No Dia das Crianças, Mauricio de Sousa conta como é desenhar para os pequenos leitores

Criador da Turma da Mônica também lembra que participou da criação da Folhinha em 1963

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São Paulo

Poucas pessoas no Brasil entendem tanto de criança quanto Mauricio de Sousa. Já são mais de 60 anos desenhando personagens que divertiram e ensinaram leitores de muitas gerações —pergunte na sua família, por exemplo, quais dos adultos curtiam as histórias da Turma da Mônica quando era pequenos, e você vai se surpreender.

E, mesmo sendo o criador de mais de 400 personagens, membro da Academia Paulista de Letras e conhecido em muitos países pelo seu trabalho, o Mauricio é um cara muito legal e acessível. Ele gosta de conversar e falar sobre sua vida, que tem, entre passagens muito importantes, a criação desta Folhinha aqui que você está lendo.

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O desenhista Mauricio de Sousa com o cãozinho Bidu - Caio Gallucci

Pois é, Mauricio de Sousa, o pai da Turma da Mônica, foi um dos profissionais que tiveram a ideia de, em 1963 (quase 60 anos atrás), lançar um pedaço do jornal que fosse feito especialmente para crianças. Ele fez isso junto com a jornalista Lenita Miranda de Figueiredo, a Tia Lenita, uma das editoras que a Folhinha já teve.

Neste Dia das Crianças, Mauricio de Sousa conversou com a Folhinha sobre aquela época, sobre desenhos e até sobre por que seus filhos têm nomes que começam com a letra "M". Leia abaixo a entrevista.

O Bidu foi seu primeiro personagem para crianças, e surgiu há mais de 60 anos. Por que você começou por um cachorrinho? Ele é inspirado em algum cachorro seu?

Quando criança eu tinha um cachorrinho chamado Cuica! Adorava brincar com ele. Então, quando comecei a desenhar, logo criei um cachorrinho também em meus quadrinhos. Foi o primeiro personagem junto com o Franjinha.

Mas resolvi que era melhor ter um nome mais da época, e naquele tempo o nome Bidu era para designar pessoas inteligentes. Ficou Bidu!

Antes disso, você tinha sido repórter em um jornal, e escrevia até sobre crimes e coisas difíceis de uma cidade. Por que decidiu que ia parar com isso e trabalhar fazendo coisas para crianças?

Na verdade eu sempre queria ser um desenhista. Mas, quando levei meus desenhos no jornal Folha de S.Paulo, para tentar um emprego, o diretor de arte não gostou, e recusou meus desenhos. Mas um bom jornalista viu aquilo, e disse para eu entrar no jornal em outra área que, com o tempo e fazendo amizades dentro do jornal, eu conseguiria.

Fiz isso e consegui entrar como jornalista. E foi assim que, tempos mais tarde, consegui começar a publicar meus desenhos no jornal.

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Mauricio nos Estúdios Mauricio de Sousa - Claudio Belli

É mais fácil ou mais difícil escrever boas histórias para crianças, em vez de escrever boas histórias para adultos?

Para mim eu sempre escrevo para as crianças. Porque um adulto nunca deixa acabar a criança que ele foi um dia.

Quais assuntos você vê que fazem mais sucesso nos quadrinhos da Turma desde sempre?

Nós, no estúdio, sempre procuramos ter histórias criativas e com humor. Não importa o assunto. Se houver uma boa história e tiver um humor que criança adora, todos assuntos são especiais.

A Turma já tem mais de 400 integrantes. Como você inventa um personagem novo?

Realmente é mais complicado do que parece. Um novo personagem precisa se encaixar nas historinhas e na filosofia da turminha. Em alguns casos são criados apenas para uma história. Aí, não tem muitos problemas, mas, se é um novo personagem como a Milena, por exemplo, que é uma das mais recentes que colocamos junto com os principais personagens, levou anos de estudos.

Porque, além dela, tem que criar uma família, amigos, como ela vai agir nas historinhas. Não tem um tempo fixo.

Nesse Dia das Crianças, você pode nos dar de presente dicas para desenhar melhor?

O desenho é algo muito natural em uma criança. Os pais precisam estar atentos ao que seu filho ou filha produz e se interessa. Foi assim que comecei. Meu pai desenhava um pouco e me ensinou.

Eu logo vi que era aquilo que eu queria fazer sempre. Aí fui praticando e lendo muito. E cheguei até aqui.

O personagem que mais me pedem para desenhar é a Mônica. Se uma criança quer desenhar a Mônica, tem que pegar a revista da turminha, colocar ao lado e tentar copiar em uma folha. Vai sair meio torto e é normal, mas, fazendo várias vezes, o desenho vai se aprimorando com o tempo.

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Mauricio de Sousa dá dicas para desenhar a Mônica - Claudio Belli

Para quem quer ser desenhista e trabalhar com você quando crescer, o que é preciso fazer?

Estudar muito, praticar desenho todo dia e ler muitos livros. O restante vem naturalmente.

Alguns dos seus dez filhos trabalham com você hoje. Como é para um pai ver um(a) filho(a) crescer, virar adulto e seguir a vida?

Ter um filho e participar de seu crescimento e descobertas no mundo é a melhor coisa do mundo! No meu caso, os que vieram trabalhar comigo foi de forma natural e sem forçar nada. Depois vêm os netos e tudo começa de novo. Uma alegria!

Aproveitando, uma curiosidade: por que quase todos os seus filhos têm nomes que começam com "M"?

No começo e na época das primeiras filhas foi algo para que elas se sentissem irmãs até na letra inicial de seus nomes. Depois acabou ficando essa ideia. Dos 10 filhos, só as gêmeas Vanda e Valéria acabam tendo inicio dos nomes com "V" em vez do "M".

Muitas pessoas não sabem, mas você foi um dos idealizadores da Folhinha. O que você se lembra e pode contar de como foi criar esse jornal para crianças tão especial?

A Folhinha foi muito importante em minha vida. Fui convidado a criar o jornal infantil da Folha de S.Paulo junto com a editora Tia Lenita. Era 1963, ano em que criei a Mônica. Era tudo o que eu queria para poder ter minha turminha toda na casa dos leitores a cada fim de semana. E me divertia com as histórias que criava do personagem Horácio.

Justamente neste momento acabamos de lançar todas as histórias publicadas do Horácio em quatro volumes pela editora Pipoca e Nanquim. Vale a pena ver toda evolução deste dinossaurinho que surgiu nas histórias do Piteco e depois teve sua própria história contada.

Poderão ver também a evolução dos traços porque só eu era quem,criava e desenhava esse personagem. Confesso que eu deixava sempre pra última hora para entregar a historinha para a editora e nunca tive problema de criatividade. Quando fazemos o que gostamos tudo fica mais fácil!

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