Livro 'Loba' fala sobre transição das meninas da infância para a adolescência

Como Chapeuzinho Vermelho, protagonista também sai sozinha, mas em vez de ser devorada ela encontra proteção

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São Paulo

Na história da Chapeuzinho Vermelho, a menina que aceita atravessar a estrada sozinha não tem uma boa experiência: é enganada por um lobo, vê sua avó ser engolida por ele e precisa da ajuda de um caçador para resolver um problema que, ao que parece, ela mesma criou. No fim das contas, é como se ela fosse punida por ter enfrentado o mundo lá fora.

Não que o que existe além do portão de casa seja "bolinho" —pelo contrário. Há perigos de todos os tamanhos, desde os pequenininhos como mosquitos até os grandes como pessoas, e é preciso prestar atenção para que não se tropece em coisas que os outros podem ter deixado pelo caminho.

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Imagem do livro 'Loba', de Roberta Malta e Paula Schiavon - Divulgação

Mas o mundo, dizem os adultos, não é de todo mau.

Imagine, por exemplo, que uma menina entediada com as limitações que seu lar impõe tenha a chance de ir lá fora sozinha, e que nessa jornada descubra não só a imensidão do mundo, como também se depare com o quanto ela própria é tão imensa que nela cabe um outro mundo inteiro dentro.

E, pense também que, nessa viagem solitária, ela se depare não com um lobo, mas com uma loba, fêmea, ainda maior que ela, mas que não a engana, não a devora, não a ameaça nem a acua. A loba e a menina não são inimigas. Elas dançam.

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A protagonista do livro 'Loba', antes de sair de casa para sua jornada - Divulgação

O mundo em "Loba", livro de Roberta Malta e Paula Schiavon, não é de todo mau porque, na realidade, nada nem ninguém é inteiro mau ou inteiro bom, é todo mundo uma mistura disso tudo.

E, acima dessas definições, na história que a escritora e a ilustradora contam, dá para entender que, ainda que as meninas cresçam sendo ensinadas que é preciso cuidado ao sair pela estrada afora bem sozinhas, também é muito legal ter coragem e conquistar a independência —é essa estrada quem vai levar cada uma das meninas do mundo rumo ao destino de se tornarem mulheres.

Assim como a Chapeuzinho do livro original, no qual as autoras se inspiraram, a protagonista de "Loba" também está indo visitar sua avó. Ela também recebe orientações de sua mãe, sobre tomar cuidado no caminho, e também se distrai, dessa vez com uma linda flor vermelha que enxerga no topo de uma árvore.

A loba recebe a menina assim que ela desce lá de cima. E, desse encontro, que em tantas outras histórias já deu e aqui também teria tudo para dar muito errado, nasce algo importante, que vai modificar a menina para sempre. Ela está tão mudada que, quando finalmente encontra sua avó, as duas se parecem muito mais do que se pareciam quando a menina saiu de casa mais cedo.

"Loba" tem escondidas (mas nem tanto) muitas explicações bonitas. É a história de alguém crescendo e se inserindo no mundo; da passagem de uma menina da infância para a adolescência; da beleza e dos desafios que crescer sempre traz; e também de como, ao contrário do que mulheres adultas às vezes sentem porque foram educadas para assim sentir, as outras lá fora não são rivais famintas, mas sim companheiras prontas para compartilhar, proteger e ensinar.

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A avó da protagonista de 'Loba' recebe sua neta em casa - Divulgação

Dica derradeira: na penúltima cena, repare em todos os detalhes da decoração, da echarpe vermelha pendurada ao quadro com as fases da lua, e da boneca russa que contém outras bonecas em si mesma ao minúsculo retrato da vovó abraçada à filha e à neta que, na época da foto, ainda não tinha ganhado seus tons rubros de mulher.

Loba

  • Preço R$ 64,90 (64 páginas)
  • Autoria Roberta Malta e Paula Schiavon
  • Editora Pequena Zahar

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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