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Neste segundo longa do paulista Thiago Luciano —que fez alguns curtas premiados, mas continua sendo mais conhecido como ator de novelas— o paradoxo do título já indica sua única estratégia para chamar a atenção do espectador: o estranhamento.
Mas a onipresença do recurso demonstra sua fragilidade. Começa na trama rarefeita sobre uma pequena cidade afetada por severas mudanças climáticas que vão do calor ao frio extremos –culminando com o cataclismo do desaparecimento do sol–, relato constantemente fragmentado por flashbacks em que se esboça outro drama igualmente difuso, este com pretensões psicológicas, centrado no luto.
O estranhamento segue adiante nas máscaras de oxigênio usadas pelo casal do flashback, formado por Iran (Thiago Luciano) e Lara (Lucy Ramos), na quase muda depressão que toma conta de todos, na atmosfera de mistério constante, na metáfora do marrom-glacê –cuja bizarrice resvala no mais embaraçoso humor involuntário.
E culmina nas maneiras de alguns personagens, especialmente o dono da fábrica de gelo em que Iran trabalha (Caco Ciocler) —cuja caracterização afetada, do aspecto físico aos gestos e discursos empolados, se aproxima do registro cômico, algo certamente não buscado pelo diretor– e sua não menos sibilina secretária (Kadi Moreno).
Nesse contexto, causar estranhamento é atalho para instalar uma maneira poética de falar desses temas complexos. A mesma intenção está por trás da escolha de mostrar o desassossego de Iran em planos silenciosos. Mas o personagem carece de densidade e o trabalho do ator não consegue dar substância àquilo que o roteiro deixou de fazer.
A trilha sonora também obedece aos mesmos desígnios. O diretor usa e abusa das boas músicas compostas por Teco Fuchs para procurar trabalhar atmosferas e emoções que não consegue criar com o roteiro. Faz o mesmo com a bela fotografia de André Besen, que se destaca pelos caprichados enquadramentos.
Poesia não se estabelece com fórmulas, mas com solidez dramática, algo totalmente ausente aqui: não há nada de intrigante, o espectador permanece o tempo todo alheio ao que se passa na tela. O que fica é a imensa e constrangedora defasagem entre pretensão e desempenho.
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