Cartunistas da Folhinha inventaram personagens como Geraldinho e Lola

Laerte, Glauco, Adão e João Montanaro são alguns dos nomes que desenharam tirinhas na Folhinha, que completa 60 anos

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Gabi Dourado
São Paulo

Trabalhar desenhando é só um sonho? Não! Todas aquelas ideias que expressamos com desenhos podem se tornar uma profissão. É isso que os cartunistas fazem: desenham em tirinhas situações do dia a dia, que podem ser divertidas, curiosas, fantásticas e até questionadoras. Ajudam a rir, a pensar, a sonhar e a derrubar preconceitos.

Esses profissionais cartunistas transformam sua forma de ver o mundo ou até as próprias memórias em personagens. A historinhas são curtas, contadas no que se chama de "tirinha", por ser uma "tira" com começo, meio e fim (diferente da revista em quadrinhos, por exemplo).

Cartunistas que trabalharam na Folhinha, em desenho de Mauricio de Sousa - Mauricio de Sousa Produções

Um monte de cartunistas passou pela Folhinha nesses 60 anos de história, comemorados nesta sexta (8). Teve gente que começou com 13 anos! Conheça alguns dos ex-cartunistas da Folhinha, que aqui foram especialmente desenhados por Mauricio de Sousa, um dos criadores do caderno 60 anos atrás.


Alexandre Cechetto Beck (ou Bech)

Alexandre Beck, em desenho de Mauricio de Sousa - Mauricio de Sousa Produções

Armandinho, personagem criado por Alexandre para ilustrar as colunas da psicóloga e educadora Rosely Sayão, marcou uma geração. Aquele menino de cabelo azul ajudava jovens a entenderem melhor assuntos que, em muitas casas, não tinham espaço para ser conversados.

O desenho de Alexandre desconstruiu preconceitos, tabus, medos e vergonhas por meio de tirinhas com diálogos diretos e simples. Ele lembra uma em especial, sobre diferentes tipos de família. A tirinha trazia Armandinho falando com um amigo: "Combinado! Só preciso falar com meus pais!", no que o amigo responde: "E eu com minhas mães!".

Tirinha do Armandinho - Reprodução

"Consegui passar, na tira, um ar de 'normalidade'. Para mim, isso fez toda a diferença", comenta o criador. Mesmo para assuntos complexos, Alexandre diz que criar para crianças é até mais fácil, pois elas "julgam menos, são mais abertas e imaginativas".

Ele tem uma dica: sempre permitir que a criança que existe em cada um de nós se manifeste. "Ela foi sendo reprimida por anos, na família, na escola, no trabalho. Mas está ali. Ela saberá se expressar", afirma.

Pedro Cobiaco, o Pedro C.

Pedro Cobiaco, em desenho de Mauricio de Sousa - Mauricio de Sousa Produções

Pedro estreou como cartunista da Folhinha aos 13 anos, ao lado de ídolos como Laerte, Angeli, Adão… Que responsabilidade! A disciplina foi um dos principais desafios.

"Eu não tinha dificuldades em me expressar ou em ter ideias, mas sofri para manter a frequência direitinho em alguns momentos", relembra. Publicar na Folha era realizar um sonho e, para ele, foi um momento mágico. Com Eric, o personagem fã de rock, o desenhos de Pedro viraram profissão e uma forma de expressar seus pensamentos da juventude.

Tira de Pedro C, publicada na Folhinha em 06.10.2012 - Reprodução

"É um momento de deslumbramento, com grandes emoções, grandes decepções, poucas ferramentas, dificuldades de compreender mas também de comunicar, muita criatividade e muita disposição —e, muitas vezes, com muito menos amarras que a visão adulta".

Essas amarras, aliás, ele diz nunca ter criado. "Hoje eu cresci, então somente o que mudaria, creio, seriam as minhas visões de mundo expressas através das tiras, porque eu mesmo mudei", afirma.

Adão Iturrusgarai (ou só Adão)

Cartunista Adão, na visão de Mauricio de Sousa - Mauricio de Sousa Produções

Dizem que toda criança desenha. No caso do Adão, em vez de parar com o passar do tempo, desenhar virou profissão. Foi na Folhinha que o cartunista contou as histórias de um adolescente mal-humorado que não gostava de matemática —muito parecido com o próprio desenhista quando criança.

