Descrição de chapéu Tiradentes

Tiradentes era um dentista preocupado com pacientes e cuidava do conforto deles

Numa época em que extrações eram frequentes, Joaquim José da Silva Xavier era profissional 'diferenciado', diz especialista

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São Paulo

Joaquim José da Silva Xavier teve várias profissões ao longo dos seus pouco mais de 40 anos de vida. Ele foi minerador, mercador ambulante, condutor de animais que transportam mercadorias, militar e dentista. Esta última ocupação foi a que rendeu a Joaquim o apelido com o qual ele entraria para a História: Tiradentes.

Na época em que ele viveu, entre 1746 e 1792, os dentistas "tiravam" muitos dentes. "Não existiam métodos adequados de diagnóstico e tratamentos de problemas de saúde bucal. Na verdade, ainda não existia a odontologia como uma ciência. O que havia era o chamado ‘dentista prático’ que, para ‘resolver’ a dor de dente, acabava realizando as extrações", conta Letícia Mello Bezinelli, coordenadora da graduação em odontologia do Hospital Israelita Albert Einstein.

Menina sorrindo na cadeira do dentista - IEGOR LIASHENKO / adobe stock

Mas, enquanto a maioria desses profissionais saía arrancando os dentes das pessoas, Letícia afirma que Tiradentes trabalhava de um jeito diferente. "Ele parecia ter uma preocupação com a estética, função e até tentativas de proporcionar mais conforto para as pessoas", diz.

"Ele tentava utilizar plantas nos tratamentos, se preocupava em tentar esculpir um dente, provavelmente em marfim ou osso de boi. Enfim, dentre as possibilidades, ele era um profissional diferenciado."

É importante lembrar, no entanto, que ainda não existia anestesia para cirurgias naqueles tempos. É por isso, inclusive, que existe a ideia de que sentar na cadeira do dentista significa necessariamente sentir dor.

Retrato de Tiradentes. Na imagem, um homem branco de barba e cabelos longos, pretos, olha fixamente para o lado. Há uma corda em volta de seu pescoço.
Retrato de Tiradentes feito por Oscar Pereira da Silva, em 1922 - Acervo do Museu Paulista da USP

Letícia diz que a odontologia hoje é beeem diferente, e que existe até anestesia eletrônica. Além de entenderem e conhecerem melhor a importância da saúde da boca, os dentistas modernos também têm acesso a vários instrumentos sofisticados, como brocas de alta velocidade (o popular "motorzinho"), lasers, microscópios e sistemas digitais de raios-X.

"A maioria dos procedimentos odontológicos não gera dor. Por exemplo, com scanner intraoral não precisamos mais fazer moldagens com aquela ‘massinha’ que a maioria das pessoas não gosta", afirma Letícia.

E a história de "tirar" dentes, como será que funciona hoje em dia? A coordenadora conta que o avanço científico da odontologia nos últimos anos ajuda a fazer com que as extrações sejam mais raras, inclusive porque os problemas de saúde bucal são descobertos e tratados bem antes do que eram antigamente.

"De qualquer forma, ainda temos muitas extrações dentárias por cáries extensas com grande destruição e doenças periodontais [quando são atingidas as estruturas que sustentam os dentes]", diz Letícia.

Se alguém perde um dente, seja por um acidente ou porque ele precisou ser extraído, não é preciso ficar banguela para sempre, como já foi a realidade no passado. Os dentistas conseguem fazer implantes de dentes "de mentira", e a vida volta ao normal logo em seguida.

Segundo Letícia, ficar sem um dente não é recomendado porque pode surgir uma série de problemas por conta desse "buraco" deixado no lugar. A mastigação fica difícil, a fala muda, e até mesmo o rosto fica com aparência mais envelhecida.

"Atualmente nós trabalhamos para preservar os dentes o máximo possível. E vale um alerta: o Brasil é um dos países do mundo com maior número de desdentados. Essa é uma realidade que a odontologia brasileira precisa modificar", diz Letícia.

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