dedicado.

Ainda na escolinha, ele competiu representando sozinho sua categoria em uma prova em Santos, no litoral de São Paulo. Recentemente, competiu na represa Billings, e depois ainda participou de uma travessia em mar aberto em Ilhabela, no litoral norte paulista.

"Essa foi a mais tranquila de todas. São 500 metros no mar, tem muita gente nadando ao mesmo tempo, e foi divertido. Só tinha que completar, não vencer", explica, contando que não ficou com medo de tubarão, não, como talvez se possa pensar, mas que temeu outro bicho que também vive no mar.

"Quando cheguei lá, já tinha bastante gente, e eles falaram que tinham visto o presidente no meio da água, eu fiquei sem entender, alguém me falou que tinham visto uma lula, e eu 'ah, sim!'. Só que não era uma lula, era um polvo. Fiquei com medo, ele tem um monte de tentáculos! Mas não apareceu nada, só levei bastante chute", lembra, rindo.

Por falar em Lula, agora com letra maiúscula, foi por causa dele que agora muita gente sabe quem o Francisco é. Mas o presidente, na verdade, já o conhecia fazia algum tempo, desde que eles se viram em um evento durante a campanha do então candidato à Presidência.

"O primeiro 'encontro' que tive com Lula foi quando fui ver ele jogar futebol lá no MST", conta Francisco, mencionando um evento organizado pelo Movimento Sem Terra em 2019 reunindo Lula e o cantor Chico Buarque em Guararema, em São Paulo.

"E fiquei com muita raiva porque muitas crianças estavam pulando a cerca pra ir abraçar o Lula, e tinha um amigo nosso que queria me fazer pular e eu não queria, fiquei com vergonha. Mas agora me arrependi muito, queria muito ter pulado a cerca."

Já em 2022, durante o período de debates e campanhas, Telma, que é assistente social, participava de encontros do PT (Partido dos Trabalhadores), mas sempre entendeu que, pela lotação típica deles, não seria adequado levar Francisco junto.

Até que, no Natal dos Catadores, realizado em dezembro no Armazém do Campo, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, a mãe finalmente conseguiu apresentar o filho a Lula.

"Quando ela falou que a gente ia, resolvi fazer uma cartinha pro Lula, porque eu pensava que ia ser o único jeito de me comunicar com ele. Falei que as crianças acreditam bastante nele, que eu gosto bastante dele, que eu fui a Curitiba gritar 'bom dia, presidente Lula', fui no MST, e que eu iria na posse dele de qualquer jeito."

Francisco não só entregou a carta como conversou com o agora presidente. E, naquele dia, Lula combinou com a família que, se vestisse a faixa presidencial, daria com ela um abraço no menino. "Mas a gente imaginava que eu só ia ficar num cantinho, que ele ia subir, e que ia passar e me dar um abraço", diz Francisco.

"Foi só no dia anterior à posse que ficamos sabendo que ele ia subir a rampa", conta Telma. "Quando chegamos no hotel, vimos o cacique Raoni, e pensei que era ele que ia passar a faixa, já achei lindo. E foi numa sala, uma hora antes de começar, que eles avisaram como ia ser."

"Nessa sala eu tava tremendo, minha perna fazia assim, ó", mostra o menino, se chacoalhando todo. "Era pra ser uma fila, um atrás do outro, e só lá na hora que o Lula mudou e subiu todo mundo junto. Foi muito da hora, muito."

"Quando eu vi o Lula descendo a rua, com o carro ainda, falei 'Nunca vou esquecer esse dia na minha vida'. Porque não é todo dia que a gente sobe a rampa, né, junto com o presidente do Brasil!", comemora.

As fitinhas distribuídas na posse, em que se lê "Eu Fui", ainda estão no pulso de Francisco, que não tem planos de tirá-las dali tão cedo. E, depois de conquistar algo que desejou muito e de que vai se lembrar para sempre, ele mira outros objetivos.

"Eu tenho vários sonhos. Eu sempre quis andar a cavalo. Já andei com charrete, mas montado, não", conta. "E, além de andar a cavalo, meu sonho é virar nadador profissional e ir pras Olimpíadas. Meu ídolo é o Cesar Cielo, e meu sonho de nadador é bater o recorde dele no 50 metros livre, de 20 segundos e 91 centésimos. Se ele consegue, eu também consigo."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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