Descrição de chapéu literatura infantojuvenil

Como é a Feira do Livro Infantil de Bolonha, onde crianças não podem entrar

Evento é o principal encontro da literatura infantojuvenil do mundo e exibe obras que só vão ser lançadas no Brasil no futuro

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Bolonha (Itália)

Vai parecer mentira o que vou dizer. Mas a cidade de Bolonha, que fica no norte da Itália, recebe todos os anos a principal feira de livros para crianças do mundo. Por lá, sempre aparecem milhões de histórias e centenas de escritores, ilustradores, editores e tendências da literatura infantil. E adivinha quem não pode entrar? Justamente as crianças.

Visitantes (adultos) na Feira do Livro Infantil de Bolonha, na Itália - Divulgação

É meio esquisito, mas os organizadores dizem que isso acontece porque a Feira do Livro Infantil de Bolonha é um pouco diferente dos eventos mais famosos do Brasil, como a Bienal do Livro de São Paulo ou do Rio de Janeiro. A programação não é pensada para atrair os leitores, mas para que autores e profissionais das editoras conheçam o que de mais legal está sendo produzido em diferentes partes do mundo.

A edição deste ano acabou faz poucos dias, na quinta-feira, dia 11. E parece uma feira mesmo. Mas, em vez de pastel ou frutas, as editoras anunciam e exibem os seus principais lançamentos do ano.

Funciona assim: se algum editor internacional se interessar por alguma coisa e as negociações derem certo, a história pode ser comprada. Aí, depois, ela é traduzida e publicada mais tarde em outro país.

Ou seja, caminhar pelos cinco pavilhões do evento é mais ou menos como entrar numa máquina do tempo. Alguns dos livros expostos em Bolonha só vão chegar às livrarias brasileiras mais para frente, no futuro, talvez daqui a um ou dois anos.

Como as crianças não entram na feira, a Folhinha visitou o evento, espiou os quase 1.500 exibidores de cem países e conversou com escritores, ilustradores e editores para contar o que de mais interessante está sendo publicado e pode aparecer no Brasil.

"Fiquei impressionada com os lançamentos da Ásia, principalmente os da China e da Coreia do Sul, que a gente não conhece tanto", diz a ilustradora Irena Freitas, que visitou Bolonha pela primeira vez.

As imagens do seu livro "São Paulo", feito em parceria com o colunista da Folha Mauro Calliari e editado pela Barbatana, foram selecionadas para a Mostra de Ilustradores do evento, uma das principais exposições de ilustração do mundo.

Agora, ela deve lançar uma nova obra pela mesma editora, prevista ainda para este primeiro semestre, na qual aborda o universo das festas juninas.

Outra edição que vai chegar às livrarias do Brasil neste ano, mas só no segundo semestre, é o novo livro da peruana Issa Watanabe. Ela é autora do premiado "Migrantes", que chegou ao país numa parceria entre o Instituto Emília e a Solisluna.

Agora, ambas vão publicar "Kintsugi", uma narrativa sem palavras sobre uma personagem que vê tudo se quebrar e mergulha fundo em sentimentos difíceis. O livro saiu na Argentina e ganhou o prêmio de melhor obra de ficção deste ano na Itália.

Mas ele é exceção. Outros premiados que fizeram sucesso no evento ainda não têm previsão de lançamento no Brasil. É o caso de "Bambini Nascoti" ("crianças escondidas", em italiano), de Franco Matticchio, que faz um esconde-esconde com meninos e meninas pela páginas e faz uma pergunta inquieta: será que os adultos enxergam mesmo as crianças no dia a dia?

Já "Myko", dos autores tchecos Jiří Dvořák e Daniela Olejníková, conta tudo sobre fungos e cogumelos.

Um dos mais divertidos é "Ko Darīt, Ja Esi Kails Pilsētā" (esse nome diferente está em letão, mas quer dizer "o que fazer se você estiver pelado na cidade").

E é isso mesmo o que está pensando —o livro de Aleksandra Runde ensina 23 táticas para usar caso você fique sem roupas em público. Entre as dicas, a autora sugere fazer um protesto na praça ou cavalgar durante o pôr do sol.

"Essas negociações para lançar no Brasil costumam demorar um pouco mesmo", explica Sevani Matos, presidente da CBL, sigla da Câmara Brasileira do Livro, que ajuda a organizar o estande do Brasil em Bolonha.

Mas isso não quer dizer que Bolonha seja só um grande feirão. "É uma festa, onde vemos os amigos, encontramos pessoalmente autores que não conhecíamos, trocamos ideias", conta a ilustradora iraniana Fereshteh Najafi, que vive atualmente em Curitiba, no Paraná.

As imagens de seu livro "Memória de Elefante", feito com Paula de Santis e no catálogo da editora Ôzé, também foram selecionadas para a Mostra de Ilustradores. Em breve, ela publicará "O Invasor" pela Boitatá, que tem texto de Daniel Cabral. As ilustrações também foram exibidas em Bolonha, numa exposição organizada pelos brasileiros do Prêmio Filex.

Se você estiver pensando em ir à Bienal do Livro de São Paulo deste ano ou na do Rio de Janeiro do ano que vem, vale anotar alguns desses nomes. Vai que encontra essas edições por lá. Aí é só dizer que já conhece as histórias, mesmo que elas tenham acabado de sair do forno.

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