Novo livro de Tony Bellotto traz grandes doses de farsa e sexo
Tony Bellotto decidiu ser músico quando viu uma foto de Jimi Hendrix. Ele ainda não tinha ouvido o guitarrista, mas a aparência dele foi decisiva.
Ao lançar seu oitavo livro, Bellotto também partiu de uma epifania, ao avistar a enorme fila que se desenroscava da Livraria da Travessa, no Rio, onde a escritora Martha Medeiros autografava um livro.
"Fiquei com inveja: queria escrever um livro que fizesse tanto sucesso quanto aquele", diz Bellotto. "Então pensei na história de uma mulher adúltera, que acabou se estendendo para outro assunto que me interessa: a família. Parecem temas populares."
Avener Prado/Folhapress | ||
O escritor e músico Tony Bellotto na sede da editora Companhia das Letras em São Paulo |
A história da mulher adúltera é uma das que comandam o pequeno e fragmentado romance "Machu Picchu". Os leitores vão quebrar a cabeça até descobrir a justificativa do título.
Mas o resto não é nada complicado: "Machu Picchu" é escrito na velocidade da língua moderna, fazendo referências à tecnologia e à cultura pop o tempo todo.
Quem manda mesmo no romance é o humor, na linha Reinaldo Moraes ("Pornopopéia"), de quem Bellotto é amigo e a quem dedica o livro.
Significa grandes doses de farsa e sexo, temperados com um clima de vaudeville que atinge o clímax num jantar avacalhado. "Baixou um Miguel Falabella ali", diz o autor.
Nada disso é estranho aos leitores do guitarrista dos Titãs. Ele começou a publicar em 1995, com o primeiro romance da série Bellini, o detetive que emulava personagens como Nick Adams, de Ernest Hemingway, Arturo Bandini, de John Fante, e Philip Marlowe, de Raymond Chandler -batidos no liquidificador do garoto criado em Assis, interior de São Paulo, que queria ser Hendrix.
O personagem aparece em três livros ("Bellini e a Esfinge", "Bellini e o Demônio" e "Bellini e os Espíritos"). "Mas aí encheu o saco", confessa Bellotto. Porém, fãs do detetive não têm com o que se preocupar --porque um novo livro de Bellini está a caminho.
Em "Machu Picchu", um congestionamento monstro no Rio de Janeiro obriga os personagens (um casal de adúlteros e o filho) a repensar a própria vida. Dead Kennedys, Erik Satie, Rimbaud, James Joyce e Henry Miller são citados no meio desses monólogos alternados.
Bellotto começou a escrever pensando em outra coisa que não a alta literatura. Assim, entrou pela porta dos fundos de um gênero sempre subestimado --o romance policial-- e depois foi afinando os instrumentos.
Escrever, para ele, é uma diversão solitária, diferente da vida que se leva dentro de uma banda, principalmente uma banda como os Titãs, em que todo mundo opina sobre tudo. "Um coletivo é cheio de barulho. Então eu precisava de uma coisa mais silenciosa."
Não quer dizer que o barulho tenha sido expurgado de sua vida: os Titãs estão gravando um disco de inéditas e "Machu Picchu", com suas confissões cabeludas, é um romance engraçado, cheio de som e fúria farsesca.
CADÃO VOLPATO é músico e escritor, autor de "Relógio Sem Sol" (ed. Iluminuras)
MACHU PICCHU
AUTOR Tony Bellotto
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 32 (120 págs.)
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade