Cantores de ópera são como atletas e treinam para não precisar usar microfone

Soprano e tenor de 'O Guarani' falam da rotina de cuidados, da relação com vizinhos e sobre quebrar taças com a voz

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São Paulo

Pica-Pau, Tom e Jerry, Gaguinho e Patolino e muitos outros personagens já cantaram uma música que diz assim: "Fígaro, Fígaro, Fígaro!". Mas quem será esse homem que todos eles chamam com tanta vontade? Fígaro é um personagem da ópera "O Barbeiro de Sevilha", de Gioachino Rossini, que estreou em 1816.

E se você já quis parar de ler quando viu ali em cima a palavra "ópera", você não está sozinho —muitas crianças e até adultos torcem o nariz para esse tipo de arte, que mistura música e teatro. Há quem ache que ela é difícil ou chata, por exemplo.

A soprano Débora Faustino, começou a cantar aos 7 anos acompanhando a mãe - Divulgação

Acontece que óperas podem ser muito legais se a gente entende um pouco do que os artistas estão fazendo ali e se deixa levar pela história e pela beleza do som.

Como acontece na hora de invocar o Fígaro, boa parte da ação das óperas acontece enquanto os personagens cantam. Os cantores líricos, aliás, são as grandes estrelas deste gênero. Eles e elas têm vozes muito potentes que costumam impressionar —e emocionar— quem assiste.

Débora Faustino tem 33 anos e começou a cantar aos 7. Sua mãe tocava violão e cantava na igreja, e Débora a acompanhava. A partir dali, começou a estudar canto lírico, e fez faculdade e mestrado em performance vocal. Nunca imaginou trabalhar com outra coisa.

"Na infância eu não conhecia a ópera, só a música clássica instrumental e principalmente as que eram trilha sonora de desenhos infantis principalmente os da Disney, como 'Branca de Neve' e 'Cinderela'. Na adolescência descobri mais sobre esse gênero musical da ópera e me apaixonei", lembra.

Débora foi a Ceci em 'O Guarani', em São Paulo, em maio passado - Larissa Paz

A ópera favorita dela se chama "La Bohème" e foi escrita pelo italiano Giacomo Puccini. Muitas pessoas criaram óperas ao longo da história em países como França, Alemanha, Portugal e também no Brasil. Por aqui, o nome mais famoso entre os compositores é o de Carlos Gomes, que nasceu em Campinas e escreveu "O Guarani".

Nessa ópera, Débora representou a personagem principal, Cecília (Ceci para os íntimos), em maio passado, em São Paulo. Especialmente quando está em cartaz, ela conta que precisa cuidar muito da voz. É como se fosse o trabalho de uma atleta, ela compara, já que é preciso ficar de olho na alimentação e ter uma vida saudável.

"Antes de uma performance, os cuidados são fazer inalação com soro fisiológico, não gritar, não fazer uso de bebidas alcoólicas e cigarros, e beber muita água", ensina. "E, sim, com tanta água dá muita vontade de fazer xixi, mas a gente tem vários intervalos durante a ópera em que a gente consegue ir ao banheiro."

Ela diz que qualquer pessoa que tenha vontade pode aprender a cantar e a cantar ópera —só é preciso muito estudo e dedicação. "Precisa aprender noções de música, como ler partitura, ter noções de línguas estrangeiras", exemplifica.

"É fundamental também aprender os fundamentos do canto, como respirar da forma correta usando o músculo do diafragma. É necessário saber colocar e impostar a voz de maneira correta para que ela soe dentro de um teatro sem o auxílio do microfone, já que nós não usamos nenhum tipo de microfone para cantar ópera."

E sabe aquela história de que quem canta ópera pode quebrar cristais com a voz? Débora diz que ela é verdadeira, e que nem é preciso ser profissional. "Cada taça tem uma frequência sonora. O que faz com que alguém consiga quebrá-la é atingir aquela frequência, a nota dada pelo cristal", explica (ela diz que nunca tentou, mas que, depois da entrevista, ia fazer a experiência).

Para ela, a ópera é uma forma de arte completa, um "mundo completamente mágico em que as histórias são contadas em forma de música". E, nesse universo de magia, ela conheceu seu atual namorado, o também cantor Atalla Ayan que fez o Peri em "O Guarani".

"Acho que é o estilo mais poderoso e impactante para o ser humano, e por isso sou apaixonado por ópera. É uma coisa de alma que não consigo explicar", diz ele, que começou a cantar e amar ópera aos 13 anos, ouvindo discos dos tenores Luciano Pavarotti e Andrea Bocelli.

O tenor Atalla Ayan - Rafael Salvador

Tenor é uma classificação do timbre de voz dos homens, que também podem ser baixos, baixos-barítonos, barítonos e contratenores. No caso das mulheres, há as sopranos, como Débora, e as contraltos e mezzo-sopranos.

Os dois, Atalla e Débora, treinam suas vozes em casa todos os dias, para manter a boa forma. "Os vizinhos tendem a gostar e ficar surpresos com minha potência vocal, que pode ser ouvida à distância. Normalmente elogiam, e até pedem que eu cante mais", diz Débora.

Atalla também mora em uma vizinhança boa. "Só teve uma vez que eles pediram para eu parar de cantar à noite, para não atrapalhar o sono deles", lembra. "Mas é algo raro de acontecer."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança




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