"Distrito 9" mistura ficção científica com 'favela movie' na África do Sul
Pobres, favelados e meio enferrujados. Assim vivem os alienígenas de "Distrito 9", filme rodado entre barracos de Soweto, Johannesburgo. É a estreia do diretor sul-africano Neill Blomkamp e também do ator principal, Sharlto Copley, amigos de infância.
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O resultado foi o filme-sensação do verão norte-americano. Feito com US$ 30 milhões, se pagou com três dias em cartaz. E, quando caiu na internet, neste mês, ultrapassou 1 milhão de downloads em 24 horas. No Brasil, estreia em 16/10.
Copley faz Wikus, um agente responsável pela retirada dos aliens do distrito nove, um campo de refugiados na cidade sul-africana, criado há 20 anos para receber os visitantes perdidos do espaço. Ao entrar numa palafita, o intrometido Wikus é exposto a uma substância estranha e começa a adoecer. Apenas Christopher, o alienígena-protagonista dono do barraco, poderá ajudá-lo.
"O maior desafio era fazer o público sentir, no começo, uma certa ojeriza pelos aliens, que eles parecessem insetos nojentos, mas, ao longo da história, criar uma empatia por eles", diz à Folha Blomkamp, 30.
O empurrão para o sucesso veio de Peter Jackson, que assina a produção. O diretor de "O Senhor dos Anéis" havia contratado Blomkamp para rodar "Halo", baseado num game, mas o projeto afundou por conflitos entre estúdios, e a dupla resolveu engatar "Distrito 9".
Divulgação | ||
Imagem do filme "Distrito 9", sucesso nas bilheterias, filme mistura alienígenas e refugiados na África do Sul |
"Peter não deu grana, o filme foi financiado. Mas ele fez o filme existir. Caso contrário, não teria Copley, não teria África do Sul. Seria um ator famoso, rodado em Los Angeles e tal. Ele apoiou minhas ideias."
O filme deverá ter sequência. "Nada foi escrito ainda, preciso achar uma boa história", conta o diretor e corroteirista.
Entrevistas de verdade
"Distrito 9" segue no pique de documentário, com a população local narrando as desventuras de ter 2 milhões de ETs como vizinhos. A produção foi acompanhada ainda por pesada campanha publicitária em estilo realista -- cartazes espalhados por cidades americanas pediam para denunciar aliens e mantê-los à distância.
Apesar do tom sinistro de brincadeira, muitas das entrevistas vistas no filme são bem reais e falam de uma África do Sul que vai além da relação mais óbvia com o apartheid.
Blomkamp entrevistou sul-africanos pobres de Soweto sobre o que eles achavam dos "illegal aliens", que, em inglês, significa tanto "alienígenas ilegais" como "imigrantes ilegais". Como não sabiam do filme, os entrevistados soltavam o verbo contra os zimbabuanos que passaram a imigrar em massa para a África do Sul nos últimos dez anos, fugidos da ditadura de Robert Mugabe e povoando as favelas do país vizinho.
"São negros pobres atacando negros pobres. Havia muita violência rolando quando começamos a filmar em 2008, mas não imaginava que as coisas poderiam ficar tão feias", diz o diretor, lembrando de um dia em que sul-africanos mataram cerca de 50 pessoas, a maioria do Zimbábue.
"De repente tudo ficou muito mais sério. Depois daquele dia, eu não faria isso [as entrevistas] de novo, não queria mexer com coisas tão pesadas."
Blomkamp hoje mora em Vancouver, onde estudou cinema e onde foram feitos a maior parte dos efeitos especiais de "Distrito 9". Branco e de classe média alta, ele volta todos os anos à África do Sul, onde cresceu sob o regime de segregação racial e fazia eventualmente trabalhos voluntários nas favelas. "Até 1994 [fim do apartheid], Johannesburgo era uma cidade militarizada, armas em todos os lugares e muita presença da polícia, como esses veículos brancos que fazem patrulha por 'Distrito 9'", disse.
Além de zimbabuanos, os nigerianos também entraram na dança. No filme, eles surgem como selvagens canibais de aliens, embora quem tenha se sentido ofendido sejam os sul-africanos, já que os "nigerianos" são interpretados por atores locais, que falam dialetos negros sul-africanos. "Eles ficaram realmente bravos, e eu entendo, é justo, devia ter mudado alguma coisa."
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