Submarino desaparecido vai dez vezes mais fundo que a média; saiba como estes veículos funcionam

Engenheiro naval da Poli compara embarcações militares e turísticas, e explica como elas fazem para flutuar e afundar

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São Paulo

O submarino Titan está desaparecido no oceano Atlântico desde domingo (18), quando parou de fazer contato com as autoridades que controlam o tráfego marítimo na costa do Canadá e dos Estados Unidos —a embarcação levava turistas até a área onde o navio Titanic afundou um século atrás.

Para conseguir completar sua missão, o submarino precisaria descer 3.800 metros rumo ao fundo do mar. "Um submarino militar normalmente opera entre 300 e 400 metros de profundidade", compara Kazuo Nishimoto, professor do Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica (Poli) da USP.

O submersível Titan, operado pela OceanGate Expeditions - REUTERS

"Para chegar a lugares assim, de alta profundidade, é preciso ter uma segurança máxima. É muita coisa. Para se ter uma ideia, basta pensar que hoje no Brasil se está fazendo perfuração em busca de petróleo a 2.000 metros, e o ser humano não consegue chegar lá nesses lugares", diz o professor.

Submarinos podem ter variados tipos de propulsão —ou seja, de formas para se locomover. O professor Kazuo acredita que o Titan seja de propulsão elétrica. "Submarinos de alta profundidade como este são ligados aos navios que os monitoram. Eles têm um cabo e uma bateria que se carrega por esse cabo", explica.

"Mas, se ele se perdeu, como parece que aconteceu, muito provavelmente este cabo arrebentou", acredita. O Titan alcança uma velocidade de 5,5 km/h, mede 6,7 metros de comprimento e pesa cerca de 10 toneladas, de acordo com o site da empresa responsável por ele.

"Os submarinos militares são enormes, mas os turísticos, para aguentar profundidades assim, têm que ser pequenos."

O primeiro submarino foi criado em 1775, mas desde o século 16 as pessoas já pensavam em fazer uma embarcação que navegasse por baixo da água. "Os submarinos foram desenvolvidos como armamento. Eles são como navios invisíveis", diz Kazuo.

"Se você fica visível na superfície, é mais fácil virar um alvo do inimigo, e estando embaixo d’água fica mais difícil de ser detectado. As marinhas usam os submarinos como forma de chegar mais próximo das coisas sem ser percebido."

O professor Kazuo explica que hoje em dia há várias tecnologias que detectam o movimento dos submarinos no fundo do mar. E que já há uma década, mais ou menos, que embarcações como estas passaram a fazer também turismo, além de servirem aos seus países.

Para se guiar lá embaixo, os submarinos militares usam sonares, já que, se usarem luzes como os faróis dos carros, podem acabar sendo descobertos —em resumo, esse sonar vai emitindo ondas sonoras que, se "batem" em algo, demonstram que ali há um obstáculo.

Já os submarinos de turismo e os de pesquisa podem se valer não só dos sonares como também das luzes. "E eles têm janelinhas também, para os passageiros enxergarem lá fora, além de câmeras externas e monitores internos", completa Kazuo.

Como os submarinos são câmaras fechadas, é preciso suprir o oxigênio que será consumido lá dentro com cilindros de ar comprimido. É por isso que os especialistas têm falado que a data limite para que se encontrem as pessoas com vida no Titan é quinta (22) de manhã: os cilindros que eles levaram vão acabar por volta deste momento.

Por falar em ar comprimido, é ele também o responsável por comandar quando um submarino vai flutuar ou afundar. Kazuo explica que o piloto fica controlando o volume de água que entra em compartimentos especiais da embarcação, mudando seu peso e influenciando assim na sua flutuação.

"Para encher os compartimentos e afundar, basta contar com a pressão natural do fundo do mar. Mas, para esvaziar esses compartimentos e conseguir ficar mais leve, é preciso usar ar comprimido. São uns tubos de ar que se esvaziam e regulam o nível de água", diz o professor.

Ele conta, ainda, que o Brasil vem desenvolvendo a tecnologia de propulsão nuclear em submarinos —são os chamados "submarinos nucleares", que dizem respeito à sua forma de navegar, e não ao seu potencial como arma, por exemplo.

"Poucos países têm isso, entre eles os Estados Unidos, a União Soviética e a China. A propulsão nuclear tem vantagem sobre a combustão porque ela não precisa de ar para operar motores e navegar longas distâncias. Ele consegue fazer uma por exemplo uma travessia embaixo do gelo, na região polar, sem ir para a superfície."

A OceanGate Expeditions cobra US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão) por uma vaga em suas expedições de oito dias para ver os restos do Titanic. Entre os turistas a bordo do veículo desaparecido estão o bilionário britânico Hamish Harding, 58, o empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho Suleman, e o mergulhador francês Paul-Henry Nargeolet, especialista no naufrágio do Titanic.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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