Descrição de chapéu companhia aérea

Comissários de bordo fazem treinamentos que simulam selva, emergência e até parto

Veja curiosidades sobre o dia a dia dos profissionais que precisam gostar de se dedicar aos outros para seguir na área

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São Paulo

Aos 12 anos, Mari viajou de São Paulo para Santa Catarina junto com o pai e o irmão. Era sua primeira vez em um avião, e aquele voo marcaria a vida de Mari para sempre. Além das comidinhas servidas a todos os passageiros, ela também recebeu das comissárias de bordo uma caixinha exclusiva com coisas para brincar.

Mariani Lazari, comissária da Latam, que decidiu aos 12 anos que queria ter essa profissão - Danilo Verpa/Folhapress

As coisas, no entanto, não tinham sido separadas pela companhia aérea, mas sim pelas próprias comissárias, que pegaram itens pessoais para dar àquela menina curiosa. "Eu fui tão bem tratada, elas foram tão lúdicas e acolhedoras, que eu falei para o meu pai: 'Eu quero ser isso também, eu quero cuidar de gente!'", lembra Mari.

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A comissária Mariani Lazari (blusa branca, à frente), aos 12 anos, em sua primeira viagem de avião - Arquivo Pessoal

Menos de 10 anos depois, Mariani Lazari realizou o sonho e se tornou uma comissária de bordo. Profissionais como ela são responsáveis pelo conforto e segurança de todas as pessoas dentro de um avião, e para isso precisam passar por vários treinamentos. Hoje, Mari é chefe de cabine internacional e trabalha no centro de treinamento de novos comissários da Latam, em São Paulo.

Ítalo Ângelo Almeida de Souza, de 22 anos, teve uma experiência parecida com a de Mari também quando era criança, na primeira vez em que andava de avião. "Eu me encantei com a elegância e profissionalismo dos comissários de bordo que vi desfilando pelo aeroporto. Escolhi ser comissário pela oportunidade de unir minha paixão por viajar com a vontade de contribuir positivamente para a jornada das pessoas", afirma.

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Ítalo Ângelo Almeida de Souza, 22 anos, comissário de voo na Azul Linhas Aéreas - Divulgação

Nascido em Minas Gerais, ele hoje é comissário de voo na Azul Linhas Aéreas, e ganhou da companhia uma bolsa para estudar para ser piloto. "Para quem deseja seguir a carreira de comissário, minha dica é se dedicar com afinco, disciplina e comprometimento aos estudos e ao treinamento", diz Ítalo.

"Além disso, é fundamental cultivar o respeito, a empatia e a dedicação ao próximo, pois ser comissário de bordo vai além de servir bebidas e refeições. Temos que garantir uma experiência de voo memorável e tranquila para todos."

Entre os treinamentos a que todos os comissários devem se submeter está um feito antes de eles se juntarem a uma companhia aérea: é o treinamento na selva. A ideia é preparar os profissionais para atuar em um pouso de emergência que aconteça fora do aeroporto, em uma região isolada.

"Nele, a gente aprende a fazer todas as coisas para sobreviver com o máximo de segurança possível. Tem que aprender a sinalizar, para quando alguém te avistar, tem que aprender a fazer abrigo, para você ficar protegido no tempo em que ficar lá. Fazer fogueira com fumaça branca ou preta, saber purificar água, saber fazer latrina [buraco no chão para ser usado como banheiro] e reconhecer quais alimentos podem ser ingeridos", enumera Mari, da Latam.

O treinamento de primeiros socorros é um dos mais difíceis, na opinião do comissário Ítalo, da Azul. "Precisamos estar preparados para lidar com qualquer eventualidade, desde situações médicas até emergências durante o voo", afirma.

A Folhinha visitou o centro de treinamento de comissários da Latam, e lá Mari se animou a mostrar uma boneca com que os futuros comissários aprendem a lidar com mulheres que, por algum motivo, entrem em trabalho de parto durante o voo –ou seja, precisem ter um neném dentro do avião.

"Vem ver, vem ver! Ela tem uma bebezinha, gente!", chamava Mari. "A gente aprende a ajudar no parto, cuidar do cordão umbilical, depois higienizar o bebê e esperar pela saída da placenta. Daí guardamos tudo num lugar com gelo."

Não posso dizer que ela [a comida dos comissários] seja mais gostosa, mas sim que ela é uma comida mais como a de casa. A gente fica no avião o tempo inteiro, então, se eu não tiver uma comida mais nutritiva, vou acabar enfraquecendo ao longo do tempo

Mari Lazari

comissária de bordo

Comissários de bordo passam muitos dias fora de casa, como dá para imaginar. A escala (que é como se chama a programação de dias de trabalho e de folga) varia de companhia para companhia, mas no geral indica que os profissionais tenham dez dias em casa e 20 voando.

Quando estão em serviço, eles até podem comer a mesma comida que é servida para os passageiros, caso sobre uma bandejinha, mas recebem também marmitas especiais. "Não posso dizer que ela seja mais gostosa, mas sim que ela é uma comida mais como a de casa. A gente fica no avião o tempo inteiro, então, se eu não tiver uma comida mais nutritiva, vou acabar enfraquecendo ao longo do tempo", explica Mari.

Nas viagens mais longas, eles têm um lugar secreto para dormir. "Tem aviões com até oito camas para os comissários. É um lugar escondidinho. Mas a gente não dorme o voo inteiro, é só um período entre um serviço e outro, que é pra gente estar superatento e descansado para trabalhar."

Antigamente, havia um padrão estético que os comissários —e principalmente as comissárias— deviam seguir, mas hoje é comum ver profissionais com todos os estilos encontrando espaço e sendo respeitados. Mari conta que dá para ter vários cortes de cabelo diferentes, tatuagens, e que a única exigência é estar sempre com a higiene em dia.

"A rigidez ficou no passado. Você pode ter o seu estilo, desde que ele não coloque em risco a sua segurança. Por exemplo, um brinco muito comprido pode enganchar em algum lugar e machucar sua orelha, unhas muito compridas podem machucar alguém, e cabelos soltos podem cair na comida."

Everton Rocha, comissário de voo e instrutor de treinamentos da Latam Brasil, afirma que, para ser comissário de bordo, é preciso ter 18 anos e ensino médio completo, formação no curso de comissário de voo com aprovação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e CMA (Certificado Médico Aeronáutico) válido.

"Após a seleção e a contratação, o comissário passará por todos os treinamentos regulatórios da ANAC, considerando a aeronave que irá trabalhar e suas características. Também irá passar por treinamentos de procedimentos de emergência, serviços específicos para atendimento ao cliente, serviço de bordo, entre outros."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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