Canhotos foram obrigados a usar mão direita e eram vistos como 'defeituosos'

Dia do Canhoto (13) celebra aqueles que fazem parte de 10% da população; lateralidade se consolida por volta dos 7 anos

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São Paulo

Além do Dia dos Pais, este domingo (13) também marca a comemoração do Dia do Canhoto. Você já aprendeu a escrever? Se sim, com qual mão você segura o lápis, esquerda ou direita? Se é a esquerda, você é um canhoto ou canhota —parabéns pelo seu dia!

Até não muito tempo atrás, no entanto, esse seu dia não seria celebrado e, pior ainda, você talvez tivesse problemas por ser canhoto. Nas escolas e em casa, era comum que os educadores e familiares forçassem as crianças canhotas a praticar as atividades com a mão direita, às vezes até amarrando a mão esquerda delas junto ao corpo.

Dia do Canhoto é celebrado em 13 de agosto - Carmen Martin J. / Adobe Stock

A neurologista Gisele Sampaio, pesquisadora da ARO Einstein, conta que esse costume tinha raízes históricas e culturais, já que, em muitas sociedades, o uso da mão esquerda foi associado a superstições negativas e preconceitos.

"Essa atitude foi influenciada pela crença de que a mão esquerda era impura ou 'do mal'. Felizmente, a compreensão sobre a lateralidade evoluiu, e hoje reconhecemos que ser canhoto é uma variação natural e não uma deficiência", ensina.

A lateralidade de que ela fala é a preferência pelo uso da mão esquerda ou direita nas atividades do dia a dia. Isso é definido ainda na barriga da mãe, quando ainda somos fetos. Ela é influenciada por fatores genéticos e também pelo ambiente durante essa gestação.

"Embora a preferência pela mão possa começar a se manifestar desde a infância, ela tende a se consolidar até a idade de 6 a 7 anos", conta a médica.

Há algo curioso sobre a lateralidade: ela é oposta ao que acontece no cérebro. Doutora Gisele explica: "A maioria das pessoas tem o hemisfério esquerdo dominante para funções linguísticas e motoras, o que resulta em maior destreza com a mão direita. No entanto, cerca de 10% da população mundial é canhota, ou seja, têm o hemisfério direito como dominante para algumas funções, levando a preferência pelo uso da mão esquerda".

E, por mais que houvesse o hábito de forçar crianças a trocar de mão no passado, conseguir que isso aconteça de maneira definitiva é raro.

"Enquanto algumas pessoas podem treinar para usar mais a mão não dominante em tarefas simples, como comer ou escovar os dentes, mudar completamente de lateralidade é uma tarefa complexa. A organização cerebral e os padrões de conexão já estão estabelecidos", diz Gisele.

Além das mãos, as pessoas também têm seus pés dominantes. A médica explica que essa lateralidade dos membros inferiores costuma ser independente daquela dos membros superiores. "Enquanto algumas pessoas podem ser canhotas tanto com as mãos quanto com os pés, outras podem ter um pé dominante diferente da mão dominante", conta.

Neurologicamente falando —ou seja, no que diz respeito ao cérebro—, não há superioridade entre ser canhoto ou destro, o que significa que um não é melhor que o outro. Gisele lembra que ambos grupos têm vantagens e desvantagens em diferentes contextos.

"Ser canhoto em uma sociedade que predominantemente valoriza o uso da mão direita pode criar algumas situações menos convenientes, mas isso não define o valor de uma pessoa", diz a médica, se referindo ao uso por exemplo de tesouras, câmbio do carro, abridor de lata etc.

Para finalizar, uma informação relevante: não existe um Dia do Destro no calendário.

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