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'Já ouvi falar da Barbie e da Emília', diz boneca amiga do escritor Franz Kafka

Protagonista de musical com Alessandra Maestrini, em cartaz em São Paulo, fala da relação das crianças com os brinquedos

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Cartas espalhadas pelo chão, em cenário de 'Kafka e a Boneca Viajante' Flávia Canavarro/Divulgação

São Paulo

Bonecas falam e podemos provar. Quer dizer, esse fenômeno acontece com ao menos uma delas, chamada Brígida, nascida na Europa, mas atualmente residente no Brasil. Ela é a boneca da menina Rita, sua melhor amiga desde sempre, mas que, por uma dessas coisas inexplicáveis da vida, acabou se perdendo dela.

A história das duas virou até peça de teatro, chamada "Kafka e a Boneca Viajante", em cartaz agora em São Paulo para pessoas acima dos 10 anos. E Brígida, que não só pensa e fala, como também dá entrevista, falou à Folhinha sobre sua vida de boneca, seus desejos e sua admiração pela atriz Alessandra Maestrini.

A boneca Brígida, do espetáculo 'Kafka e a Boneca Viajante' - Flávia Canavarro/Divulgação

Pelo que Brígida conta, dá para imaginar que sua relação com sua menina não é em nada diferente daquela que muitas crianças têm com suas bonecas em casa. Ela, inclusive, conta conhecer Barbie e Emília, por exemplo. "Minha menina sempre se comunica comigo por telepatia. Eu ficaria perdidinha sem ela", falou Brígida na entrevista que você lê a seguir.

Como você e sua menina se perderam?

A gente estava brincando de esconde-esconde. É nossa brincadeira preferida e, por isso, sabemos nos esconder muito bem; até de nós mesmas. Foi isso que aconteceu. Às vezes, a gente se esconde tão bem, que demora a se encontrar de novo…

Como você percebeu que estava perdida?

Rita, a minha menina, sempre ri das minhas piadas e se surpreende com qualquer novidade que aparece pelo caminho. Ela reflete a alegria de cada momento com muito som, luz e movimento!

Quando percebi um silêncio monótono ressoando dentro de mim enquanto o mundo lá fora continuava a girar, acontecer, se emocionar e dar risada, soube na hora que eu havia me perdido da minha menina e precisava reencontrá-la o quanto antes! Senão, quem iria guiar meus passos?

Como sua vida mudou desde esse episódio?

Quando vi que estava perdida, entendi que eu não tinha outra opção senão viajar. E registrar bem registrado tudo que acontecia comigo, tudo que eu descobria e aprendia nessas viagens. Foi aí que resolvi escrever para minha menina com detalhes, para ela viajar comigo. Assim, sempre estaríamos juntas!

Quais dificuldades você enfrentou?

Eu descobri que não se chega a lugar algum viajando só do lado de fora. É preciso que cada passo seja uma viagem pra dentro e por dentro também. Além de fazer tudo ficar muito mais interessante, a gente se lembra mais fácil de cada aventura e consegue ir beeemmm mais longe do que se esperava! A lugares que jamais imaginávamos chegar, na verdade. É bastante surpreendente.

Não sei se eu chamaria de "dificuldades"… Agora, "desafios", sim, toda viagem que se preza tem desafios de sobra! Eu os enfrento e depois os celebro.

Brígida e sua menina - Vitoria Proença/Divulgação

Você sentia saudades da sua menina?

Muitas! Minha menina me guia, tem os olhos tão limpinhos diante da vida. Ela é tão cheia de força; sabe muito bem quem é e o que quer. Ainda bem que nos reconectamos para sempre agora que ela já sabe viajar comigo. Eu ficaria perdidinha de vez sem ela.

Você recebia notícias da sua menina por algum meio?

Minha menina sempre se comunica comigo por telepatia e pelas escolhas que faz. Quando eu estava perdida, escrevia para ela cartas de cada lugar do mundo que eu visitava e contava a ela cada nova aventura que eu vivia.

Senhor K, o carteiro de bonecas, entregava minhas mensagens a Rita, minha menina. Sua resposta a cada uma dessas cartas (uma espécie de diário meu de novidades, medos e sonhos) ela continua me enviando a cada escolha que faz. Isso fortalece meu corpinho porque me dá um norte, me dá sentido, sabe? Assim, basta seguir.

Sua história com sua menina é muito antiga e famosa. Como você se sente sendo retratada em espetáculos ao redor do mundo por todo esse tempo?

Ah, eu me sinto muito acarinhada e feliz de poder tocar e transformar a vida das pessoas de um jeito que lhes faça bem. Eu havia ouvido falar de outras bonecas famosas, como a Emília, a Barbie e mesmo a Bozena, que não é bem uma boneca, mas entendi que é uma palhacinha que também entrou para o folclore brasileiro.

Saber que eu, Brígida (ou os inúmeros outros nomes que já me deram), venho conquistando as mentes e corações de todas as idades e culturas por aí, me dá um orgulhozinho, sim, não vou negar. Mas o que me deixa feliz mesmo é saber que minha história ajuda a sonhar e a realizar sonhos, especialmente através do estímulo à leitura, à criatividade, e ao vínculo humano entre as pessoas. Cá entre nós, acho muito mais divertido conversar e brincar ao vivo que através de máquinas. Eu acho mais quentinho, sabe?

Falando um pouco de você, como você imagina que são diferentes as vidas de uma boneca e de uma criança humana?

Uma boneca não existe sem uma criança. Uma criança existe sem uma boneca. Porque a criança, como o próprio nome diz, pode criar o que ela bem entender. Mesmo se ela criar só dentro da cabeça dela, se ela resolver que existe, existe e ponto!

Você conhece outros bonecos e bonecas?

Quando viajei a Londres, na Inglaterra, conheci Gregor, um soldadinho de chumbo por quem me apaixonei. Nossa história é muito linda e um pouquinho triste também. Conto ela na peça.

Os adultos às vezes dizem que os brinquedos, quando a gente sai de casa, se mexem sozinhos e brincam. Tem até um filme com esse assunto. Isso é verdade?

Os donos de cada brinquedo são a alma desses brinquedos. Tudo que eles acreditam sobre o brinquedo existe. Essa é a lei mais importante da brincadeira.

Se você não fosse uma boneca, o que ou quem você gostaria de ser?

Eu gostaria de "ser". Esse, na verdade, é o meu maior sonho. Mas, se eu pudesse ser alguém que já existe, eu gostaria de ser uma cantora e comediante como a Alessandra Maestrini. Sempre que eu a vejo, a criança dela ri pra mim.

Isso me alegra e acalma também, porque sei que é um convite não só para a minha menina, mas para que todas as crianças do mundo sigam rindo, sonhando, cantando, lendo, escrevendo, criando, brincando, se abraçando e dançando juntas. Celebrarmos juntos a identidade genuína e única de cada criança (as de dentro e as de fora) é muito gostoso! E nada, absolutamente nada é uma garantia maior de presente e de futuro seguro e divertido para este planeta do que isto.

Kafka e a Boneca Viajante

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