Tem famílias que se dividem em mais de uma casa. Conhece alguma? A sua é assim? Tem a casa do pai, a da mãe, às vezes tem até casas novas de pessoas novas que acabaram de chegar —um novo namorado de alguém, novas crianças. E os pedacinhos das famílias ficam passeando entre essas casas no dia a dia, muitos quartos, pijamas, escovas de dentes.
É um privilégio ter muitos lugares bons para morar quando há quem não tenha nenhum. Claro que às vezes essa multiplicação das coisas acontece depois de momentos tristes de mudanças e saudade. Pode ser chato ter que trocar um jeito de viver a vida, depois que já se está acostumado com o jeito antigo.
Mas, depois que essa parte da adaptação passa, dá para enxergar a sorte. E é dessa sorte que o novo "Almoço de Família" (Companhia das Letrinhas) fala. A escritora e ilustradora Janaina Tokitaka, que criou o livro, mostra nele a vida da menina Maya, que começa a história com 2 anos e termina com 18.
Maya é das crianças que têm mais de uma casa, a partir de um determinado momento da sua infância. A gente não fica sabendo por que seus pais se separaram, mas, ao que tudo indica, Maya fica numa boa com essa situação.
E o leitor consegue entender que ficou tudo bem por causa de um elemento que Janaina escolheu para ser o "fio condutor" da história de Maya: a comida.
Fios condutores, no mundo da literatura, cinema e teatro, por exemplo, são temas que os autores usam para ir "costurando" tudo —eles estão lá, do início ao fim da obra, e todo o resto do que é contado gira em torno desses mesmos temas.
A comida de Janaina Tokitaka e sua personagem Maya é tão importante que dá título ao livro. Ela vai ajudando a narrar o crescimento não só de Maya, mas dessa família dela que vai ganhando pessoas e amor com o passar do tempo.
E, assim como se amplia o número de casas, se amplia o universo do que Maya gosta de comer. Antes, quando havia a mãe, o pai e Maya na foto pendurada na parede, a personagem curtia brócolis. Depois, Maya se joga na pizza, espetinhos, picles…
"Almoço de Família" é um livro bonito e curtinho, porém cheio de detalhes em cada ilustração. É como se Janaina soubesse que o leitor vai primeiro passar pela história correndo, curioso pelo seu final, e que depois vai voltar e se demorar nas páginas, olhando atento para as coisas que ela escolheu desenhar às mesas dos almoços de Maya e sua imensa família.
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