Pintinhos e peixes eram lembrancinha nos anos 1980, e adultos não viam problema nisso

Dados em festas de aniversário, eles podiam ter desfecho triste; hábito diminuiu porque hoje vemos animais de outra forma

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Pintinhos em caixa de papelão poco_bw / adobe stock

São Paulo

Imagine abrir a caixinha colorida que entregam na saída da festa de aniversário e lá dentro encontrar não um doce nem um brinquedo, mas um pintinho confuso, ou um saquinho plástico cheio de água com um peixinho nadando nela. Pois isso acontecia bastante nos anos 1980, quando os adultos preparavam lembrancinhas com animais e não viam problema nisso.

"A relação que criamos com os animais mudou muito nos últimos anos. Antigamente, não compreendíamos que animais como pintinhos e peixinhos também têm emoções e sentimentos, e não nos preocupávamos tanto com o que eles poderiam estar sentindo, ou com a vida que eles teriam após serem entregues como prendas", diz Marina Meireles, médica veterinária comportamentalista do Nouvet, centro veterinário de nível hospitalar em São Paulo.

Peixe em saquinho com água - Kolevski.V / adobe stock

A questão principal é que aqueles bichinhos dados de presente não tinham sido adotados a partir de uma decisão responsável da família, como deve sempre ser. Daí acabava que as crianças e seus pais e mães chegavam em casa e não sabiam o que fazer com o animal —e, muitas vezes, o desfecho era bem triste, porque eles acabavam morrendo.

Se os peixes não fossem colocados em um aquário, por exemplo, e deixados no saquinho em que tinham sido entregues, teriam uma expectativa de vida baixa, de no máximo uma semana, diz Marina. "Como eles fazem as necessidades na água, ela vai ficando suja e com componentes tóxicos para eles, causando doenças", afirma.

Os pintinhos, por sua vez, eram tirados das caixinhas em que vinham e colocados muitas vezes na cozinha de um apartamento, onde não há os elementos de que eles precisam para ser felizes e saudáveis.

Pintinhos precisam de espaço e grama para ciscar e crescer felizes e saudáveis - Evgeniy Kalinovskiy/adobe stock

"Pintinhos adoram ciscar. Um pintinho feliz vive num ambiente com água fresca, grama e uma dieta bem variada, possibilitando que ele cisque, ou seja, busque na terra o melhor alimento para ele", diz a veterinária.

"Um apartamento não dá aos pintinhos e galinhas a possibilidade de ciscar, pisar na grama ou caçar insetos. Esses animais gostam de viver em lugares abertos, com terra, plantas e bastante espaço."

Nunca é demais lembrar que pintinhos crescem e viram galos ou galinhas quando adultos (é difícil determinar se um pintinho é macho ou fêmea quando são muito novos, ensina a veterinária Marina). Então, se o pintinho-lembrancinha sobrevivesse, logo se tornaria um animal grande e com necessidades importantes.

"As galinhas adultas, como os pintinhos, gostam muito de ciscar, pisar na grama e caçar insetos, como minhocas e besouros. Elas também precisam de um lugar seguro para botar seus ovos e chocá-los", afirma Mariana.

Ou seja, criar um bicho desses na cidade grande não é tarefa fácil. Ainda bem que esse costume foi se perdendo com o tempo no Brasil.

Nosso país é um dos signatários (ou seja, um dos que assinaram) da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, uma proposta de 1978 da ONU (Organização das Nações Unidas) que diz que os animais devem ser protegidos pelo homem, e não ser colocados em situações degradantes ou humilhantes.

Em 2015, uma família de Minas Gerais foi muito criticada por, como nos anos 1980, entregar pintinhos vivos em caixinhas de madeira como lembrancinha de uma festa de aniversário. Advogados na época citaram a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, e casos assim não voltaram a se repetir publicamente.

Marina diz que, diferentemente dos pintinhos, galos e galinhas, os peixes são animais de estimação adequados a famílias que moram em apartamentos, desde que essa seja uma decisão de todos, tomada com responsabilidade.

"Se o aquário for de tamanho adequado, tiver esconderijos, estímulos como plantas e pedrinhas, se for limpo regularmente e a água estiver na melhor temperatura para a espécie do peixinho, ele pode viver vários anos. Antigamente, por serem criados em aquários pequenos e sem a manutenção adequada, eles possuíam um tempo de vida mais curto", afirma a veterinária.

Cada espécie tem suas preferências alimentares, e há rações adequadas vendidas em lojas de animais. "Alguns peixes gostam muito de vegetais, como brócolis, e outros preferem comer pequenos peixes e crustáceos. O mais importante é conhecer a espécie do peixinho e saber sobre seus hábitos e preferências alimentares", ensina Marina.

Os peixes betta, por exemplo, que já foram prendas bem populares, têm origem nos rios da Ásia, são muito inteligentes e, ao contrário do que muita gente pensa, gostam de aquários grandes. "Nada de 'beteiras!'", diz Marina, sobre aqueles aquários minúsculos frequentemente indicados para os betta.

"Eles precisam de um ambiente parecido com aquele do qual vieram, com plantas, pedras e locais para se esconder e descansar."

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