Relembre outras 4 histórias marcantes de sobrevivência como a dos Andes, que virou filme da Netflix

No mar, na neve e debaixo da terra, tragédias tiveram em comum a esperança e a resistência física dos sobreviventes

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São Paulo

O filme "Sociedade da Neve", que estreou na Netflix no último dia 4, mostra uma superação da vida real: um grupo de passageiros de um avião acidentado passa 72 dias isolado no meio do nada, cercado pela neve e sem perspectivas de voltar para casa. Não é um filme indicado para crianças, mas tem sua importância porque lembra algo muito importante —e também porque é cotado para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Cena do filme 'A Sociedade da Neve', de Juan Antonio Bayona
Cena do filme 'A Sociedade da Neve', de Juan Antonio Bayona - Divulgação

Além da história dos sobreviventes do Voo Força Aérea Uruguaia 571, a Folhinha apresenta outros quatro episódios surpreendentes de sobrevivência. Todos têm em comum a esperança dos envolvidos e a admirável capacidade do corpo humano de se adaptar a situações desfavoráveis.

Mineiros do Chile

Mineiros são pessoas que trabalham extraindo da terra coisas como carvão e pedras preciosas. É um trabalho perigoso, porque as minas —local de trabalho dos mineiros— expõem os profissionais a condições desagradáveis (calor, escuridão etc), além de estarem sempre sob o risco de desabar.

Pois foi um desmoronamento que marcou um dos episódios de sobrevivência mais impressionantes da história recente. Em 5 de agosto de 2010, a mina San José, no deserto do Atacama, Chile, deixou 33 homens presos a 600 metros da superfície.

ORG XMIT: 445601_1.tif O mineiro chileno, Claudio Yañes, abraça sua namorada, Cristina Nunes, ao sair da cápsula que o resgatou da mina San José, em Copiapó (Chile). Ele ficou preso por dez semanas com outros 32 mineiros - AFP PHOTO/ MARTIN BERNETTI

Depois de 17 dias sem nenhum contato com o mundo externo, uma sonda com uma câmera conseguiu chegar ao fundo da mina e ver que todos os mineiros estavam vivos. Eles enviam um bilhete que fica famoso, em que se lê "Estamos bien en el refugio los 33" ("Estamos bem no refúgio, os 33", em tradução livre).

Resgatar os mineiros não seria tarefa fácil, afinal eles estavam sob milhares de toneladas de pedra, cobre e terra. No dia 9 de outubro, pouco mais de dois meses depois do desabamento, equipes concluíram a perfuração de um túnel de 625 metros de profundidade e 66 centímetros de diâmetro para chegar aos mineiros.

Três dias depois –e 69 dias após o acidente– começou o resgate. Dois médicos e dois socorristas foram baixados pelo túnel dentro de uma cápsula até o fundo da mina, para ajudar os mineiros no resgate. Eles foram içados à superfície em viagens individuais, puxados por um guindaste. Todo o processo durou 22h36, entre 12 e 13 de outubro de 2010.

Crianças na caverna

Um time de futebol formado por crianças e jovens entre 11 e 16 anos decidiu explorar cavernas em um sábado de sol na Tailândia. Eram 12 meninos junto do seu treinador. O grupo entrou num parque em Chiang Rai no dia 23 de junho de 2018. Uma repentina chuva forte fez com que eles buscassem abrigo montanha adentro, sem imaginar que o local ficaria alagado com o aumento do volume das águas. Os 13 acabaram presos por dez dias.

Meninos do time de futebol que ficaram presos em caverna na Tailândia - (Xinhua) (gj)

O primeiro sinal de que eles estavam lá dentro foram as bicicletas, chuteiras e mochilas deixadas na entrada do complexo de cavernas Tham Luang Nang No. Policiais e soldados foram chamados para ajudar, e helicópteros sobrevoaram o local para tentar encontrar outra maneira de se entrar na montanha.

As autoridades tentaram drenar parte da água usando bombas, mas as chuvas que continuavam caindo não ajudavam na operação. O ex-mergulhador da Marinha tailandesa Saman Kunan, de 38 anos, levou suprimentos para o grupo, mas ficou sem oxigênio quando voltava de dentro da caverna e acabou morrendo.

Para que o resgate fosse bem-sucedido, todos os meninos tiveram que aprender noções básicas de mergulho, sendo que alguns deles nem sabiam nadar. No fim, conseguiram ser salvos em segurança, depois de atravessar passagens apertadas e escuras e nadar em águas cheias de barro e com fortes correntes.

O navio Endurance

Um anúncio no jornal convocava interessados em um passeio que parecia pouco animador: "Buscam-se homens para viagem perigosa. Salários baixos, frio extremo, longos meses de completa escuridão, perigo constante, retorno ileso duvidoso. Honras e reconhecimento em caso de sucesso". Publicado em jornais de Londres em 1914, ele conseguiu atrair vários marinheiros, com e sem experiência.