"Por mais que a gente faça ficção, quase tudo é autobiográfico", ou seja, quase tudo é sobre a gente mesmo. Por isso também que Zezo foi um dos personagens mais marcantes para Adão durante a temporada para Folhinha. O nome, aliás, foi homenagem ao filho de um leitor (que virou amigo).

o ilustrador Adão Iturrusgarai faz tirinha para a Folhinha (edição especial Dia da Criança) . 12.out.2019
Tirinha de Adão de 12.10.2019 - Reprodução

Ao lembrar da própria infância e adolescência, Adão vê que pouca coisa mudou: "Criança gosta de se divertir e não gosta de estudar, são curiosas de acordo com o que interessa mesmo pra elas". Mas, tem uma diferença: o celular. "É como se o mundo real fosse uma telinha, então em alguns caso é bem ruim".

Por isso também ele acha a Folhinha importante: "o jornal infantil prepara terreno de interesses futuros para o leitor".

Laerte

Laerte, em desenho de Mauricio de Sousa - Mauricio de Sousa Produções

Laerte é uma das mais famosas cartunistas que já passaram pela Folhinha. Começou lá pelos anos 1990 e ficou até 2016 contando histórias de personagens como Suriá, a menina do circo, e Lola, a andorinha.

Foi pelo desenho que Laerte criou histórias sobre si mesma e sobre a própria família —a Suriá, por exemplo, foi inspirada na filha Laila em suas aulas de acrobacia. Na hora de contar histórias para crianças, ela compara a uma receita na cozinha: "o principal é encontrar o ponto certo", ou seja, um jeito de contar histórias que fosse bom tanto para quem fazia (ela, no caso) como para quem ia ler.

Para achar essa boa receita, olhar para a própria infância é uma saída. "Eu 'miro' na minha própria cabeça quando crio histórias, sejam as que faço para pessoas adultas, sejam as que faço para crianças. O problema é que nem sempre eu lembro com muita clareza como eu era", conta.

Tirinha da Suriá, menina do circo criada por Laerte - Reprodução

E é aí que a desenhista recorre à imaginação, que ela nunca deixou de lado mesmo depois de virar adulta. "Chamam de imaginação um conjunto de ideias e pensamentos que varia com a idade, claro. Mas, todo mundo tem".

João Montanaro

O cartunista Joãoo Montanaro desenhado por Mauricio de Sousa - Mauricio de Sousa Produções

Imagine mostrar seu trabalho e talento para um monte de gente quando você ainda tem 13 anos. Foi mais ou menos o que aconteceu a João Montanaro, que entrou na Folha pela Folhinha.

Foi copiando os cartuns do jornal que ele começou nessa ideia de se expressar desenhando. Na Folhinha, João desenhava aquilo que tem gente dizendo até hoje não ser coisa de criança: política. E pintava à mão, dispensando a tecnologia da geração, entre aquarela, guache e nanquim.

João Montanaro, que continua trabalhando na Folha, marcou Folhinha ao mostrar que a gente pode ser tudo o que quiser.

Glauco Villas Boas

O cartunista Glauco, homenageado por Mauricio de Sousa - Mauricio de Sousa Produções

Uma tirinha publicada em 1985 marcava o nascimento de Geraldinho, um personagem criado especialmente para a Folhinha. Inspirado no filho de Glauco, Raoni, o menino rebelde fez muita gente rir e se identificar com suas confusões que iam desde bolas de sorvete empilhadas e andar de skate pela sala.

A mãe, aliás, foi batizada por leitores de Folhinha com o único nome possível: Socorro.

Geraldinho foi publicado a primeira vez em 7 de abril de 1985 - Reprodução

O traço único de Glauco (1957-2010) em seus desenhos ilustrava a comédia da rotina e um universo sem limites para o personagem. No desenho, ele podia ser quem quisesse. A real é que nas regras do dia a dia, de casa, da escola, da rua, tantos foram os momentos em que só queríamos ser um pouco Geraldinho.

Glauco partiu, mas no desenho tudo é eterno, assim como a rebeldia de Geraldinho.

Adolar

Adolar, no traço de Mauricio de Sousa - Mauricio de Sousa Produções

Adolar (1962-2021) foi cartunista, mas também jornalista, artista plástico e ilustrava o cotidiano com suas cores. Na Folhinha, quem falava às crianças eram os avós. Em Super-Vó, Adolar desenhava e divertia com as dúvidas e certezas de um carismático casal de velhinhos.

Em algumas, surgia o netinho Teté para questionar os avós em relação à vida. E, assim como em Super-Vó, as ideias de Adolar eternizadas nas tirinhas mostram que a arte dos quadrinhos é um tesouro que nunca envelhece.

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