Quem escreveu o anúncio foi o explorador polar britânico Ernest Henry Shackleton, nascido em 1874, que liderou ao longo de sua vida três expedições à Antártida. Em 8 de agosto de 1914, o navio Endurance partiu de um porto no sudoeste da Inglaterra com destino a Buenos Aires, na Argentina, onde terminaria de buscar sua tripulação de 27 homens, mais seu comandante. Zarpou novamente em 5 de dezembro do mesmo ano.

LOCAL E DATA DESCONHECIDA: O explorador irlandês Ernest Shackleton, que liderou três expedições à Antártida no início do século 20 - Divulgação

Em janeiro de 1915, depois de enfrentar uma ventania complicada no mar de Weddell, o Endurance ficou preso no gelo –não havia como ir para frente nem para trás. Os marinheiros e seu capitão tentaram diversas manobras, mas não havia saída. Por dez meses, a tripulação ficou parada no mesmo lugar e teve de enfrentar o mau tempo local.

Em outubro de 1915, a pressão que o gelo fazia ao redor do navio era tamanha que ele começou a ser esmagado, e os marinheiros tiveram que abandoná-lo (ele afundaria definitivamente em 21 de novembro). Sem ter onde ficar, os 28 homens acamparam no gelo, sem perspectiva de sair dali tão cedo.

Em abril de 1916, a tripulação se enfiou em três botes salva-vidas e conseguiu chegar à Ilha Elefante, um ponto do planeta sem habitantes. Todos sobreviveram. Dali, Shackleton e outros cinco homens partiram para a Geórgia do Sul, ilha do território britânico, onde organizariam uma forma de resgatar os demais. Seria preciso percorrer mais de mil quilômetros para isso.

Durante o período de provações, a tripulação do Endurance sobreviveu comendo focas e pinguins, até finalmente ser resgatada por um quebra-gelo da Marinha do Chile, sendo depois levada para Punta Arenas, na Patagônia.

Shackleton morreu em 5 de janeiro de 1922 de ataque cardíaco. O Endurance, afundado em 1915, foi finalmente encontrado no fundo do mar de Weddel, na Antártida, em 9 de março de 2022.

Pais e filhos à deriva

Dougal Robertson e sua esposa Lyn tinham quatro filhos e adoravam o mar. Juntaram dinheiro e compraram uma escuna, um tipo de barco de madeira com 13 metros de comprimento. Saíram todos, então, para uma expedição que duraria meses pelo Oceano Atlântico.

Depois que a filha mais velha, Anne, então com 18 anos, partiu para terra firme onde procuraria emprego, o barco ficou com o casal e os três filhos mais novos. Enquanto navegavam pelo canal do Panamá, deram carona para um rapaz que, se dizendo experiente na navegação, pediu para guiar o barco.

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Imagem do filme 'Surviving the Savage Sea', inspirado na história da família Robertson - Reprodução

Um ataque de baleias orca em 15 de junho de 1972, a 320 quilômetros das Ilhas Galápagos, destruiu a embarcação. Por sorte, Dougal conseguiu mover a família para um bote salva-vidas sem grandes ferimentos –eles precisariam, no entanto, dar um jeito de sobreviver no bote à deriva pelos próximos 38 dias.

Não havia comida nem água. Dougal deu um jeito de coletar água da chuva e pescar peixes e tartarugas, com os quais alimentou a família. Depois de mais de um mês navegando apenas com a ajuda de uma vela improvisada, foram avistados por um barco de pesca japonês, que agilizou seu resgate.

Presos nos Andes

Um time de rúgbi do Uruguai embarcou no avião Fairchild da Força Aérea Uruguaia em 13 de outubro de 1972 rumo a Santiago do Chile. Por causa de um erro de rota na travessia da Cordilheira dos Andes, a aeronave colidiu com uma montanha, se partiu em dois e sua parte dianteira aterrissou em um vale a 3,5 mil metros de altitude.

Curz marca o local do acidente nos Andes, com o voo uruguaio em 1972 - AFP

Dentro dele havia 40 passageiros e cinco tripulantes. Apenas 33 sobreviveram ao primeiro impacto. Na primeira noite, cinco pessoas não resistiram ao frio e aos ferimentos. Depois de alguns dias, uma avalanche vitimou mais oito passageiros.

Ao longo de 72 dias, os sobreviventes tiveram que enfrentar temperaturas baixíssimas, falta completa de água e comida, e o medo de não voltar para casa nem ver suas famílias nunca mais. Como as autoridades pararam de buscar pelo avião poucos dias depois do desastre, cabia a eles encontrar uma forma de sair dali com vida.

Quando a "sociedade da neve" formada pelos bravos passageiros já completava mais de dois meses de isolamento, Nando Parrado e Roberto Canessa conseguiram atravessar uma montanha de 4.600 m e, após cerca de dez dias de caminhada, puderam pedir ajuda a um tropeiro chileno.

Helicópteros voltaram então ao local do acidente para resgatar todos, que foram levados a hospitais e tratados de doenças como mal da montanha, queimaduras e desnutrição. Hoje, uma cruz marca o local onde eles lutaram para sobreviver, homenageando as vítimas que infelizmente não puderam resistir à espera por ajuda.

TODO MUNDO LÊ JUNTO
Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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